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23/09/2003 - 08h43

Com "Traços", companhia expressa graça e qualidade

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INÊS BOGÉA
crítica da Folha

Formas breves, transitivas, imprimindo riscos no espaço: simultaneidade de gestos e trocas de perspectiva foram as marcas da Companhia de Dança do Amazonas, em sua primeira vinda a São Paulo. Na última sexta-feira, a CDA apresentou três coreografias: "Traços", de Henrique Rodovalho, "Criação/Kronos", de Ivonice Satie, e "A Noite Transfigurada", de Anselmo Zolla.

Em "Traços", movimentos cortados e angulosos compunham e decompunham as estruturas dos corpos. Eram 11 bailarinos: impecáveis. A coreografia de Rodovalho (diretor da companhia goiana Quasar) dialoga com músicas do repertório da canção brasileira contemporânea (Caetano Veloso, Jorge Mautner, Gilberto Gil e Sérgio Amado).

A dança cria significados novos para a música; em "Voa, Voa, Perereca" (Sérgio Amado), por exemplo, "perereca" e "passarinho" (ela de pé, ele no chão) se traduzem com graça em braço, mão e pé, desfiando metáforas que se desmancham no mais literal sentido dos corpos.

"Criação" trabalha o universo mítico da lua e do sol (energias de azul e vermelho). A dança está em harmonia precisa com a música --do violonista Eduardo Agni-- seja nas construções das frases, seja nos acentos. Se os movimentos são derivados da técnica clássica, exigindo precisão e habilidade, ao mesmo tempo são quebrados por acentos e dinâmicas mais presentes na dança moderna (contrações, quedas etc.), o que cria consideráveis dificuldades de execução. Ficaram claros em cena os deslizes e desencontros, expondo a fragilidade técnica desse grupo relativamente novo (foi fundado em 1998).

Esse mesmo tipo de movimento é empregado na coreografia que fecha o espetáculo, "A Noite Transfigurada". Aqui a dramaticidade toma conta da cena, inspirada no poema expressionista de Richard Dehmel, por sua vez musicado sem palavras na partitura pré-dodecafônica de Schoenberg (1874-1951). A linguagem dos corpos não explica nem decifra as obscuridades, nessa história de amantes perdidos na noite, a mulher carregando um bebê de outro, o homem transfigurado por seu amor. Os bailarinos dançam em claridades, mergulhados na sombra. A dança, afinal, se verga sob a carga de símbolos.

Foi bom ter em São Paulo a companhia do Norte. É verdade que o repertório só apresentou nomes de coreógrafos já bem conhecidos por aqui --quem sabe, numa próxima vez, se possa ver alguma coisa de um coreógrafo de lá. Nem tudo foi do mesmo nível de excelência? Não, mas isso não diminui a importância da CDA. Oxalá houvesse mais companhias estatais dessa qualidade espalhadas pelo país. Já seria, aliás, outro país.

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