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27/08/2003
-
16h30
da France Presse, em Veneza
Famoso e reservado, o diretor de cinema norte-americano Woody Allen foi recebido com calorosos aplausos hoje, em Veneza, onde assiste pela primeira vez à Mostra de Cinema, cuja 60ª edição estreou com seu novo filme, "Anything Else".
A comédia, um retrato cínico de dois talentosos judeus de diferentes gerações que escrevem roteiros humorísticos, foi escrita, dirigida e protagonizada por Allen e recebida com aplausos pela crítica horas antes de sua estréia oficial.
"É uma metáfora sobre a falta de esperança, de como a vida é inescrutável porque é impossível catalogá-la", disse o cineasta em entrevista coletiva durante a qual falou de Israel, da tensão "palpável" que se sente em Nova York depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 e da candidatura do ator Arnold Schwarzenegger ao governo da Califórnia.
"[Schwarzenegger] é um homem bom, mas não sei se será capaz de governar a Califórnia, que tem muitos problemas", disse.
Allen sempre inventou desculpas para não assistir pessoalmente ao festival de cinema, onde tradicionalmente lança a cada ano seu novo longa-metragem, mas admitiu que desta vez se sentiu obrigado com o público europeu.
"Acho que é um dever para mim agradecer o apoio que o público italiano e francês sempre deu aos meus filmes", disse o diretor, que chegou ao Lido acompanhado da jovem esposa, Soon Yi, seus dois filhos, a irmã Letty Aranson e vários assistentes.
Woody Allen prometeu estar presente ao jantar em sua homenagem para 800 pessoas, organizado na sofisticada praia do Westin Excelsior. Com ele, vieram as estrelas que protagonizam seu filme: Jason Biggs, famoso por "American Pie", e Christina Ricci, a menina Wednesday do longa "Família Adams", no papel de uma atriz sedutora e neurótica.
"Não, não cito no meu filme o meu sucessor e o co-protagonista não é meu alter ego", disse Woody Allen, que combina em sua nova comédia piadas, psicanálise, antisemitismo e ironia.
O filme, que por alguns aspectos e piadas lembra seus maiores sucessos, como "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (Annie Hall) e "Memórias" (Stardust Memories), narra uma complexa e impossível história de amor ambientada na Nova York atual.
Loucamente apaixonado por Amanda, Jerry Falk (Jason Biggs) aspira a se tornar um famoso escritor, sem por isso abandonar as sessões de psicanálise nem os conselhos de seu ídolo, David Dobel (Allen), veterano escritor de comédias brilhantes.
Como o jovem Allen dos anos 60, Jerry é tímido, inseguro, se deixa manipular pela exuberante Amanda e pelo cínico Dobel, homem desiludido que o convence a comprar um fuzil de combate e um kit de sobrevivência na selva como forma de defesa.
"Está esperando os nazistas ou um apagão?", pergunta-lhe, incrédulo, Falk, confuso diante da dupla moral de seu mestre, vingativo, disposto a responder com violência à violência do mundo e, ao mesmo tempo, bom e culto.
"Meu personagem representa alguém paranóico com as tensões que afetam o mundo", afirma Allen, que admitiu que as contradições de Dobel podem ser interpretadas como uma metáfora do que acontece em Israel.
"[É] um país maravilhoso, mas que tem sido perseguido, atacado sem trégua, que responde de maneira não justa, fechando-se em si mesmo e agredindo", analisa.
Temperando sua comédia com piadas e citações, Allen diverte com sua auto-ironia e seu senso de humor:
"[Eu] te traí, mas só por razões terapêuticas, por ti. Queria saber se conseguia ter um orgasmo múltiplo", diz Amanda num momento do filme.
Com a chegada de Allen, cujo filme é exibido em seção "hors-concours", começou o desfile de estrelas, entre elas o sedutor Johnny Depp, agente da CIA no filme do mexicano Robert Rodríguez "Erase una vez México" e o carismático Anthony Hopkins, protagonista de "The Human Stain", de Robert Benton.
Um total de 20 longas-metragens estão na disputa pelo Leão de Ouro na seção oficial e 18 pelo Prêmio San Marco da Seção "Contracorrente", além dos lançamentos "hors-concours" de uma dezena de filmes, entre eles os filmes recém-saídos do forno de Bernardo Bertolucci, dos irmãos Coen, de James Ivory e Ridley Scott.
Woody Allen tem recepção calorosa em Veneza
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Famoso e reservado, o diretor de cinema norte-americano Woody Allen foi recebido com calorosos aplausos hoje, em Veneza, onde assiste pela primeira vez à Mostra de Cinema, cuja 60ª edição estreou com seu novo filme, "Anything Else".
A comédia, um retrato cínico de dois talentosos judeus de diferentes gerações que escrevem roteiros humorísticos, foi escrita, dirigida e protagonizada por Allen e recebida com aplausos pela crítica horas antes de sua estréia oficial.
"É uma metáfora sobre a falta de esperança, de como a vida é inescrutável porque é impossível catalogá-la", disse o cineasta em entrevista coletiva durante a qual falou de Israel, da tensão "palpável" que se sente em Nova York depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 e da candidatura do ator Arnold Schwarzenegger ao governo da Califórnia.
"[Schwarzenegger] é um homem bom, mas não sei se será capaz de governar a Califórnia, que tem muitos problemas", disse.
Allen sempre inventou desculpas para não assistir pessoalmente ao festival de cinema, onde tradicionalmente lança a cada ano seu novo longa-metragem, mas admitiu que desta vez se sentiu obrigado com o público europeu.
"Acho que é um dever para mim agradecer o apoio que o público italiano e francês sempre deu aos meus filmes", disse o diretor, que chegou ao Lido acompanhado da jovem esposa, Soon Yi, seus dois filhos, a irmã Letty Aranson e vários assistentes.
Woody Allen prometeu estar presente ao jantar em sua homenagem para 800 pessoas, organizado na sofisticada praia do Westin Excelsior. Com ele, vieram as estrelas que protagonizam seu filme: Jason Biggs, famoso por "American Pie", e Christina Ricci, a menina Wednesday do longa "Família Adams", no papel de uma atriz sedutora e neurótica.
"Não, não cito no meu filme o meu sucessor e o co-protagonista não é meu alter ego", disse Woody Allen, que combina em sua nova comédia piadas, psicanálise, antisemitismo e ironia.
O filme, que por alguns aspectos e piadas lembra seus maiores sucessos, como "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa" (Annie Hall) e "Memórias" (Stardust Memories), narra uma complexa e impossível história de amor ambientada na Nova York atual.
Loucamente apaixonado por Amanda, Jerry Falk (Jason Biggs) aspira a se tornar um famoso escritor, sem por isso abandonar as sessões de psicanálise nem os conselhos de seu ídolo, David Dobel (Allen), veterano escritor de comédias brilhantes.
Como o jovem Allen dos anos 60, Jerry é tímido, inseguro, se deixa manipular pela exuberante Amanda e pelo cínico Dobel, homem desiludido que o convence a comprar um fuzil de combate e um kit de sobrevivência na selva como forma de defesa.
"Está esperando os nazistas ou um apagão?", pergunta-lhe, incrédulo, Falk, confuso diante da dupla moral de seu mestre, vingativo, disposto a responder com violência à violência do mundo e, ao mesmo tempo, bom e culto.
"Meu personagem representa alguém paranóico com as tensões que afetam o mundo", afirma Allen, que admitiu que as contradições de Dobel podem ser interpretadas como uma metáfora do que acontece em Israel.
"[É] um país maravilhoso, mas que tem sido perseguido, atacado sem trégua, que responde de maneira não justa, fechando-se em si mesmo e agredindo", analisa.
Temperando sua comédia com piadas e citações, Allen diverte com sua auto-ironia e seu senso de humor:
"[Eu] te traí, mas só por razões terapêuticas, por ti. Queria saber se conseguia ter um orgasmo múltiplo", diz Amanda num momento do filme.
Com a chegada de Allen, cujo filme é exibido em seção "hors-concours", começou o desfile de estrelas, entre elas o sedutor Johnny Depp, agente da CIA no filme do mexicano Robert Rodríguez "Erase una vez México" e o carismático Anthony Hopkins, protagonista de "The Human Stain", de Robert Benton.
Um total de 20 longas-metragens estão na disputa pelo Leão de Ouro na seção oficial e 18 pelo Prêmio San Marco da Seção "Contracorrente", além dos lançamentos "hors-concours" de uma dezena de filmes, entre eles os filmes recém-saídos do forno de Bernardo Bertolucci, dos irmãos Coen, de James Ivory e Ridley Scott.
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