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26/09/2003
-
07h37
TIAGO MATA MACHADO
crítico da Folha
Entre o seu apartamento, tomado por hóspedes, e o do namorado ausente, Jeanne (Anne Teyssèdre) se perde. Como típica heroína rohmeriana, a protagonista de "Conto de Primavera" se encontra, temporariamente, fora de lugar.
Nunca inteiramente desterritorializadas, apenas ligeiramente desconfortáveis em seu próprio território, as heroínas rohmerianas não escapam à aguçada sensibilidade de seu autor para os espaços. Jeanne não se sente confortável em seu próprio apartamento porque a prima, sua hóspede, arranjou um amante. Ela poderia ficar na casa do namorado, mas a ausência deste só faz tornar a desordem do lugar insuportável.
"Sou terrivelmente sensível à organização dos outros, sendo eu mesma maníaca pela minha", diz ela a Natascha, uma jovem desconhecida com quem entabula conversa. Na organização da casa de Natascha, em sua arquitetura e claridade, Jeanne irá encontrar o apaziguamento que procura.
Enquanto as heroínas de Rohmer estão sempre às voltas com um sentimento prestes a eclodir, uma sensação a ser compreendida, as heroínas de Rivette, seu comparsa da nouvelle vague, estão sempre presas a um segredo do passado. Em Rivette, esse segredo está quase sempre ligado a um lugar misterioso. Em Rohmer, essa sensação vem sempre associada aos lugares em que se encontram as personagens.
Rohmer e Rivette são de uma geração que, tendo trocado os estúdios de cinema pelas ruas de Paris e declarado seu direito de posse sobre elas ("Paris nos pertence", dizia o título do primeiro longa de Rivette), inverteu a relação lugar/história ao criar suas narrativas a partir das locações, e não mais o inverso. De todos os artistas do grupo, Rohmer foi possivelmente aquele para quem essa inversão mais fez sentido.
"Conto de Primavera" é uma prova de que o cinema, para Rohmer, foi mais do que uma forma de exercitar essa sua especial sensibilidade para os espaços. Foi também uma maneira de tentar, através das personagens, compreendê-la melhor.
Avaliação:
Conto de Primavera (Conte de Printemps)
Direção: Eric Rohmer
Produção: França, 1990
Com: Anne Teyssèdre e Hugues Quester
Quando: a partir de hoje no Top Cine
Rohmer parte do espaço para criar "Conto de Primavera"
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crítico da Folha
Entre o seu apartamento, tomado por hóspedes, e o do namorado ausente, Jeanne (Anne Teyssèdre) se perde. Como típica heroína rohmeriana, a protagonista de "Conto de Primavera" se encontra, temporariamente, fora de lugar.
Nunca inteiramente desterritorializadas, apenas ligeiramente desconfortáveis em seu próprio território, as heroínas rohmerianas não escapam à aguçada sensibilidade de seu autor para os espaços. Jeanne não se sente confortável em seu próprio apartamento porque a prima, sua hóspede, arranjou um amante. Ela poderia ficar na casa do namorado, mas a ausência deste só faz tornar a desordem do lugar insuportável.
"Sou terrivelmente sensível à organização dos outros, sendo eu mesma maníaca pela minha", diz ela a Natascha, uma jovem desconhecida com quem entabula conversa. Na organização da casa de Natascha, em sua arquitetura e claridade, Jeanne irá encontrar o apaziguamento que procura.
Enquanto as heroínas de Rohmer estão sempre às voltas com um sentimento prestes a eclodir, uma sensação a ser compreendida, as heroínas de Rivette, seu comparsa da nouvelle vague, estão sempre presas a um segredo do passado. Em Rivette, esse segredo está quase sempre ligado a um lugar misterioso. Em Rohmer, essa sensação vem sempre associada aos lugares em que se encontram as personagens.
Rohmer e Rivette são de uma geração que, tendo trocado os estúdios de cinema pelas ruas de Paris e declarado seu direito de posse sobre elas ("Paris nos pertence", dizia o título do primeiro longa de Rivette), inverteu a relação lugar/história ao criar suas narrativas a partir das locações, e não mais o inverso. De todos os artistas do grupo, Rohmer foi possivelmente aquele para quem essa inversão mais fez sentido.
"Conto de Primavera" é uma prova de que o cinema, para Rohmer, foi mais do que uma forma de exercitar essa sua especial sensibilidade para os espaços. Foi também uma maneira de tentar, através das personagens, compreendê-la melhor.
Avaliação:
Conto de Primavera (Conte de Printemps)
Direção: Eric Rohmer
Produção: França, 1990
Com: Anne Teyssèdre e Hugues Quester
Quando: a partir de hoje no Top Cine
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