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01/09/2003 - 16h44

Filme sobre desaparecidos políticos argentinos é vaiado em Veneza

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da France Presse, em Veneza

Vaias e indignação marcaram a apresentação do filme "Imagining Argentina", do diretor inglês Christopher Hampton, com Antonio Banderas e Emma Thompson, por causa da forma superficial e pouco convincente de narrar a enorme tragédia dos desaparecidos políticos durante a ditadura militar argentina.

Ambientado em 1976, no início da ditadura militar (1976-83), num dos momentos mais dramáticos da repressão, o filme tenta prestar homenagem aos cerca de 30 mil desaparecidos nas mãos dos militares e à luta das mães e avós da Praça de Maio.

No entanto, o longa se revela pouco convincente apesar das imagens fortes e dos horrores que descreve, o que provocou vaias e críticas do exigente público especializado durante a projeção especial para a imprensa.

"Temos recebido demonstrações comoventes, positivas. Quando se aborda um tema tão delicado associando-o com o realismo mágico, transpõe-se uma fronteira muito sutil", afirmou nesta segunda-feira em tom de surpresa a atriz inglesa Emma Thompson, Oscar em 1993 com "Retorno a Howard's End".

Para o diretor, conhecido roteirista de filmes como "O cônsul honorário" (1983), ambientado num país tropical latino-americano, o que o filme propõe é o uso "da imaginação como arma contra a opressão".

"Conseguir com a imaginação suprimir o opressor é uma metáfora poética", continuou o cineasta, após explicar que não queria fazer um documentário, mas "um poema".

Hampton, que batalhou durante treze anos para conseguir o financiamento necessário e baseou o filme no livro do norte-americano Lawrence Thornton, recebeu amplo apoio das autoridades argentinas para filmá-lo no país.

Rodado em 2002, o filme, uma co-produção americano-espanhola na disputa pelo Leão de Ouro, mostra os mesmos locais onde ocorreram os crimes, como a Escola de Mecânica da Marinha, a Casa Rosada --sede da Presidência-- onde se torturava, violentava ou se decidia pelo desaparecimento sistemático de milhares de opositores políticos.

"Um tango desolador", definiu o jornal da Bienal de Veneza, enquanto os críticos de cinema de dois importantes jornais italianos, "Il Corriere della Sera" e "La Repubblica" atribuíram a erros de roteiro e de narração a falta de credibilidade do filme.

"A função do filme é lembrar às pessoas o que ocorreu: o desaparecimento ilegal de 30 mil pessoas", explicou o diretor, arrancando aplausos de boa parte dos jornalistas.

A pouco convincente atuação de Antonio Banderas, que não assistiu à apresentação e interpreta o romântico marido de uma jornalista "desaparecida" encarnada por Thompson, chegou a provocar gargalhadas na platéia.

Tampouco comovem e em alguns momentos aparecem quase ridículas as licenças poéticas usadas pelo diretor, que mistura imagens de teatro, de carnaval, de ex-vítimas dos nazistas, helicópteros cor-de-rosa, jardins, entardeceres e galope de cavalos nos Pampas aos torturadores, aos carros dos repressores, aos vôos da morte, à violação de adolescentes, às manifestações das Avós da Praça de Maio e às visões proféticas do horror.

Falado em inglês, o que já causa incômodo por se passar em Buenos Aires, o filme foi bem recebido pelo público não-especializado, menos severo.
 

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