Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/09/2003 - 03h33

Novo filme de Samira Makhmalbaf está no Festival do Rio

Publicidade

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

Ambas com filmes programados no Festival do Rio, as cineastas iranianas Samira Makhmalbaf, 23, e sua irmã Hana Makhmalbaf, 14, compartilham o rótulo de prodígios do clã encabeçado pelo diretor Mohsen Makhmalbaf, 46 ("Viva o Cinema").

"Às Cinco da Tarde", terceiro longa de Samira, estréia hoje na programação da mostra. "Alegria da Loucura", primeiro (sim, um longa) de Hana, poderá ser visto a partir do dia 30.

Os dois filmes foram feitos no Afeganistão. Samira partiu para o país vizinho ao Irã quando sentiu a necessidade de "ver de perto o que estava acontecendo" no pós-11 de Setembro. As diretoras falaram à Folha, ontem, por telefone, de sua casa, em Teerã.

"A coisa mais fácil do mundo seria fazer um filme-clichê sobre o Afeganistão, mostrando que todos os problemas do país são causados pela existência de um grupo violento chamado Taleban. Mas esse país é nosso vizinho, falamos praticamente a mesma língua e temos uma cultura muito semelhante. Tenho simpatia por aquele povo e queria saber o que realmente se passava ali."

Satélite

Samira conta que acompanhava o noticiário internacional via satélite e não acreditava em nada do que era mostrado como informação jornalística, muito menos "na voz dos políticos, dos governos e das autoridades poderosas".

Ela lembra ainda que, antes dos atentados terroristas ocorridos nos Estados Unidos --sob o comando do líder terrorista saudita radicado no Afeganistão Osama bin Laden--, seu pai filmou "Caminho para Candahar" (2000), sobre o Afeganistão.

"Para ele [Mohsen Makhmalbaf], a coisa mais importante naquele momento era dar informações a respeito de um país que havia sido esquecido. Muitas pessoas lhe disseram que esse não era um tema importante. Então veio o 11 de Setembro", afirma.

Hana Makhmalbaf diz que pediu a Samira que a levasse junto para as filmagens, com a intenção de produzir um making of do filme da irmã.

"Essa era minha idéia inicial [o making of]. Mas, quando vi que os personagens do filme tinham medo de tudo --de mim, da minha irmã, da nossa câmera, do Taleban, imediatamente quis fazer meu próprio filme, e surgiu 'Alegria da Loucura'", diz Hana.

"Ás Cinco da Tarde" conta a história de uma mulher afegã que decide lançar sua candidatura à presidência do país. Criada no sistema fundamentalista religioso, a protagonista precisa iludir o pai para frequentar a escola em que pode questionar, por exemplo, a suposta incompatibilidade da mulher com o poder político.

"Fiz esse filme porque sou uma mulher que vive no Irã, numa cultura islâmica, em que temos condições semelhantes às do Afeganistão", diz Samira.

A primogênita do clã Makhmalbaf estreou em longas aos 18, com "A Maçã", no qual usou negativos inaproveitados pelo pai. Em seguida, filmou "O Quadro Negro". A colaboração de todos os membros da família em cada filme e os mais velhos conduzindo os mais novos à sua "carreira solo" são práticas entre os Makhmalbaf.

Mas Samira diz que a produção que daí resulta não pode ser encarada como uma criação coletiva. "Quando você vê um nome na direção ou no roteiro, quer dizer que aquele filme foi feito a partir do ponto de vista de quem o assina", diz Samira.

Hana afirma que o pêndulo das relações profissionais para as familiares oscila com naturalidade entre eles. "Meu pai é uma pessoa totalmente profissional em seu trabalho. Mas, quando surge um problema, não nos negamos a tratá-lo afetuosamente, como uma família."

Precocidade

É também com naturalidade e sem afetações que Hana encara o fato de estrear em longas aos 14. Aos 8, dirigiu seu primeiro curta. "Sei que não é assim que pensa a maioria das pessoas. Mas estou certa de que cada um pode mostrar o seu mundo para os outros, a qualquer tempo. Foi isso o que aconteceu comigo e com Samira."

Sobre a própria estréia precoce, Samira tem opinião semelhante. "Não aprendi cinema. Uso-o para expressar minhas experiências e o modo como vejo a vida das outras pessoas. Nasci numa família envolvida com o cinema, e ele entrou na minha de uma forma tão natural que hoje o cinema não me parece diferente da vida."

Por encarar o ato de filmar como um modo de vida, não uma profissão, Samira Makhmalbaf não tem prontos projetos de novos filmes. "Não penso no cinema como um trabalho que me obrigue a estar sempre fazendo filmes ou desenvolvendo o próximo projeto. Quero filmar apenas quando tenha algo a dizer."

Leia mais
  • Celebridade de Makhmalbaf atrai golpes de sósia

    Especial
  • Veja a programação dos filmes do Festival do Rio BR
  •  

    Publicidade

    Publicidade

    Publicidade


    Voltar ao topo da página