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20/10/2003 - 11h59

Santa Catarina e Rio de Janeiro proíbem raves

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ADRIANA FERREIRA
da Folha de S.Paulo

Antes, os piores inimigos dos "ravers" eram a lama e as estradas esburacadas. Agora, quando as festas são populares, e marcas de cerveja e de desodorante lucram com eventos eletrônicos, alguns Estados resolveram que as raves são perigosas e não podem mais acontecer.

Enquanto em São Paulo a prefeitura banca uma superfesta na rua, em Santa Catarina, a galera não pode nem pensar em fazer um evento do tipo. Principalmente, se ele se caracterizar como uma "festa rave", proibida em Florianópolis e em Balneário Camboriú.

A onda também atingiu o Rio de Janeiro, onde não acontecem raves desde junho. O motivo foi uma apreensão de drogas, como ecstasy e maconha, durante uma operação da polícia em uma festa em Niterói.

Tanto no Rio quanto em Santa Catarina, as autoridades evitam falar em proibição. O argumento para não permitir as raves está inserido dentro de uma série de ações para inibir a violência, o consumo e o tráfico de drogas.

No entanto, em março, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Defesa do Cidadão de Santa Catarina redigiu uma comunicação interna para conter a "escalada da violência", cujo quinto item proíbe a "realização de festas reaves (sic) [com música eletrônica]". O texto não fala sobre grandes shows de forró, de rock ou de MPB, apesar de o delegado-chefe da Polícia Civil, Dirceu Augusto Silveira Júnior, negar qualquer tipo de preconceito. "Várias ocorrências levaram ao veto das festas, independentemente do tipo de música", explica.

Segundo Silveira Júnior, a proibição é para os eventos com longas horas de duração, em local inadequado e que apresentem riscos aos frequentadores.

Por conta disso, o EletroHeart Festival, marcado para o último dia 4, e que reuniria 29 DJs em um complexo turístico de Camboriú, foi cancelado na véspera. "Pedi um alvará para que a festa acontecesse até as 4h, mas eles negaram", afirma o organizador, Herlon Hamm.

Para dar munição à secretaria, em setembro, durante a Magic Lagoon, festa que reuniu 3.000 pessoas em Florianópolis, aconteceram roubos, tiros e cenas de violência que foram parar nas manchetes de jornais e de TVs locais.

O mineiro Anderson Noise, um dos DJs do line-up, conta que jamais sentiu tanto medo. "Nunca vi uma confusão tão grande. Estava tocando e só parei quando a polícia invadiu o lugar", lembra.

Nesta noite, mais de dez pessoas acabaram presas e um estudante de Curitiba foi baleado na perna. A festa havia sido interditada pela Polícia Civil e só aconteceu porque um juiz concedeu uma liminar permitindo sua realização. "Cumprimos todas as determinações para poder fazer o evento e, quando fomos à Polícia Civil, eles disseram: "Rave não pode'", explica Gustavo Conti, um dos responsáveis pela Magic Lagoon.

O advogado Márcio Cristiano Dornelles Dias afirma que o problema foi a falta de disposição da polícia em cooperar com a segurança nas imediações do hotel. "Havia 120 seguranças contratados e foram protocolados três ofícios solicitando policiamento à PM, mas eles mandaram duas viaturas", afirma Dias.

O coronel Marlon Jorge Tezza, comandante do 4o Batalhão da PM, garante que a polícia estava lá a noite toda. "Os organizadores estão dizendo meias-verdades", argumenta Tezza.

No Rio

No Rio de Janeiro, a proibição não está no papel, mas as autoridades de lá também não têm permitido a realização das festas. Parte da luta dos organizadores foi registrada por três estudantes de jornalismo da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), e o resultado é o curta-metragem "Bad Trip", que documenta o cancelamento da Bunker Rave, uma megafesta que aconteceria em agosto.

"As pessoas têm uma imagem estereotipada e distorcida das raves, por isso resolvemos mostrar o outro lado", conta Izabela Cardoso, 21, que divide a autoria do filme com os colegas Paulo Henrique Grillo, 22, e Felipe Choll, 21.

Nenhum deles se considera um "raver". "Gosto de rock, mas já fui a algumas", conta Cardoso. "É uma festa diferente, a que as pessoas vão pela música, ao contrário das boates, onde os mauricinhos só querem jogar você contra a parede."

Se ela viu gente usando drogas? "É óbvio que vi. Mas não vejo mais frascos de lança-perfume em raves do que em uma micareta", diz a estudante.

Além da polícia, a igreja também está de olho nos "raveiros". Em Alto Paraíso, município goiano na região da chapada dos Veadeiros, por pouco a câmara de vereadores local não aprova uma lei proibindo as raves. "A igreja evangélica se mobilizou e fez a maior pressão pela criação da lei, mas o prefeito a vetou por ser inconstitucional", explica Devon Chook, produtor da Trancendence, que reuniu 4.200 pessoas em julho.

Se a coisa continuar assim, o jeito é se aventurar, como as amigas e ravers gaúchas de carteirinha Herika Nickel Vicz, 23, e Raquel Moraes, 21, que estavam na edição de setembro da festa Circuito, que aconteceu em Arujá (SP). "Venho no sábado, curto a balada e volto para Porto Alegre no dia seguinte", diz Herika, que troca os clubes pelas raves.

A promotora de eventos Priscila Akemi, 20, que também estava na Circuito, é outra que prefere as raves. "Acho mais seguro do que os clubes. É mais organizado", explica.
 

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