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01/09/2000
-
04h36
VALMIR SANTOS, da Folha de S.Paulo
A presença em "Quase Nada" de atores que migram do teatro coloca a interpretação em primeiro plano na voga do cinema nacional dos últimos anos.
Denise Weinberg, Genézio de Barros (ambos ex-grupo Tapa) e Augusto Pompeo (ex-Ornitorrinco) proporcionam um registro de atuação com o qual o próprio diretor Sergio Rezende ("Mauá"), em seu 9º longa-metragem, não estava acostumado.
"Eles preservam a qualidade do processo teatral na inteireza, com uma grande disciplina, um prazer ao ensaiar que é um ato quase divino, um ritual que lembra os gregos em sua devoção humanista", diz o carioca Rezende, 49.
Pompeo, 50, contracena com Camilo Bevilacqua no primeiro episódio do filme, "Foice". Interpreta João, bóia-fria que é alçado à condição de capataz por mais R$ 1 ao dia no salário. A condição de representante do patrão provoca inveja em seu compadre (Bevilacqua), que passa a conspirar contra o companheiro de mão-de-obra barata. As desavenças culminam em uma tocaia, da qual apenas um sobreviverá.
"João não tem instrução, quer educar seus 11 filhos, mas é dono de uma solidão imensa, porque é viúvo", afirma Pompeo. "Foi um desafio assimilar a simplicidade e a humildade desse homem."
É seu papel mais dramático, nos palcos e nas telas, ele que atuou em comédias do Ornitorrinco.
No segundo episódio, "Veneno", Denise Weinberg e Genézio de Barros vivem Idalina e João. O vaqueiro e a mulher cuidam de uma fazenda. Ele se sente perseguido por um fantasma do passado, um sujeito que lhe propôs desviar o rebanho do antigo patrão, mas o vaqueiro capitulou.
Para sofrer menos com as alucinações, Ademir ingere antidepressivos. "Isso o deixa com um olhar aparvalhado, feito boi que aparenta uma mansidão por fora, mas é uma convulsão por dentro", diz Barros, 49. Idalina tenta encorajá-lo, mas tudo se complica quando surge um cadáver.
Denise e Barros conviveram por uma semana com os moradores de São Pedro dos Ferros (MG) antes de iniciar as gravações. Passavam o dia todo com a roupa de Ademir e Idalina, proseavam com o vaqueiro e a mulher da fazenda local, como a encontrar subsídios para a história.
O último episódio, "Machado", narra a história do jardineiro Ernani (Caio Junqueira) e sua mulher, Ana Luiza Rabello (Glorinha). Eles têm um bebê, mas a relação não empolga a mulher, que não se submete ao ciúme doentio do marido. O desfecho é trágico, como em todos os enredos passionais que vão ao extremo.
Genézio de Barros ("Ação entre Amigos") e Denise Weinberg ("Guerra de Canudos") vêem em "Quase Nada" uma possibilidade de afirmação do ofício.
Os atores valeram-se também da experiência no grupo Tapa (Denise, uma das fundadoras, durante 15 anos, e Barros, durante oito). Este ano,
também protagonizaram "O Acidente", peça de Bosco Brasil.
"Atualmente existe uma certa banalização do trabalho de ator. A própria televisão imprimiu isso. O ator não estuda mais, não se aprofunda. Ele desenvolve a sua personalidade, e não o personagem", diz Barros.
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Inveja, medo e ciúme compõem o filme nacional "Quase Nada"
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A presença em "Quase Nada" de atores que migram do teatro coloca a interpretação em primeiro plano na voga do cinema nacional dos últimos anos.
Denise Weinberg, Genézio de Barros (ambos ex-grupo Tapa) e Augusto Pompeo (ex-Ornitorrinco) proporcionam um registro de atuação com o qual o próprio diretor Sergio Rezende ("Mauá"), em seu 9º longa-metragem, não estava acostumado.
"Eles preservam a qualidade do processo teatral na inteireza, com uma grande disciplina, um prazer ao ensaiar que é um ato quase divino, um ritual que lembra os gregos em sua devoção humanista", diz o carioca Rezende, 49.
Pompeo, 50, contracena com Camilo Bevilacqua no primeiro episódio do filme, "Foice". Interpreta João, bóia-fria que é alçado à condição de capataz por mais R$ 1 ao dia no salário. A condição de representante do patrão provoca inveja em seu compadre (Bevilacqua), que passa a conspirar contra o companheiro de mão-de-obra barata. As desavenças culminam em uma tocaia, da qual apenas um sobreviverá.
"João não tem instrução, quer educar seus 11 filhos, mas é dono de uma solidão imensa, porque é viúvo", afirma Pompeo. "Foi um desafio assimilar a simplicidade e a humildade desse homem."
É seu papel mais dramático, nos palcos e nas telas, ele que atuou em comédias do Ornitorrinco.
No segundo episódio, "Veneno", Denise Weinberg e Genézio de Barros vivem Idalina e João. O vaqueiro e a mulher cuidam de uma fazenda. Ele se sente perseguido por um fantasma do passado, um sujeito que lhe propôs desviar o rebanho do antigo patrão, mas o vaqueiro capitulou.
Para sofrer menos com as alucinações, Ademir ingere antidepressivos. "Isso o deixa com um olhar aparvalhado, feito boi que aparenta uma mansidão por fora, mas é uma convulsão por dentro", diz Barros, 49. Idalina tenta encorajá-lo, mas tudo se complica quando surge um cadáver.
Denise e Barros conviveram por uma semana com os moradores de São Pedro dos Ferros (MG) antes de iniciar as gravações. Passavam o dia todo com a roupa de Ademir e Idalina, proseavam com o vaqueiro e a mulher da fazenda local, como a encontrar subsídios para a história.
O último episódio, "Machado", narra a história do jardineiro Ernani (Caio Junqueira) e sua mulher, Ana Luiza Rabello (Glorinha). Eles têm um bebê, mas a relação não empolga a mulher, que não se submete ao ciúme doentio do marido. O desfecho é trágico, como em todos os enredos passionais que vão ao extremo.
Genézio de Barros ("Ação entre Amigos") e Denise Weinberg ("Guerra de Canudos") vêem em "Quase Nada" uma possibilidade de afirmação do ofício.
Os atores valeram-se também da experiência no grupo Tapa (Denise, uma das fundadoras, durante 15 anos, e Barros, durante oito). Este ano,
também protagonizaram "O Acidente", peça de Bosco Brasil.
"Atualmente existe uma certa banalização do trabalho de ator. A própria televisão imprimiu isso. O ator não estuda mais, não se aprofunda. Ele desenvolve a sua personalidade, e não o personagem", diz Barros.
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