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19/09/2003 - 10h16

Moscovitas do Ermitage levam Dostoiévski à farsa

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VALMIR SANTOS
da Folha de S.Paulo, em Porto Alegre

Exímio e denso jogador da palavra ao lidar com subsolos e dores d'alma, o romancista russo Fiódor Dostoiévski (1821-81) desponta sob o viés da farsa, face pouco conhecida de sua obra, no espetáculo que a companhia moscovita do lendário Teatro Ermitage estréia hoje no 10º Porto Alegre em Cena, festival que entra na segunda semana.

O Ermitage foi criado um século atrás, quando o teórico russo Constantin Stanislavski (1863-1938) abriu no jardim do museu de mesmo nome a sede do Teatro de Arte de Moscou.

"O Homem Embaixo da Cama" é uma adaptação do encenador Mijail Levitin, 58, para o conto que Dostoiévski escreveu na casa dos 20 anos, originalmente batizado "A Mulher Alheia e o Homem Embaixo da Cama".

Pleno em diálogos, traz uma mirada inusitada para mote clássico: a história de um homem (Alexander Pozharov) embevecido por paixão não-correspondida.

O sentimento é levado às últimas consequências, inclusive à doença (a "cama" do título é a senha para o tom fantástico). Ao todo, seis atores contracenam numa alegoria carnavalesca.

"Interessa-nos o humor em Dostoiévski. Esse conto é praticamente desconhecido do espectador latino-americano. A montagem de farsas e espetáculos cômicos ocupa um lugar importante no repertório do Ermitage. Os atores dominam virtuosamente a técnica da farsa", afirma o diretor.

O grupo já adaptou outro Dostoiévski, "Uma Mentira Horrível", também um conto.

Levitin, que é diretor artístico do Ermitage desde 1987, explica que não se propõe a fazer teatro de vanguarda.

Entre as influências, cita o teórico italiano Giorgio Strehler (1921-1997) e os russos Alexander Tairov (1885-1950) e Vsevolod Meyerhold (1874-1940?), que já trabalharam na casa.

No campo da dramaturgia, o grupo procura montar suas próprias peças, a maioria de autoria de Levitin, que também assina adaptações de clássicos da Rússia ou de outros países.

Há pouco, verteu um romance de Gabriel García Márquez para o teatro, "A Incrível e Triste História da Cândida Erendira e sua Avó Desalmada".
"Viajando pela América do Sul, eu regresso à minha infância", afirma Levitin, nascido em Odessa, cidade localizada na atual região da Ucrânia.

Com mais dez dias de programação, o Porto Alegre em Cena traz ainda duas atrações internacionais: "On the Scent", com a cia. inglesa Placelessness (quatro espectadores por vez são conduzidos ao interior de uma casa para uma "jornada aromática"), e a coreografia "Un Ange Passe Passe" (corpos ora numa "sinfonia silenciosa", ora sem papas na língua), da cia. franco-brasileira À Fleur de Peau, com Denise Namura e Michel Bugdahn.

No dia seguinte a cada estréia, os artistas das companhias convidadas participam de bate-papo com o público, sempre às 15h, no teatro de Arena.

Paralelos

Entre as atividades paralelas do festival, há uma exposição fotográfica no Theatro São Pedro, em homenagem ao Teatro Equipe (1958-62), grupo de Porto Alegre que marcou o movimento cultural da cidade, do qual fizeram parte os atores Paulo José, Paulo César Pereio, Linneu Dias, Mário de Almeida e Milton Mattos, entre outros.

A dramaturga gaúcha Vera Karam (1959-2003) também é lembrada no Teatro de Câmara por meio de exposição e leituras de algumas de suas peças.
O seminário "A Vida em Cena - Teatro e Subjetividade", uma extensão do evento, acontece na Usina do Gasômetro de 21 a 25/9, com pesquisadores acadêmicos de vários Estados.

O jornalista Valmir Santos viajou a convite da organização do festival
 

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