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25/08/2000 - 21h32

Para Zuza Homem de Melo, Globo está atrás somente de audiência

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CARLA NASCIMENTO
da Folha Online

Para o musicólogo e crítico de música Zuza Homem de Melo, que está escrevendo um livro sobre os festivais da década de 60, a Globo está atrás de audiência com o novo Festival da Música Brasileira, reeditado no mês de agosto de 2000.

Com 48 músicas classificadas para a fase final, o Festival da Música Brasileira, da Globo, pretende reeditar o sucesso dos anos 60, que revelaram nomes como Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso, entre outros.

Zuza Homem de Melo atira contra os antigos festivais realizados pela Shell: "aquilo era uma farsa". Ele critica também a música brasileira atual e diz que a mídia não dá espaço para grandes e bons compositores. Para ele, a música atual é vazia.

Leia a seguir trechos da entrevista.

Folha Online - O senhor conhece as músicas que estão concorrendo no festival?
Zuza Homem de Melo -
Eu dei uma olhada na lista das músicas e a sensação que eu tenho é que a Globo está mais interessada na audiência. Se o programa não tiver audiência não vai ter outra edição.

Folha Online - Na sua opinião, essa iniciativa poderá colocar novamente os festivais no centro da cena musical brasileira?
Zuza Homem de Melo -
O festival se sedimenta através dos anos, através das reedições. Um festival isolado não representa nada. Se esse tiver audiência, a Globo vai fazer de novo, se não tiver, a Globo não vai reeditá-lo.

Folha Online - Os festivais ainda podem ser um espaço importante para revelar grandes talentos?
Zuza Homem de Melo -
Entre os que estão classificados, vários já estão com a carreira em ascensão. Chico César, Moacir Luz, José Miguel Wisnick são alguns deles. Eles estão nos festivais porque, provavelmente, o que existe no panorama atual da música popular brasileira na mídia não permite que eles estejam lá. Talvez eles tenham sentido que há possibilidade de entrar na mídia com esse festival.

Folha Online - O que significa a realização desse festival dentro do panorama da música nacional?
Zuza Homem de Melo -
Nesses últimos anos, toda a mídia apostou num tipo de música que acabou se revelando pobre e vazia: o pagodão a bunda music e o brega-nojo. A Globo também deve ter sentido isso, então ela percebeu que algum dia teria que tentar um outro caminho. Ela está atrás disso, deste outro caminho. A Globo quer ver se isso (festival) traz a audiência que essa outra música está mostrando visivelmente que já não traz mais.

Folha Online - O senhor arriscaria um palpite sobre o estilo de música e intérprete que deve ganhar o festival?
Zuza Homem de Melo -
A escolha deverá recair em um nome novo. Mas a escolha vai depender do júri, da pressão que a emissora impuser a esse júri e de como ele (júri) vai enfrentar essa pressão. Em todos os festivais a Globo tem se mostrado pressionadora.

Folha Online - Essa pressão é comum nos festivais em geral?
Zuza Homem de Melo -
Eu fui jurado naqueles festivais da Shell. Aquilo era uma farsa.

Folha Online - A participação do público nos festivais da década de 60 era fundamental e influenciava na escolha do júri. Existe clima para uma participação popular nesse festival?
Zuza Homem de Melo -
Acredito que, mais adiante, as pessoas passem a se envolver, mas acho pouco provável que chegue a ser semelhante ao que aconteceu naquela época. Os motivos são vários, entre eles o próprio crescimento do país. Naquela época (década de 60), São Paulo era uma cidade pequena, e a repercussão de uma coisa como essa era muito mais rápida, muito mais fácil. Agora não, agora tem concorrentes. Claro que o festival vai enfrentar a concorrência de outras emissoras tentando conquistar a audiência.

Folha Online - Como o senhor analisa o panorama da música brasileira hoje?
Zuza Homem de Melo -
O que tem é um tipo de música muito vazio. Você só ouve boa música em alguns shows. São Paulo teve oportunidade de assistir a três concertos do artista mais importante em palcos do mundo inteiro, que é João Gilberto, este sim, valeu a pena.

Folha Online - E da geração atual, quem é uma boa promessa?
Zuza Homem de Melo -
Eu gosto de Chico César, Moacir Luz, Vicente Barreto. Há também boas cantoras a Jussara Silveira, Virgínia Rosa e a Ná Ozzetti. O problema é que o público desconhece, a mídia não aproveita. A mídia é surda a este tipo de música. Não que haja uma produção idêntica à dos anos 60, mas poderíamos ter coisas melhores nos veículos, disso eu não tenho a menor dúvida.

Folha Online - E sobre a mistura de estilos que parece ser uma tendência da música hoje, como o senhor vê isso?
Zuza Homem de Melo -
O que eu tenho visto é muita "mexeção" no caldo, mas, se você provar, não tem gosto.

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