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01/10/2003 - 07h54

Crítica: "Hotel" de Bortolotto é alternativo e antológico

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SERGIO SALVIA COELHO
crítico da Folha

"Hotel Lancaster" segue a estratégia das histórias em quadrinhos: uma trama simples, um cenário único e marcante, personagens definidos em linhas claras que partem da caricatura para chegar ao arquetípico, graças à paixão dos atores.

A trama de Mário Bortolotto poderia estar em uma "graphic novel" de Will Eisner.

Um quarto imundo de hotel barato, centro do tráfico paulistano, na noite de Réveillon, no qual se cruzam traficantes, viciados e todas as categorias intermediárias, tendo em comum a solidão e a crueldade.

Ninguém é vítima, ninguém é herói, em um desespero de dar vontade de rir. Cada tiro é de misericórdia, e os mais moralistas são os fornecedores. Não há proselitismo de denúncia, nem ingenuidade de endosso: quer se drogar? Aguente.

O grande mérito dessa primeira direção de Marcos Loureiro é o de deixar o espetáculo ser o que é, ingênuo às vezes, com um ou outro golpe de teatro um pouco arbitrário, mas endossado com volúpia por atores que sabem o que estão falando.

Navegando nas marcas simples e eficazes de Loureiro, Sérgio Mastropasqua (o narrador que vem derrubar tudo no final, como o lobo dos três porquinhos) e Henrique Stroeter (o irritante viciado Odosvaldo) carregam na caracterização, mas enchem a trama de eletricidade.

A essa energia transbordante se contrapõe a força tranquila de Jorge Cerruti como Sam, dono do quarto, e a de Angela Dip, a aparentemente inabalável Lola.

Ambos freaks e traficantes, dão a entender sua fragilidade sem perder a agressividade jamais.

Trágico e hilário

A ambiguidade de postura é particularmente aproveitada pelo par de viciados, um brinquedo dos outros.

Igor Zuvela é trágico e hilário ao se expor a qualquer humilhação. Patético sem nunca cair no ridículo, mantém com simplicidade uma grande empatia com o público. Thaís Barros se prostitui por amor, com uma sensualidade cheia de timidez, comovente em sua ingenuidade.

O grande Eduardo Silva comete a proeza de fazer o travesti Rick com todos os trejeitos a que tem direito, mas com uma antológica dignidade.

Assim, "Hotel Lancaster" é o que se pode esperar do melhor teatro alternativo: uma reunião de atores que se destacam em seus respectivos grupos (Tapa, Parlapatões), em horário de jam session.

Avaliação:

Hotel Lancaster
Texto:
Mário Bortolotto
Direção: Marcos Liu
Com: Angela Dip, Eduardo Silva, Henrique Stroeter, Igor Zuvela, Jorge Cerruti, Sergio Mastropasqua e Thaís Barros
Onde: Espaço Satyros 1 (pça. Franklin Roosevelt, 214, região central, São Paulo, tel. 0/xx/11/ 3258-6345)
Quando: terça e quarta, às 21h; até 29/10
Quanto: R$ 10
 

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