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10/09/2003
-
03h49
JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha
A história do caminhoneiro desempregado que viajou de bicicleta com a família da Paraíba ao Rio de Janeiro em busca de um emprego de R$ 1.000 é daquelas que suscitam o comentário: "Puxa, daria um filme".
O jovem cineasta Vicente Amorim acreditou nisso e baseou nela seu primeiro longa-metragem de ficção, "O Caminho das Nuvens".
Só não se deu conta de que, ao passar a história para o cinema, teria de lhe dar um sentido: aventura, parábola moral, drama familiar, saga, retrato social, sátira de costumes, o que fosse.
"O Caminho das Nuvens" esboça, aqui e ali, todos esses caminhos, mas não desenvolve nenhum. Como consequência, o filme todo parece ser apenas uma ilustração de sua sinopse. Não há surpresa, descoberta ou aprendizado para o espectador.
Parece haver uma operação deliberada de esvaziamento dos conflitos sugeridos, seja por respeito excessivo à história da família real, seja pelo intuito de manter a narrativa num meio-tom confortável e sem grandes riscos.
Eis algumas das linhas dramáticas deixadas a meio caminho: o choque entre o pai (Wagner Moura) e o filho mais velho (Ravi Ramos Lacerda), a tensão entre a mulher letrada (Cláudia Abreu) e o marido analfabeto, a hostilidade do meio físico e social.
Por esse temor de ir fundo em suas linhas de força, o filme acaba desperdiçando seus próprios acertos, como o achado de casting que foi a escalação de Sidney Magal como um empresário picareta de shows populares.
Cláudia Abreu mostra esforço e talento na tentativa de ser convincente como uma sertaneja pobre, mãe de cinco filhos. Mas a pergunta é: por que ela? Não havia neste Brasil outra atriz mais adequada para o papel?
O filme cresce em densidade dramática quando estão em cena os excelentes Wagner Moura e Ravi Lacerda. Mas sempre que isso acontece, dá-se um jeito de voltar correndo para o idílio. E tome Roberto Carlos na voz adocicada de Cláudia Abreu.
Desde "Iracema - Uma Transa Amazônica", passando por "Bye Bye Brasil" e desembocando em "Central do Brasil", o filme de estrada brasileiro tem, sob formas variadas, uma tradição de descoberta e revelação do país.
Em "O Caminho das Nuvens" há, ao contrário, uma espécie de apagamento. Se sobra alguma coisa, é uma mistificação do "povo simples", com seu otimismo pitoresco e sem razão.
Avaliação:
O Caminho das Nuvens
Produção: Brasil, 2003
Direção: Vicente Amorim
Com: Wagner Moura, Cláudia Abreu, Ravi Ramos Lacerda Quando: em cartaz a partir de sexta
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"O Caminho das Nuvens" evita conflitos e fica no idílio
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colunista da Folha
A história do caminhoneiro desempregado que viajou de bicicleta com a família da Paraíba ao Rio de Janeiro em busca de um emprego de R$ 1.000 é daquelas que suscitam o comentário: "Puxa, daria um filme".
O jovem cineasta Vicente Amorim acreditou nisso e baseou nela seu primeiro longa-metragem de ficção, "O Caminho das Nuvens".
Só não se deu conta de que, ao passar a história para o cinema, teria de lhe dar um sentido: aventura, parábola moral, drama familiar, saga, retrato social, sátira de costumes, o que fosse.
"O Caminho das Nuvens" esboça, aqui e ali, todos esses caminhos, mas não desenvolve nenhum. Como consequência, o filme todo parece ser apenas uma ilustração de sua sinopse. Não há surpresa, descoberta ou aprendizado para o espectador.
Parece haver uma operação deliberada de esvaziamento dos conflitos sugeridos, seja por respeito excessivo à história da família real, seja pelo intuito de manter a narrativa num meio-tom confortável e sem grandes riscos.
Eis algumas das linhas dramáticas deixadas a meio caminho: o choque entre o pai (Wagner Moura) e o filho mais velho (Ravi Ramos Lacerda), a tensão entre a mulher letrada (Cláudia Abreu) e o marido analfabeto, a hostilidade do meio físico e social.
Por esse temor de ir fundo em suas linhas de força, o filme acaba desperdiçando seus próprios acertos, como o achado de casting que foi a escalação de Sidney Magal como um empresário picareta de shows populares.
Cláudia Abreu mostra esforço e talento na tentativa de ser convincente como uma sertaneja pobre, mãe de cinco filhos. Mas a pergunta é: por que ela? Não havia neste Brasil outra atriz mais adequada para o papel?
O filme cresce em densidade dramática quando estão em cena os excelentes Wagner Moura e Ravi Lacerda. Mas sempre que isso acontece, dá-se um jeito de voltar correndo para o idílio. E tome Roberto Carlos na voz adocicada de Cláudia Abreu.
Desde "Iracema - Uma Transa Amazônica", passando por "Bye Bye Brasil" e desembocando em "Central do Brasil", o filme de estrada brasileiro tem, sob formas variadas, uma tradição de descoberta e revelação do país.
Em "O Caminho das Nuvens" há, ao contrário, uma espécie de apagamento. Se sobra alguma coisa, é uma mistificação do "povo simples", com seu otimismo pitoresco e sem razão.
Avaliação:
O Caminho das Nuvens
Produção: Brasil, 2003
Direção: Vicente Amorim
Com: Wagner Moura, Cláudia Abreu, Ravi Ramos Lacerda Quando: em cartaz a partir de sexta
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