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22/08/2003 - 11h52

Crítica: Tese de Guel Arraes não se sustenta

PEDRO BUTCHER
crítico da Folha

Lisbela adora cinema, mas sua maior diversão é adivinhar o que vai acontecer. Para ela, "a graça não está no que é contado, mas no como". Gosta dos filmes que eram exibidos em capítulos, como seriados, e que sumiram com o advento da TV.

A escolha de Guel Arraes pelo "tipo" de cinefilia de Lisbela pode parecer anacrônica, mas ela o leva à questão central de sua obra: a relação entre cinema e TV.

Guel quer produzir entretenimento popular de qualidade, com humor inteligente e poesia. Na TV, executou esse projeto às últimas consequências e, nos anos 90, decidiu levá-lo para o cinema.

Duas minisséries dirigidas por Guel na TV Globo viraram longas: "O Auto da Compadecida", que fez mais de dois milhões de espectadores, e "Caramuru", que não teve a mesma sorte. "Lisbela e o Prisioneiro", da obra de Osman Lins, é o primeiro que chega à tela grande sem passar pelo crivo da TV; mas foi testado e aprovado em palcos pelo próprio Guel.

E, no entanto, é à linguagem de TV que Guel recorre. Numa sala de cinema antiga, Lisbela (Débora Falabella) faz constantes paralelos entre o que vê e as situações que vive. O que se passa na tela se repete com ela.

Uma das características do entretenimento televisivo é a redundância, que cria códigos que dão ao espectador o conforto do previsível. Em "Lisbela", Guel faz um elogio da redundância, incentivando a repetição de situações. Com isso, acredita sinceramente que a poesia virá. "Lisbela" tenta provar definitivamente sua tese de que TV e cinema são mais próximos do que se imagina.

Guel pode ter razão em vários pontos, mas o cinema exige outro tempo. O filme sofre de "superedição" (a montagem é frenética) e da obrigação de se sublinhar todos os momentos com música. Muito mais bem-sucedido é seu humor, graças a Marco Nanini e André Mattos, impagáveis.

Se queria usar a redundância como exercício de linguagem, Guel criou para seu filme uma armadilha fatal -tornando-o redundante antes de ser bem-humorado e poético. O filme cansa. A direção, afobada, não se permite respiração e algum silêncio e, com isso, os detalhes se perdem.

Cinema e TV são irmãos que podem e devem viver uma saudável promiscuidade. Mas, definitivamente, não são a mesma coisa.

Avaliação:

Lisbela e o Prisioneiro
Produção: Brasil, 2003
Direção: Guel Arraes
Com: Selton Mello, Débora Falabella, Virginia Cavendish, Marco Nanini
Onde: nos cines Anália Franco, Bristol, Center Norte, SP Market e circuito
 

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