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28/09/2003 - 08h31

Para Boni, falta inovação na TV

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DANIEL CASTRO
Colunista da Folha de S.Paulo

Um dos responsáveis pela implantação do "padrão Globo de qualidade" e crítico da má qualidade da programação das TVs, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, 67, acredita que crises como a enfrentada pelo SBT, pela exibição de uma entrevista com falsos integrantes de uma organização criminosa, poderiam ser evitadas se as emissoras adotassem manuais de conduta ética.

"É fundamental que todos os profissionais da empresa conheçam o pensamento do dono", afirma o ex-vice-presidente da Globo, contrário à suspensão da exibição de programas pela Justiça, mas favorável à punição pelo poder concedente, o governo federal, em casos de repetição.

Boni afirma que, à exceção da Globo, a televisão brasileira é "um deserto", está no fundo do poço, não tem criatividade.

A solução para Boni, atualmente envolvido com duas afiliadas da Globo no interior de São Paulo, é a regionalização da programação. "O modelo de rede nacional está esgotado", afirma.

A seguir, os principais trechos de entrevista concedida por Boni.

Folha - O sr. foi contra a proibição pela Justiça da exibição do "Domingo Legal". Qual seria o ideal?

José Bonifácio de Oliveira Sobrinho
- O julgamento é a sociedade que tem de fazer, por grupos de pressão, ONGs, e a punição, pelo poder concedente. O poder concedente deve aplicar punições gradativas, que podem até culminar na cassação do canal.

É preciso que o poder concedente tenha coragem de aplicar o seu poder não censurando, mas examinando a conduta ao longo do período da concessão, e avaliar se ela vai ser renovada ou não.

Folha - O que o sr. acha da campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania?

Oliveira Sobrinho
- É uma boa campanha. A punição financeira é a mais fácil. Não só os anunciantes, mas as verbas governamentais não podem ir para emissoras que não tenham conduta correta.

Folha - Se o sr. estivesse no SBT, com os poderes que teve na Globo, como agiria no caso do Gugu?

Oliveira Sobrinho
- É impossível para um empresário ou diretor de emissora assistir a 24 horas de sua programação. É fundamental que as emissoras tenham uma política de conduta, o chamado "police", que seja vertical e horizontal, que todos os funcionários conheçam o pensamento do dono, para evitar deslizes.

Folha - Aparentemente quase não há política de ética...

Oliveira Sobrinho
- Acho que não tem praticamente nada na TV brasileira. São raras.

Folha - Seria o caso de adotar manuais e códigos de ética?

Oliveira Sobrinho
- Sim.

Folha - E um código de ética por meio de lei?

Oliveira Sobrinho
- Não acredito em nada que se faça por lei, por imposição. Isso é responsabilidade de quem tem a concessão.

Folha - O caso de Gugu pode contribuir de alguma forma para a melhoria da TV brasileira?

Oliveira Sobrinho
- Um deslize dessa natureza contribui para melhorar. Serve de ensinamento.

Folha - A televisão brasileira está no fundo do poço?

Oliveira Sobrinho
- Não. Quando falo que o modelo está esgotado, quero dizer que temos apenas um grande produtor de conteúdo, que é a Rede Globo, que tem políticas muito claras de produção, comercialização, de conduta.

Um país do tamanho do Brasil precisa de mais de uma fonte de informação, de produção.

Folha - Tirando a Globo, as outras TVs estão no fundo do poço?

Oliveira Sobrinho
- Estão. Acho um deserto. Há empresários competentes, mas não percebo vontade. Deixaram que a Globo tomasse tal dianteira, perderam a vontade de competir. Sem competição não há melhoria, não há qualidade, não há inovação.

Folha - O sr. não acha que a Globo está exagerando um pouco em sexo e violência em suas novelas?

Oliveira Sobrinho
- Sinceramente, eu procuro não ver muita televisão. Não seria capaz de dizer se há exagero ou não porque essas coisas são mutáveis. Com o tempo vai se mudando a conduta social. Sei é que falta inovação.

Folha - Também para a Globo?

Oliveira Sobrinho
- Também. Acho que estamos retornando a coisas antigas. É preciso um esforço criativo. Sou contra a importação de formatos.

Folha - O sr. assistiu a "Big Brother Brasil", programa de formato importado dirigido pelo seu filho?

Oliveira Sobrinho
- Vi. Eu não gosto do texto, dos atores. Há uma situação de falsificação de realidade. A separação entre ficção e realidade é muito tênue.

Se você entrevista um criminoso qualquer está abrindo um microfone para ele fazer apologia do crime, fazer ameaças. Isso é gravíssimo. Quando você falsifica isso, é mais grave ainda porque você está ameaçando a sociedade com uma ameaça inexistente.

Folha - Isso é desespero?

Oliveira Sobrinho
- Exato. Porque a TV Globo tem hoje 50% da audiência e 80% das verbas publicitárias. Sobram 20% para todas as outras redes. De repente, para conquistar alguns pontos de audiência e tentar vender esses pontos você fica sujeito a uma acrobacia criativa que vai acabar se dirigindo para o pior lugar.

Folha - Como reagir?

Oliveira Sobrinho
- Não dá mais tempo de montar uma outra TV Globo. Então a maneira de enfrentar esse problema é através do local, do regional.

Folha - É viável financeiramente?

Oliveira Sobrinho
- Não sabemos. Mas é uma experiência pela qual temos de passar. A tônica é que nós temos um Brasil tão diversificado que há caminhos para fazer esse tipo de televisão.

Folha - As concorrentes da Globo deveriam deixar de ser redes?

Oliveira Sobrinho
- Acho que pode ser rede nacional e respeitar a programação local.
 

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