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05/09/2000 - 05h55

Cinema: Frears lança 1º favorito em Veneza

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AMIR LABAKI, da Folha de S.Paulo

A fraca competição do Festival de Veneza-2000 já tem seu primeiro favorito: o drama social britânico "Liam", de Stephen Frears ("Ligações Perigosas"). Por meio de um retrato das agruras de uma família católica durante a depressão dos anos 30, Frears comenta com sutileza a presente ascensão da nova direita européia.

"Liam" parece mais um filme de Ken Loach do que de Frears. No bairro irlandês de Liverpool, o desemprego condena inúmeros lares ao desespero. O da família Sullivan é um deles.

Assiste-se a tudo pelos olhos de Liam, um garoto esperto, mas gago, de 7 anos. Enquanto seus dois irmãos sustentam a casa em subempregos, o pai se humilha em busca de um posto e a mãe alimenta a todos recorrendo à casa de penhores e aos favores de vizinhos.

O roteiro de Jimmy McGovern (o mesmo de "O Padre", de 1994) articula admiravelmente o drama privado à tragédia social. A catequização de Liam anda em paralelo com a conversão ao fascismo de seu pai. Frears e McGovern emprestam rara concretude e coerência psicológica a radicalizações xenófobas e anti-humanistas.

Ian Hart ("Terra e Liberdade") e a não mais desconhecida Claire Hackett estão estupendos como o casal Sullivan. Anthony Borrows, 8, debuta ao lado de Liam. Tem carisma, esbanja técnica e, milagre de Frears, nada carrega daquele tipo de menino que suplica simpatia ao nosso olhar.

Um dos mais tocantes momentos de "Liam" é uma homenagem ao poder analgésico do cinema, como em um "flash" de "A Rosa Púrpura do Cairo".

Sinal dos tempos, trata-se de uma produção para a TV (BBC). "Fiz este filme para a televisão, pois a BBC costumava fazê-los", explicou Frears. "É uma tradição que acho que deve ser mantida viva."
Numa conjuntura dividida entre previsões apocalípticas e um certo otimismo mágico diante das inovações tecnológicas, nada como um pequeno grande filme para esclarecer tudo e recolocar a discussão. Obras assim parecem ser a marca registrada do ainda subestimado diretor Stephen Frears.

Reinaldo Arenas

Há menos o que celebrar na versão para as telas de "Antes Que Anoiteça", a autobiografia póstuma do escritor e dissidente cubano Reinaldo Arenas (1943-1990). Não é difícil entender por que Julian Schnabel resolveu adaptá-la em seu segundo filme.

Como Basquiat, Arenas foi um artista marginal por temperamento, incapaz de se adaptar às regras do jogo -para o pintor, o do grande mundo da arte em Nova York, para o escritor, o da Cuba autoritária de Castro.

"Antes Que Anoiteça" chega ao cinema já algo datado. "Morango e Chocolate" (1994), de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío, fez antes e melhor tudo o que Schnabel busca destacar: a repressão artística e a perseguição aos homossexuais comandadas pelo regime castrista, a forte cena literária "gay" em Havana, o plebiscito com os pés representado pela maciça emigração em 1980 (o caso Mariel).

A contrapelo de suas interpretações anteriores, Javier Bardem ("De Salto Alto", "Carne Trêmula") compõe um Arenas frágil e carismático. É o favorito óbvio para o prêmio de melhor intérprete. Hector Babenco faz uma breve ponta, quase sem falas, como um dos mestres de Arenas, Virgílio Piñera.

Uma expressiva manipulação de cores, que surgem como que aveludadas, comenta a narrativa linear e cronológica. Escrever bem, como Arenas confirma, é retirar o máximo de expressividade do mínimo de recursos. Schnabel não aplica a regra ao cinema, esticando tudo e cedendo à redundância.

As imagens mais fortes de seu tributo acompanham os créditos finais e foram extraídas do documentário "P.M." (1961), um retrato impressionista da noite de Havana considerado anti-revolucionário pelo nascente despotismo castrista. É duro concorrer com o real.

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