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13/09/2003 - 04h55

"Corte-e-costura" não contribui para debate jornalístico

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RENATA LO PRETE
da Folha de S.Paulo

O que fazem no mesmo livro o advogado do banqueiro Salvatore Cacciola, o médico do governador Mário Covas e a atriz Glória Pires? Segundo Mário Rosa, autor de "A Era do Escândalo", os três têm em comum o enfrentamento de "crises de imagem".

Cada um deles --assim como o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge, o ex-ministro da Saúde Alceni Guerra e personagens de outros cinco casos de repercussão-- dá seu depoimento em um capítulo, ao fim do qual Rosa, jornalista e consultor de imagem, procura extrair lições.

Na segunda parte do livro, o autor analisa o trabalho da imprensa. Defende a idéia de que existem hoje mais e maiores escândalos do que no passado. Acredita na especificidade do "escândalo brasileiro". O problema desse corte-e-costura que junta relatos pessoais, dicas para não "perder a batalha de relações públicas" e crítica de mídia é jogar no mesmo saco coisas muito diferentes.

Respondendo à pergunta inicial, o drama de Glória Pires com os boatos que envolveram sua família não tem nenhum parentesco com as dificuldades do advogado que defendeu Cacciola durante a CPI dos Bancos, assim como o calvário de Alceni após o "escândalo das bicicletas" não é comparável ao desgaste sofrido pelo governo FHC durante o apagão, ou à onda de reclamações de usuários quando da instalação da Telefonica, ou à guerra de mercado entre AmBev e Coca-Cola.

Não se trata de aqui estabelecer certo e errado em cada caso, apenas de observar a precariedade da "crise de imagem" como denominador comum. Arquivá-los na mesma pasta, ainda que de forma subliminar, serve apenas para dar corda à ladainha contra a imprensa --para a qual "o negativo é sempre notícia; o positivo, quase nunca", conforme reclama na orelha do livro o marqueteiro Duda Mendonça, sócio de Rosa.

É lógico que existe um debate a ser feito sobre a atuação da imprensa, mas, para que ele tenha um mínimo de seriedade, deve-se começar por reconhecer que, em vários dos episódios narrados no livro, os interesses de "quem viveu a crise" nem sempre coincidiram com o interesse público.

Para "dar densidade ao rarefeito ambiente de discussão sobre escândalos no Brasil", como pretende Rosa, convém lembrar que, nas "batalhas de relações públicas", informação isenta está longe de ser o centro das preocupações. Busca-se, isso sim, operar jornalistas para promover os negócios de X e atrapalhar os de Y.

Felizmente, para descontentamento de consultores e clientes, o melhor jornalismo sempre tentará escapar desse roteiro.

Avaliação:

A Era do Escândalo
Autor: Mário Rosa
Editora: Geração Editorial
Quanto: R$ 47 (528 págs.)
 

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