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31/10/2003
-
07h37
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo
A fase pop-chiclete da obra de Rita Lee, dos anos 80, não costuma ser a predileta de admiradores e críticos entre as tantas já atravessadas. Mas é a ela que Rita resolve se reportar em "Balacobaco", um disco que busca leveza no romantismo e, aqui e ali, em discothèques matreiras como "Lança Perfume" (80) e "Saúde" (81).
O resultado é um disco de fácil e rápida absorção, embora nunca chegue a se equiparar à harmonia musical que governava os primeiros anos da parceria Rita Lee-Roberto de Carvalho.
Mas a ligação com sucessos tipo "Chega Mais" (79), "Baila Comigo" (80) e "Flagra" (82) não deixa de ser pista falsa. Rita aparece igualmente nostálgica do canto de cisne "Rita e Roberto" (85), o disco mais elaborado e menos comercializado daquele período.
Propósito ou ato falho, "Nave Terra" e "A Gripe do Amor" se nutrem, respectivamente, das gostosas "Nave Maria" e "Vírus do Amor", ambas do disco de 85. O tênue prestígio de 85, porém, é deslocado dessas duas (frouxas) faixas para outras, em especial a candente balada de identidade fraturada "Eu e Mim", doce e confessional: "Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma".
O mesmo ocorre no duo "As Mina de Sampa", maroto ska paulistano para Rita Lee, e "Copacabana Boy", doída bossa nova para Roberto de Carvalho. As três são românticas como "Vítima" ou "Choque Cultural" (85), não como "Doce Vampiro" (79) ou "Caso Sério" (80).
Já a veia revisora dos anos de sucesso (79-82) se esparrama por mais do CD, principalmente na curiosa associação com Moacyr Franco. Seu rock roliço "Tudo Vira Bosta" é um tema de protesto disfarçado de conformismo.
Moacyr parece querer dizer: se tudo será isso após o processamento intestinal, por que não sermos isso desde já? Nova pista falsa: o discurso por trás é de queixume contra os preconceitos que determinam que isso é ouro, aquilo é bosta. Guardadas as incompatibilidades, Rita e Moacyr têm, sim, isso em comum.
Essa hesitação tem de ser transposta para que soem convincentes "A Fulana" (espeto feminino/ masculino dirigido à "Namoradinha de um Amigo Meu", de Roberto Carlos), a valsa tribalista "Já Te Falei" e o proletariado de empregada-patroa discriminadora no drum'n'brega "Balacobaco".
Importa é onde tudo isso desemboca: no fecho de prata "Hino dos Malucos", uma correção da "Balada do Louco" (72) dos Mutantes em coligação global com os roteiristas de "Os Normais".
"Quando a solução se encontra/ um maluco é do contra", reivindica essa nova "Orra Meu" (80). Ali está Rita Lee, lutando atrapalhada pelo bem de esquizofrênicos, donas-de-casa, gays, românticos adoentados, preconceituosos conformados & outros malucos.
Avaliação:
Balacobaco
Artista: Rita Lee
Lançamento: Som Livre
Quanto: R$ 25, em média
Rita Lee volta à defesa dos malucos e ao pop-chiclete
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da Folha de S.Paulo
A fase pop-chiclete da obra de Rita Lee, dos anos 80, não costuma ser a predileta de admiradores e críticos entre as tantas já atravessadas. Mas é a ela que Rita resolve se reportar em "Balacobaco", um disco que busca leveza no romantismo e, aqui e ali, em discothèques matreiras como "Lança Perfume" (80) e "Saúde" (81).
O resultado é um disco de fácil e rápida absorção, embora nunca chegue a se equiparar à harmonia musical que governava os primeiros anos da parceria Rita Lee-Roberto de Carvalho.
Mas a ligação com sucessos tipo "Chega Mais" (79), "Baila Comigo" (80) e "Flagra" (82) não deixa de ser pista falsa. Rita aparece igualmente nostálgica do canto de cisne "Rita e Roberto" (85), o disco mais elaborado e menos comercializado daquele período.
Propósito ou ato falho, "Nave Terra" e "A Gripe do Amor" se nutrem, respectivamente, das gostosas "Nave Maria" e "Vírus do Amor", ambas do disco de 85. O tênue prestígio de 85, porém, é deslocado dessas duas (frouxas) faixas para outras, em especial a candente balada de identidade fraturada "Eu e Mim", doce e confessional: "Alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma".
O mesmo ocorre no duo "As Mina de Sampa", maroto ska paulistano para Rita Lee, e "Copacabana Boy", doída bossa nova para Roberto de Carvalho. As três são românticas como "Vítima" ou "Choque Cultural" (85), não como "Doce Vampiro" (79) ou "Caso Sério" (80).
Já a veia revisora dos anos de sucesso (79-82) se esparrama por mais do CD, principalmente na curiosa associação com Moacyr Franco. Seu rock roliço "Tudo Vira Bosta" é um tema de protesto disfarçado de conformismo.
Moacyr parece querer dizer: se tudo será isso após o processamento intestinal, por que não sermos isso desde já? Nova pista falsa: o discurso por trás é de queixume contra os preconceitos que determinam que isso é ouro, aquilo é bosta. Guardadas as incompatibilidades, Rita e Moacyr têm, sim, isso em comum.
Essa hesitação tem de ser transposta para que soem convincentes "A Fulana" (espeto feminino/ masculino dirigido à "Namoradinha de um Amigo Meu", de Roberto Carlos), a valsa tribalista "Já Te Falei" e o proletariado de empregada-patroa discriminadora no drum'n'brega "Balacobaco".
Importa é onde tudo isso desemboca: no fecho de prata "Hino dos Malucos", uma correção da "Balada do Louco" (72) dos Mutantes em coligação global com os roteiristas de "Os Normais".
"Quando a solução se encontra/ um maluco é do contra", reivindica essa nova "Orra Meu" (80). Ali está Rita Lee, lutando atrapalhada pelo bem de esquizofrênicos, donas-de-casa, gays, românticos adoentados, preconceituosos conformados & outros malucos.
Avaliação:
Balacobaco
Artista: Rita Lee
Lançamento: Som Livre
Quanto: R$ 25, em média
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