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10/10/2003 - 06h05

Produto sem disfarces não atinge emoção pretendida

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PEDRO BUTCHER
crítico da Folha

É um caso único no cinema brasileiro recente: menos de um mês depois de lançar seu primeiro filme ("Dom"), Moacyr Góes estréia seu segundo longa-metragem, "Maria - A Mãe do Filho de Deus". Projetos radicalmente diferentes em proposta e resultado. E, curiosamente, "Maria" é um produto muito mais bem-sucedido que "Dom".

"Dom" não tinha perfil. Não chegava a ser autoral, tampouco era comercial. Moacyr Góes queria homenagear Machado de Assis e seu "Dom Casmurro", mas traía o livro na essência, negando sua ambiguidade. O resultado foi a rejeição de público e crítica.

Mas, no caso de "Maria - A Mãe do Filho de Deus", não restam dúvidas. É um filme sem disfarces, não tenta enganar ninguém. É um filme de produtor, marcando a afirmação de Diler Trindade (que tem em sua cartela os filmes de Xuxa e Renato Aragão) e de seu projeto pela fixação de um cinema de grande público no Brasil.

O primeiro objetivo evidente de "Maria" é chegar ao espectador (a própria escolha da história de Nossa Senhora é um dado essencial nesse sentido). O segundo é servir de veículo para o padre Marcelo Rossi, o religioso popstar, um fenômeno tão profundamente brasileiro. O terceiro é, para além do comércio e do marketing, a pregação religiosa: "Maria" quer conquistar fiéis para a Igreja Católica. Tudo às claras.

Para cumprir essa agenda, construiu-se um roteiro muito simples, como um presépio, uma peça popular. Na periferia, Maria (Giovanna Antonelli) deixa sua filha com o padre Marcelo, que aproveita o tempo para contar para a menina a história de Nossa Senhora. A isso alterna-se a encenação dessa história, em que Maria é vivida pela própria Giovanna, o anjo Gabriel pelo padre e Jesus por Luigi Baricelli. Na trilha, as canções que tornaram o padre Marcelo famoso.

As cenas surgem ora de maneira mais convincente, ora de maneira risível, como a tosca cena em que Jesus transforma água em vinho. São belas as sequências do deserto, filmadas no Rio Grande do Norte. O filme não se preocupa com verossimilhanças, criando uma mistura de Brasil e de um espaço bíblico como ele se firmou no imaginário popular.

"Maria" só não é um produto 100% bem-sucedido porque não atinge a emoção que pretendia. Apesar da eficiente música incidental, o pouco entrosamento entre os protagonistas compromete o filme. Mais interessante é o elenco secundário, com nomes como Ítalo Rossi, Tonico Pereira, José Dumont e José Wilker, e ótimos jovens, como Malu Galli, Paulo Vespúcio e Bel Garcia.

Avaliação:

Maria - A Mãe do Filho de Deus
Direção:
Moacyr Góes
Produção: Brasil, 2003
Com: Giovanna Antonelli, Luigi Baricelli, padre Marcelo Rossi, Tonico Pereira, José Dumont
Quando: a partir de hoje, nos cines ABC Plaza Shopping, Anália Franco e circuito
 

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