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21/09/2003 - 10h37

Crítica: Quem se importa com a audiência?

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BIA ABRAMO
Colunista da Folha de S.Paulo

De qualquer lado que seja examinado, o episódio deflagrado pela "entrevista" de Gugu Liberato com os dois homens apresentados como membros do PCC é de um cinismo que ultrapassa todas as medidas.

Isso, na verdade, para dizer o mínimo, uma vez que SBT e apresentador já receberam advertência por escrito do Ministério da Justiça e enfrentarão inquérito instaurado pela Promotoria de Defesa do Consumidor de São Paulo por dano moral.

Os desdobramentos do episódio, portanto, ainda estão longe de se esgotar. Mas, independentemente do que se prove e de que punição incida sobre emissora, programa e apresentador, essa prática de apresentar meias-verdades, quase-mentiras, armações mais ou menos descaradas pertence a um certo tipo de televisão que vem ganhando cada vez mais espaço.

No fundo, é uma exacerbação do princípio de tratar o espectador feito imbecil, de aproveitar da credibilidade de que a televisão goza --a imagem televisiva, mais ainda que a da fotografia ou do cinema, se impõe como prova da verdade-- e, de claro, causar sensação não importa com o quê, de ganhar cada ponto de audiência à custa de qualquer coisa, o sangue, o suor, as lágrimas do público.

Ou simplesmente a cara de palhaço, que é que esses apresentadores e produtores vislumbram em mim, em você, no seu vizinho --em suma, na audiência.

Não bastasse a irresponsabilidade da entrevista em si, Gugu colocou a cereja no bolo da desfaçatez quando foi "pedir desculpas" no programa da Hebe.

A fada-madrinha da TV brasileira recebeu o colega de braços abertos e seu jeito maternal deve ter contribuído para o clima de contrição --sem confissão real de culpa, notem bem, uma vez que esta ficou por conta do repórter prontamente afastado.

No sofá da Hebe, os olhos ficaram marejados, a voz da fada-madrinha da televisão brasileira ficou embargada --tudo isso para fazer eu, você, seu vizinho, ou seja, os bobos plantados diante da televisão acreditarmos que Gugu não estava "buscando audiência" ao exibir homens encapuzados ameaçando matar outros apresentadores de TV.

É que Gugu, como se diz, tem a quem puxar. O caso tem ecos desagradáveis com outro episódio recente, que ficou conhecido como a "pegadinha" de Silvio Santos.

Faz pouco mais de dois meses que uma "entrevista" concedida por Silvio repleta de histórias para boi dormir iniciou uma onda de boatos e especulações.

Se no caso do mestre e mentor, as consequências ficaram no plano do burlesco (pelo menos, até onde se sabe), talvez o tombo do aprendiz de feiticeiro seja maior. Mas quem não se importa com audiência não vai nem ligar, por exemplo, para a reclassificação etária para depois das 21h.
 

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