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23/10/2003 - 07h59

Stephen Frears retrata luta de classes em "Coisas Belas e Sujas"

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JOSÉ GERALDO COUTO
colunista da Folha

Dezoito anos depois do filme que lhe deu renome mundial, "Minha Adorável Lavanderia", Stephen Frears volta ao tema dos imigrantes que buscam um lugar ao sol em Londres.

Mas a barra, em "Coisas Belas e Sujas", é muito mais pesada. Aqui os personagens, premidos por uma situação social impermeável, vivem na faixa sinistra que vai do subemprego ao submundo do crime.

Okwe (Chiwetel Ejifor) é um médico nigeriano que trabalha de dia como chofer de táxi e de noite como recepcionista de hotel, mantendo-se acordado à base de uma erva medicinal. Mora clandestinamente no apartamento da jovem turca Senay (Audrey Tautou), camareira no mesmo hotel em que ele trabalha.

Um dia Okwe encontra um coração humano entupindo a privada de um dos quartos do hotel e acaba por descobrir um esquema de tráfico de órgãos. Imigrantes ilegais trocam um rim por um passaporte falso.

A partir daí, Frears imbrica habilmente três filmes em um: a trama policial, a denúncia social à maneira de Ken Loach e a história de amor de Okwe e Senay.

Se a trama policial, com seu vilão cartunesco --o espanhol Juan "Sneaky", gerente do hotel--, tem algo de fantasioso e inverossímil, o quadro social pintado pelo filme é muito eloquente.

Todos os personagens são imigrantes e entre eles se desenvolve uma selvagem luta de classes.

Os já estabelecidos, como "Sneaky" e o proprietário turco de uma lavanderia, exploram das mais diversas maneiras os pobres diabos recém-chegados ou acossados pela polícia.

A crítica é ácida. O tráfico de órgãos é uma macabra metáfora da lei capitalista da oferta e da procura. A própria imagem central do filme --um coração jogado na privada-- é um retrato nada sutil de uma sociedade em que o sentimento foi descartado.

Significativamente, a única cena em que, à exceção da polícia, aparece um inglês "legítimo", é para comprar um rim extraído de um imigrante.

E ele ouve de Okwe a frase que vale por um manifesto: "Nós somos as pessoas que vocês não vêem. Somos nós que limpamos suas latrinas, dirigimos seus carros, chupamos seus paus".

Apesar da crueza do discurso, Frears paradoxalmente fez um filme elegante, no qual, se há algo a criticar, são determinadas concessões ao padrão narrativo hollywoodiano, com seu estudado equilíbrio entre drama e humor, seu maniqueísmo e sua catarse sentimental.

Para o bem ou para o mal, não deixa de ser uma proeza transformar uma história escabrosa num filme de entretenimento.

Avaliação:

Coisas Belas e Sujas (Dirty Pretty Things)

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