Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
18/09/2003 - 03h32

Crítico vê onda electroclash como crise criativa da música eletrônica

Publicidade

GUILHERME WERNECK
da Folha de S.Paulo

Durante os anos 90, nenhuma forma de música podia ser comparada às diferentes vertentes da música eletrônica em termos de criatividade e de impacto sobre a cultura de massas.

Porém, mais de 15 anos depois de a house de Chicago e de o tecno de Detroit terem conquistado a Europa, a música eletrônica dá sinais de que passa por uma crise de criatividade.

A opinião é do crítico Simon Reynolds, 40, que participou da cena eletrônica inglesa desde o início e escreveu um dos livros mais completos sobre o desenvolvimento da música eletrônica nos EUA e na Europa, "Energy Flash" (Macmillan, 1998, 493 págs.).

Leia a seguir trechos da entrevista que deu à Folha, por e-mail, de Nova York, onde mora.

Folha - A música eletrônica passa por um momento de falta de criatividade?

Simon Reynolds -
Pode ser apenas que a música tenha recursos finitos em termos de inventividade. Houve uma ebulição criativa tão grande e uma quantidade tão imensa de música produzida nos últimos 12 a 15 anos que todas as boas idéias já foram usadas. Pelo menos até que apareça uma nova tecnologia ou surja uma interface desconhecida entre uma nova tecnologia e uma nova droga. De qualquer forma, um sinal de que a música eletrônica está com problemas é a nostalgia prematura de seu próprio passado. Muitos produtores estão fazendo discos de rave retrô, voltando ao som do começo dos anos 90 ou a fase do jungle de 1994. Ou ainda ao electroclash dos anos 80.

Folha - A volta do electro é uma resposta à falta de novidade da house e do tecno?

Reynolds -
Sim, as pessoas queriam vocais, sexo, senso de humor e grandes canções. Infelizmente, a maior parte das pessoas envolvidas no electroclash não compõe boas músicas. Com certeza eles não chegam nem perto da qualidade dos grupos eletrônicos dos anos 80, como Human League e Gary Numan.

Folha - A popularização da produção de música eletrônica contribui para o fato de que há muito mais discos disponíveis, mas menos inventividade?

Reynolds -
Penso que o que acontece é que a tecnologia permite que as pessoas façam discos muito bons, com padrões de produção muito elevados. Antes, a produção era bem limitada. Mas os limites são combustíveis para a criatividade. "Restrição é a mãe da invenção", dizia Holger Czukay, do Can. De qualquer forma, há muita música boa sendo feita hoje em dia, mas é difícil escolher um exemplo de algo que seja realmente especial ou significativo. Os discos seminais são ofuscados por essa música apenas decente, de qualidade. Ou talvez não existam mais discos seminais. Mesmo que houvesse seria mais difícil vê-los. A tecnologia permite que pessoas fiquem obcecadas em ajustar detalhes em suas músicas, adicionando pequenas partes infinitamente. Em geral, arte é saber quando parar de adicionar outra camada, outro detalhe.

Folha - Há superexposição da música eletrônica hoje?

Reynolds -
É difícil dizer que isso ocorra nos EUA, onde ela não toca muito no rádio nem na televisão. Mas na Europa dá para falar que a eletrônica é o mainstream, está em todos os lugares, e as pessoas estão enjoadas dos sons e dos beats. É por isso que uma nova geração de garotos descolados passou a curtir bandas de novo. Para mim, o novo rock é reacionário em matéria de som, mas entendo porque a garotada gosta do White Stripes ou do Rapture. A cultura do ecstasy e das raves parece um tanto óbvia, passada, sem graça. É o que seus irmãos mais velhos, ou até seus pais, faziam.

Leia mais
  • Para DJs, crise é o preço da massificação
  • Análise: A fórmula ficou fácil
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página