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05/09/2000 - 06h01

Detentos do Carandiru visitam Mostra

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FABIO CYPRIANO, da Folha de S.Paulo

Dez detentos do Complexo do Carandiru ganharam ontem liberdade por duas horas. Esse foi o tempo da visita ao módulo Arte Barroca, na Mostra do Redescobrimento, no parque Ibirapuera, em São Paulo.

Eles foram os encarregados de coordenar o trabalho de confecção das 250 mil flores de papel que fazem parte da cenografia de Bia Lessa para a arte barroca. "Nem sabia para que estava fazendo as flores. Vi na televisão e fiquei surpreso, mas, ao vivo, é melhor ainda", disse Paulo Sérgio, um dos detentos.

Dois monitores da mostra acompanharam a visita, além de dez seguranças da Polícia Civil, e explicaram as obras expostas. "Isso me dá mais força para voltar ao convívio social", disse Fernando Dias Gonçalves, preso há 16 anos e que pela primeira vez saía do Carandiru. Ele ainda tem dois anos e meio de pena para cumprir.

"O melhor é saber que essas flores saíram de nossas cabeças, pois eles nos deram um modelo que seria muito difícil de ser realizado e desenvolvemos uma forma que possibilitaria um trabalho mais rápido", disse Gonçalves.

Os presos tinham até 60 dias para confeccionar todas as flores, mas em 50 dias terminaram o trabalho. "A ociosidade no Carandiru é muito grande, precisamos de mais trabalhos assim", contou Gonçalves.

Para cumprir a tarefa, eles levaram em média cinco minutos para fazer uma flor. "Os mais espertos precisavam de apenas um minuto", contou Sérgio.

Ao longo das duas horas em que permaneceram no prédio, os detentos fizeram várias perguntas aos monitores. Queriam saber, por exemplo, por que nas esculturas de Aleijadinho as roupas não estão grudadas no corpo. "Há sempre um movimento de espiral em torno das obras de Aleijadinho, é como se elas estivessem voando", explicou Anderson Lima, um dos monitores.

O secretário de Assuntos Penitenciários, Nagashi Furukawa, acompanhou os detentos. "Espero tornar o cumprimento da pena algo minimamente humano, com iniciativas como esta visita", afirmou.

A iniciativa de levar os detentos ao Ibirapuera foi de Guilherme Isnard, assistente de Bia Lessa. Antes de entrarem no prédio da Bienal, onde está o módulo de Arte Barroca, eles receberam um papel com uma citação de Fernando Pessoa: "O homem que não sonha é uma besta sadia ou um cadáver que procria".

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