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25/08/2003 - 05h05

Roteirista transforma heróis das HQs da Marvel em celebridades de "reality show"

DIEGO ASSIS
da Folha de S.Paulo

"Vamos quebrar a lei." Publicada logo na primeira página da 116ª edição de "X-Force", a sentença dava aos fãs ardorosos da Marvel Comics a dica do que viria pela frente na estréia do roteirista inglês Peter Milligan na revista, uma das subfranquias de "X-Men".

Dito e feito. Imagine que todos os heróis antigos, em um instante, desaparecessem, para dar lugar a um grupo de personagens não apenas desconhecidos, mas desajustados e vaidosos. Imagine que a maioria desses mesmos (anti)heróis não durasse mais do que uma edição, e, a cada nova, um outro personagem fosse acrescentado à trama. Agora imagine a cara dos leitores.

"Eu deveria odiar tudo isso. Deveria odiá-los. Eu tinha acabado de me acostumar com o novo "X-Force" (...), e agora eles vão e mudam a coisa toda (...). Se fosse só isso, eu até poderia perdoá-los, mas fizeram o imperdoável: acabaram de matar a melhor [personagem] deles." Quem escreve é o próprio Milligan, na edição 130 de "X-Force", oficialmente "X-Statix" nº 1, publicada em outubro no Brasil --com um ano de atraso em relação aos EUA.

Pressionado por todos os lados para mudar o nome da revista --os fãs mandavam cartas malhando a "reformulação", e a Marvel travava disputa financeira com os antigos criadores de "X-Force"-, Milligan virou o jogo a seu favor: "O que eu tento fazer com o quadrinho é refletir o que está acontecendo na realidade. E, na realidade, alguém na Marvel disse: "Este livro não tem relação nenhuma com o "X-Force" antigo, mas, para chamarmos assim, temos de pagar uma certa quantia em dólares todo mês". Então mudamos, para não pagar", disse o autor em entrevista por telefone.

E foi uma mudança cinematográfica. Ambientada em uma espécie de "reality show" em quadrinhos, em que os heróis são verdadeiras celebridades --com problemas de celebridade, como alcoolismo, uso de antidepressivos, falta de privacidade etc.--, a publicação incorporou ao roteiro a discussão de qual seria o novo nome do grupo. Com as respectivas consequências de imagem e de marketing dos produtos relacionados aos personagens, no mundo da HQ e também no real.

"Acho que esse quadrinho é perfeito para o momento atual. Ele diz muito sobre a cultura em que vivemos, explorando as celebridades e a obsessão por elas. O que você faz, como você cria a sua imagem e como você se torna essa imagem", afirmou.

Xingado pelos fãs antigos da revista, o inglês rebate: "O Axel [Alonso, editor da Marvel] sempre me disse que recebe muitas cartas de pessoas afirmando que realmente gostaram das mudanças, mas continuamos publicando as das pessoas que não gostaram porque são as mais engraçadas. Elas dizem: "Tragam de volta o [personagem] Cannonball'", diverte-se. "E, para dizer a verdade, estou até pensando em fazê-lo, por alguns episódios."

Não satisfeito com a polêmica, Milligan segue provocando outras. A mais recente quando tentou retratar a princesa Diana (1961-97) em um arco de histórias que levaria o título "Di another Day", trocadilho com o nome da princesa e o filme de James Bond "Die Another Day" ("Um Novo Dia para Morrer"). No gibi, a princesa seria transformada em uma morta-viva com poderes mutantes. Resultado: censura.

"O que tento fazer é mencionar que esse personagem de quadrinho existe em um mundo que a gente reconhece, claro que numa versão mais estranha", reforça o roteirista, que, em edições anteriores, já havia "brincado" com Fidel Castro e George W. Bush.

"Fica difícil entrar em detalhes sobre isso [o episódio com Di], porque algumas pessoas tiveram problemas. O que tentamos fazer foi deixá-las felizes, sem perder o cerne da história", justifica Milligan, que, depois de uma série de discussões na imprensa inglesa e dentro da própria Marvel, achou mais prudente reformular a trama, sem Diana.

Conhecido por suas HQs adultas lançadas nos anos 90 pelo selo Vertigo, o inglês conta que teve de fazer alguns "ajustes" para caber em "X-Force". "É verdade que eu tive que me adaptar, mas a Marvel Comics também teve que se adaptar a mim." E a primeira "adaptação" foi retirar da revista o selo "Aprovado pelo Código de Quadrinhos", que tradicionalmente acompanha as publicações infanto-juvenis da editora.

X-MEN EXTRA. Publicação mensal da editora Panini que inclui "X-Force"/"X-Statix". Quanto: R$ 6 (100 págs.).
 

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