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21/10/2003 - 07h00

Documentário de Errol Morris mexe em feridas do Vietnã

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PEDRO BUTCHER
crítico da Folha

Errol Morris, 55, acredita que o cinema pode mudar o mundo. Não por idealismo ingênuo, mas porque um de seus filmes o fez. Em "The Thin Blue Line" (88), sua investigação sobre as circunstâncias que levaram à condenação do jovem Randall Adams pelo assassinato de um policial em Dallas, em 1976, resultou na prova de sua inocência e na confissão do real assassino.

"É evidente que os filmes podem mudar as coisas. Mas quase nunca isso se dá de forma previsível", diz Morris à Folha.

Morris não acredita que "Sob a Névoa da Guerra", seu novo documentário, que passa hoje na Mostra tenha consequências tão explícitas. Mas espera que mude a percepção em torno de uma figura fundamental da história dos EUA --Robert McNamara, 87-- e lance nova luz sobre fatos turvos da política americana.

"Esse filme traz informações inéditas e levanta uma série de questões a respeito de sua conduta e da nossa, como nação", diz.

Em vários aspectos, o filme é uma bomba. Dividido em 11 capítulos, ele dá voz ao homem de origem humilde que em 1942 se tornou membro do Centro de Controles Estatísticos da Aeronáutica e, em 1960, tornou-se secretário de Defesa do presidente Kennedy (1917-1963), tomando decisões cruciais na Guerra do Vietnã.

Há dados inéditos e chocantes sobre os ataques ao Japão que precederam as bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, uma descrição bem mais realista que a vigente da crise dos mísseis de Cuba, além de novos dados sobre as desastrosas decisões ligadas ao Vietnã. As entrevistas confessionais de McNamara têm como complemento imagens de arquivo e conversas de telefone inéditas entre os presidentes Kennedy (e depois Lyndon Johnson) e seu secretário de Segurança.

Morris sabe que a própria decisão de dar voz a McNamara é controversa. De alguma forma, ele dá chances de autodefesa a um homem visto como um monstro.

"Tenho consciência dessas críticas, mas não acredito que sejam justas. Tudo o que busquei foi um retrato humano de McNamara e uma visão mais correta de sua interferência na história. Meus sentimentos e opiniões a respeito da Guerra do Vietnã não mudaram. A pergunta é "Como McNamara se envolveu nessa guerra?'; a resposta fácil seria "Porque ele era um homem mau e fez coisas más", mas dela quis fugir. Também procurei fugir da apologia, apenas quis pôr as coisas em seus devidos lugares. Acho que consegui."

O filme, de certa forma, completa um processo iniciado pelo próprio McNamara em três de seus livros. "Os livros me pareceram mais uma autobiografia disfarçada do que outra coisa."

McNamara concordou, no início, conceder duas entrevistas de uma hora. "Depois de muita negociação acabamos marcando várias outras, e terminamos com 20 horas gravadas. Mais tarde ele me disse que isso foi possível porque me achou um bom entrevistador. Dominava os assuntos e o mantinha interessado nas conversas".

Mas será que essa "sedução" foi recíproca? "Não diria que fui seduzido por ele, mas desenvolvi uma empatia que de forma alguma deve ser confundida com simpatia. Tentei entender quais motivações o levaram a agir daquela forma. Eu o respeito e sou fascinado por McNamara. Mas não esqueço o que ele fez."

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