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05/09/2000 - 05h54

Terceira etapa de Festival consagra crônica de costumes

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES, da Folha de S.Paulo

Em sua terceira eliminatória, o Festival da Música Brasileira da Globo viajou ao "Brasil de cima". Entre as concorrentes mais decentes, estiveram vários exemplares.

"Quando Dorme Alcântara" encenou o ritualismo maranhense de Tião Carvalho, membro do grupo Mafuá e autor da belíssima "Nós", que foi gravada em 88 por Ná Ozzetti e se transformou em sucesso na voz de Cássia Eller, em 96.

"Moleque Tinhoso", de Ivan Cardoso, trouxe ao circão global o bumba-meu-boi do Pará, sem qualquer traço da vulgaridade que tem acometido o gênero.

"Valsa em Se", defendida pela muito solene Clarisse, era de um amazonense radicado em São Paulo. Menos nortista, o paraibano Chico
César faltou.

A defesa de sua "Antinome" por intérprete menos áspero (o baixista Hebert Azul) suavizou a canção, que se revelou climática, sedutora. A locução global desqualificou repetidas vezes o intérprete substituto, e Chico César podia ter passado sem essa.

Bem, todas as canções citadas foram desclassificadas. Em vez das simbologias norte-nordestinas, o júri preferiu a crônica de costumes centro-sulistas, da mineirice brasiliense de "Necessidade Básica", do gauchês pesado de "Tudo Bem, Meu Bem", das carioquices/paulistices de "Bigamia".

Nas camisinhas e sedas de "Necessidade Básica", no rock chupado de Marianne Faithfull de "Tudo Bem, Meu Bem" e no pastelão sem graça à Premeditando o Breque de "Bigamia", a escolha foi pela média, pelo governo aparente do ponto-de-vista paulista.

Não são, em geral, más canções, mas evidenciam a rejeição do júri pelo ufanismo que a Globo pretende imprimir ao festival, de sambistas vestidos de verde-anil-amarelo, samba-enredo ao Descobrimento e versos-simulacro de "caminhando contra o vento". A rejeição escoou, de resto, ao show salva-audiência ufanista/de protesto de Gabriel o Pensador e Cidade Negra, em tudo inconvincente.

As eleições se aproximam, e o festival se presta (como sempre acontece na programação da rede majoritária) a um desejo global de otimismo, de ufanismo em prol de uma suposta purificação do Brasil.

Não fosse tão cínica a proposta por parte de quem a apresenta, poderia até funcionar. As canções ufanistas se classificariam, a crônica de costumes iria para as cucuias e o Ibope não apontaria os estertores de audiência que nem os gritos de "isto aqui está uma loucura" por parte dos repórteres disfarçam. Não é o que está acontecendo.

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