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23/01/2002 - 09h00

O diálogo desarmando o choque de civilizações

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JAIME SPITZCOVSKY
Free-lance para a Folha de S.Paulo

Osama bin Laden, se não conseguiu abalar os alicerces do império como esperava, acabou disparando uma das mais intensas mobilizações da história para explicar o islamismo aos ocidentais.

Divulgação
Livro fala de origens, fontes, profetas e divisões do islamismo
Livro explica origens, fontes, profetas e divisões do islamismo

Vítima antiga de preconceitos e de simplificações maniqueístas, a segunda maior religião do planeta teve ainda de enfrentar a avalanche de idéias preconcebidas alimentadas pelos atos tresloucados do terrorista saudita.

O livro "O Islã", da coleção "Folha Explica", surge exatamente no bojo desses esforços para separar o joio do trigo e para lançar golpes de razão num debate muitas vezes ameaçado de sequestro pela emoção.

Paulo Daniel Farah, jornalista da Folha, autor do livro, se mostra disposto a desarmar a "confusa e frágil teoria do choque de civilizações" e, para iniciar a esgrima, escolhe como epígrafe uma citação de Mohamad Khatami, presidente do Irã.

Embora lidere um país com uma diplomacia longe de poder ser chamada de flexível, Khatami ganhou notoriedade por preconizar "um diálogo sincero de civilizações", tese sedutora num início de século torpedeado pelos vendedores de idéias baseadas na incompatibilidade de convivência pacífica entre diferentes espaços culturais e religiosos.

Ao longo do livro, Farah atravessa diferentes aspectos do Islã, a fim de minar os preconceitos que cercam a religião e de mostrar que terroristas islâmicos buscam "inspiração" em leituras distorcidas de textos sagrados.

No Brasil

Os capítulos escritos por Farah pulam de temas como a história do profeta Muhammad a aspectos contemporâneos, entre eles a presença muçulmana no Brasil, a era pós-colonização e os conflitos atuais, com especial destaque para situação no Oriente Médio.

O jornalista reserva ainda algumas páginas para iluminar a influência árabe no idioma português, listando palavras como nuca, fulano, xarope, moleque, sorvete e talco.

Outro termo destacado por Farah é o salamaleque, versão aportuguesada da expressão "Assalam aalaika" ("Que a paz esteja com você").

Para os iniciantes no mundo do Islã, o livro traduz com didatismo termos atualmente frequentes no noticiário internacional. Explica as diferenças entre fundamentalismo e extremismo, além de destrinchar conceitos como xiismo (um dos ramos da religião), sharia (lei islâmica) e califa (sucessores do profeta Muhammad).

Papel secundário

Em suas pinceladas na história, Farah monta um quadro interessante das contribuições árabes e islâmicas em campos como matemática, medicina, arquitetura e literatura. Mas dedica exíguas linhas para explicar as razões que levaram o mundo muçulmano a ter, nos últimos séculos, um papel de menor destaque no cenário internacional.

O jornalista aponta o Império Otomano como fator que "provocou estagnação nos territórios sob seu domínio a partir do final do século 16".

No capítulo dedicado à explanação do intrincado conflito do Oriente Médio, o livro deixou de mencionar fatos cardinais da história recente.

Não há, nas oito páginas reservadas ao tema, uma linha sobre as negociações de Camp David, ocorridas em 2000 e que representaram, apesar das diferenças de visões que levaram ao impasse, um marco na busca de uma solução negociada para a crise israelo-palestina.

Na descrição do conflito, Farah deixa em segundo plano contextualizações importantes e prefere destacar os momentos de confronto entre tropas israelenses e manifestantes palestinos.

As abordagens maniqueístas despontam como um dos principais fatores a dificultar o chamado "diálogo de civilizações" e a jogar uma nuvem de fumaça que torna mais difícil a compreensão da crise no Oriente Médio.

Reduzir um conflito complexo e cheio de nuanças a um embate entre "bons" e "maus" ou entre "heróis" e "vilões" significa demonizar um dos lados e emprestar-lhe o monopólio da injustiça e da truculência. Nem o Islã nem Israel merecem esse rótulo.

"Folha Explica o Islã"
Autor: Paulo Daniel Farah
Editora: Publifolha
Páginas: 112
Quanto: R$ 18,90
Onde comprar: nas principais livrarias, pelo televendas 0800-140090 ou pelo site da Publifolha

 

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