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18/10/2003
-
08h58
PEDRO BUTCHER
crítico da Folha
Não se fie pelo título em português. "Dogma do Amor" é um batismo um tanto oportunista para "It's All about Love", filme que nada tem a ver com o Dogma a não ser o fato de ser dirigido por Thomas Vinterberg. Cineasta que se projetou na onda do movimento dinamarquês com o vigoroso "Festa de Família" (1998), Vinterberg faz aqui o oposto do que pregava com seu colega Lars von Trier, recorrendo a tudo o que antes ele se auto-proibiu de usar (música, cenários, formato cinemascope etc).
Mas, evidentemente, não é por trair o Dogma que "Dogma do Amor" é um filme malsucedido. Sua proposta é até interessante, não só por representar uma experiência radicalmente diferente para o diretor, mas, principalmente, pela busca de uma imagem poética que ganhe existência dentro da categoria do cinema-espetáculo.
O que Vinterberg não consegue, porém, é criar essa imagem sem escapar do kitsch e do acessório --justamente aquilo de que o Dogma procurava fugir. "Dogma do Amor" se passa num futuro recente em que pessoas caem mortas nas ruas (suspeita-se de que sejam homens e mulheres solitários cujos corações congelam subitamente). Em alguns pontos do planeta, notoriamente países da África, a gravidade acabou, criando problemas de flutuação súbita. Nesse cenário, circulam os personagens centrais: John (Joaquin Phoenix) e sua ex-mulher Elena (Claire Danes), uma estrela da patinação no gelo (quer coisa mais kitsch?).
Quando o filme começa eles estão separados há tempos. John quer apenas que Elena assine os papéis do divórcio. O que seria um encontro rápido torna-se um pesadelo em que surgem estranhas sósias de Elena e a necessidade de fuga de um mundo horrível, dominado pela exploração e pela reprodução do artista, e pela pura comercialização da beleza.
"Dogma do Amor" tem seus momentos inspirados, mas eles são pouquíssimos. A história enigmática esconde traços de maniqueísmo barato (o grande vilão do filme é um empresário cultural) e diálogos pueris. Buscando o poético, Thomas Vinterberg só conseguiu alcançar o bizarro. E o que era para ser bonito termina sendo cômico.
Avaliação:
Dogma do Amor (It's All about Love)
Direção: Thomas Vinterberg
Produção: EUA/Japão/Reino Unido/ Suécia/Dinamarca, 2003
Com: Joaquin Phoenix, Claire Danes, Sean Penn
Quando: hoje, às 21h30, no cine Metrô Santa Cruz 9, e dia 23, às 19h30, no Unibanco Arteplex 1
Especial
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Boa proposta de "Dogma do Amor" se rende ao kitsch
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crítico da Folha
Não se fie pelo título em português. "Dogma do Amor" é um batismo um tanto oportunista para "It's All about Love", filme que nada tem a ver com o Dogma a não ser o fato de ser dirigido por Thomas Vinterberg. Cineasta que se projetou na onda do movimento dinamarquês com o vigoroso "Festa de Família" (1998), Vinterberg faz aqui o oposto do que pregava com seu colega Lars von Trier, recorrendo a tudo o que antes ele se auto-proibiu de usar (música, cenários, formato cinemascope etc).
Mas, evidentemente, não é por trair o Dogma que "Dogma do Amor" é um filme malsucedido. Sua proposta é até interessante, não só por representar uma experiência radicalmente diferente para o diretor, mas, principalmente, pela busca de uma imagem poética que ganhe existência dentro da categoria do cinema-espetáculo.
O que Vinterberg não consegue, porém, é criar essa imagem sem escapar do kitsch e do acessório --justamente aquilo de que o Dogma procurava fugir. "Dogma do Amor" se passa num futuro recente em que pessoas caem mortas nas ruas (suspeita-se de que sejam homens e mulheres solitários cujos corações congelam subitamente). Em alguns pontos do planeta, notoriamente países da África, a gravidade acabou, criando problemas de flutuação súbita. Nesse cenário, circulam os personagens centrais: John (Joaquin Phoenix) e sua ex-mulher Elena (Claire Danes), uma estrela da patinação no gelo (quer coisa mais kitsch?).
Quando o filme começa eles estão separados há tempos. John quer apenas que Elena assine os papéis do divórcio. O que seria um encontro rápido torna-se um pesadelo em que surgem estranhas sósias de Elena e a necessidade de fuga de um mundo horrível, dominado pela exploração e pela reprodução do artista, e pela pura comercialização da beleza.
"Dogma do Amor" tem seus momentos inspirados, mas eles são pouquíssimos. A história enigmática esconde traços de maniqueísmo barato (o grande vilão do filme é um empresário cultural) e diálogos pueris. Buscando o poético, Thomas Vinterberg só conseguiu alcançar o bizarro. E o que era para ser bonito termina sendo cômico.
Avaliação:
Dogma do Amor (It's All about Love)
Direção: Thomas Vinterberg
Produção: EUA/Japão/Reino Unido/ Suécia/Dinamarca, 2003
Com: Joaquin Phoenix, Claire Danes, Sean Penn
Quando: hoje, às 21h30, no cine Metrô Santa Cruz 9, e dia 23, às 19h30, no Unibanco Arteplex 1
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