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17/08/2000 - 19h22

"Eu Tu Eles": "O padre não queria me casar com o Oscar", diz Marlene

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MARCELO BARTOLOMEI
enviado especial a Morada Nova (CE)

Acompanhe a entrevista com Marlene Sabóia, a mulher que viveu com três maridos no interior do Ceará e inspirou o roteiro do filme "Eu Tu Eles". Neste trecho, ela conta como vive atualmente e diz que era "danada" na adolescência e que um padre de Morada Nova não queria a casar com seu primeiro marido, Oscar Sabóia.

Folha Online - Como a sra. vive hoje? Quanto filhos tem?
Maria Marlene Silva Sabóia -
Tenho seis filhos, meus mesmo e um que crio. São sete.Tem o Clésio Silva Sabóia, 27, casado, o Erasmo, 20, que vai casar, o Edcarlos (filho do Chico), de 18, a Marclene, de 21, a Denise, de 23, o Wellington, 11, que é filho do Zé, e o Deusemar, de 21, que eu peguei para criar.

Folha Online - Como começou sua história?
Marlene -
Peguei uma amizade com o pai do meu filho mais velho, do Vicente, hoje com 27, daí eu pedi a meu pai para cuidar do meu filho enquanto eu ia para Fortaleza trabalhar porque eu não tinha condições e precisava dar dinheiro pra minha mãe. Já viu: não tinha marido. Passei uns seis meses lá e voltei, pelo menino. Cheguei aqui e minha mãe disse: - Marlene, sabe quem vai casar? O Oscar. Daí eu perguntei quem era o Oscar e ela me disse: - Claro que você sabe, é aquele rapaz velho, rico. E eu vinha vindo entregar um presente para minha concunhada aqui pra estes lados quando encontro com ele e ele ficou muito admirado. Eu era gorda, bonita neste tempo, tinha um cabelo comprido, era forte, mais preta porque vivia na praia. E ele perguntou se eu queria casar com ele. Eu disse que não. Vou deixar de viver na minha vida que vivo em Fortaleza, trabalhando, ganhando meu dinheiro, livre e desimpedida, passeando, usando o que eu quero, pra casar com você para depois viver aqui. Daí eu sai de lá e fui embora. Quando eu cheguei aqui ele veio atrás e chegou junto. Ele tinha 42 anos. Eu já tinha 19 anos. O Zuza, meu cunhado e irmão do Oscar, disse para ele se casar comigo e não com a Maria, que era uma mulher já velha, cega. Ele falou com meu pai e minha mãe. E eles insistiram para eu casar com ele. Meu pai disse: - Vai, minha filha, faz este pedido pra mim, casa com o Oscar. E então eu disse tá bom eu caso. - Casa mesmo?, perguntou meu pai. E eu disse que sim.

Folha Online - E como foi depois de tudo isso?
Marlene -
Ele voltou lá em casa depois que foram contar para ele que eu ia aceitar e me perguntou se eu queria mesmo. E eu disse que queria. E ele perguntou quando e eu disse que podia ser no dia seguinte. Era uma segunda-feira. Na terça, ele foi até a loja, comprou as roupas. Na quarta, ele foi atrás de marcar nosso casamento, já pensou, sem eu nem sequer sentar do lado dele, nem ele perto de mim. Ele tinha muito dinheiro neste tempo. Ele perguntou para o padre Pedro (da cidade de Morada Nova): - Padre, quanto o senhor quer para me casar com a Marlene? E o padre disse: - Sr. Oscar, eu não quero nada porque não tem mais esta lei de cobrar, mas sendo eu no seu lugar eu não casava com esta menina não, porque ela é uma doida. Ele já sabia das minhas presepadas lá. - Volte e pegue suas coisas lá, não faça isso, resmungou o padre. Meu apelido quando eu morava lá era Pepeta. - Melhor você ir embora do que casar com a Pepeta. Ele estava certo.

Folha Online - A sra. era "terrível" assim?
Marlene -
Eu era terrível de danada. Não tinha medo de nada. Tinha as coisas que eu também fazia. Nunca tive coragem nenhuma de arranjar marido de ninguém. Se um homem casado chegava pra mim e falava que queria alguma coisa comigo, durante aquele dia ou aquela noite eu não saía de casa, só para não olhar na cara dele. Mas com rapaz solteira eu não me importava. Daí eu cheguei para o padre e disse que se o Oscar quisesse era ele quem teria de viver comigo, não o padre. - Volte sábado que eu caso vocês, disse o padre. Daí voltamos para cá e fizemos a comida, mas eu ia casar com ele não era pelo amor. Nunca tive amor por ele. Era para fazer o pedido do meu pai. Como é que eu vou viver com um homem destes sem ter amor por ele?, perguntei para minha mãe. Daí ela me disse: - Pode até criar, mas vai ser difícil. Ele matou um porco, umas galinhas, uns patos, foi muita comida, para cem pessoas comerem, mas vieram poucas pessoas, meu cunhado, minha testemunha (prima dele), e alguns conhecidos. Eram seis pessoas. Depois que casamos, e eu estava com minha mãe, na casa dela, e não quis voltar com ele. Disse que queria ficar com minha mãe e meu filho. Aí fiquei. Quando foi 6h, cheguei com minha mala, tudo que eu tinha trazido de Fortaleza, na casa dele. E ele me perguntou se eu não ia no forró. Me casei com você hoje e tu já está me mandando pra um forró?, perguntei ao homem. E ele disse para que eu fosse mesmo. Eu então destranquei minha mala, me arrumei, me perfumei, eu tinha um brilho neste tempo e passei na boca, escovei bem escovado meu cabelo e fui. Passei na frente de uma casa e a mulher disse para outra que estava junto: - Olha lá a Marlene, mulher do Oscar, já brigou com ele! E eu fui lá e disse que ele que tinha me mandado ir. Fui, dancei a noite toda, nem lembrei que tinha me casado. Voltei para casa no outro dia bem cedo. Cheguei aqui e disse que queria almoçar carne. Ele mandou matar um bode e vivemos três anos em paz.

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