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19/09/2003 - 02h55

Obra de Machado de Assis vira melodrama inócuo

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JOSÉ GERALDO COUTO
Colunista da Folha de S.Paulo

"Dom" não se apresenta como uma adaptação de "Dom Casmurro" para os tempos atuais, e portanto não pode ser julgado como tal.

Mas a mera referência ostensiva ao romance de Machado de Assis, assim como a repetição de seu triângulo amoroso básico, desperta inevitavelmente no espectador letrado alguma expectativa em termos de empenho estético e de sensibilidade no trato das relações sociais e afetivas.

Não fosse essa referência, o filme seria apenas mais um melodrama televisivo, raso e inócuo como outro qualquer. A carona que tenta pegar na obra de Machado --e no que esta implica de chancela de prestígio-- é que o torna um caso grave.
Ou não. Pode-se muito bem ver a coisa por um ângulo didático. O vazio do filme revela, por contraste, a grandeza do romance.

A diferença mais gritante entre as duas obras é que no livro toda a ambiguidade do relato (responsável pela dúvida sobre a fidelidade de Capitu) é resultado do caráter não-confiável do narrador, Bentinho, cuja visão é obscurecida, senão deformada, pelo ciúme e pela situação de classe.

O grande interesse do romance, aquilo que o mantém vivo depois de um século, não é propriamente seu entrecho, mas essa construção moderna de um relato obsessivo, que questiona as próprias bases da narrativa realista.

Pois bem. Com sua exposição plana, fincada na progressão linear e na decupagem mais convencional, "Dom" acentua a intriga e esquece a linguagem. Reduz-se a uma historinha de amor e ciúme entre três jovens bonitinhos de classe média alta (Marcos Palmeira, Maria Fernanda Cândido e Bruno Garcia) trafegando em ambientes chiques de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Opera-se assim um retrocesso a uma forma de narrar e a uma sensibilidade estética oitocentistas, pré-Machado. Uma operação regressiva que a cenografia "clean", as ocupações modernas dos personagens, as roupas e os acessórios da moda não conseguem disfarçar.

Mas talvez essa sensibilidade e essa forma estejam mais sintonizadas com o gosto médio atual, e o filme seja um sucesso.

Muita gente vai ao cinema (ou ao teatro) para ver um prolongamento do que já assiste na TV, inclusive e principalmente as estrelas globais.

Nesse aspecto, "Dom" está bem servido. Seu único mérito, aliás, talvez seja o de trazer para o cinema a beleza magnetizante de Maria Fernanda Cândido. Ela pode até não ser uma grande atriz, mas com certeza é uma estrela. Tomara que tenha mais sorte em seus próximos filmes.

Avaliação:

Dom
Produção: Brasil, 2003
Direção: Moacyr Góes
Com: Marcos Palmeira, Maria Fernanda Cândido, Bruno Garcia
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Jardim Sul e circuito

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