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07/11/2003 - 03h41

Michel Gondry prepara nova investida em Hollywood

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BRUNO YUTAKA SAITO
da Folha de S.Paulo

A realidade é apenas um ponto de vista. E aqui não se trata do enredo de nenhum filme como "Matrix" (1999) e seu universo paralelo. Muito antes das graciosas "paradinhas no ar" de Keanu Reeves e cia., um diretor de clipes fazia uma revolução no conceito de vídeos musicais e, por extensão, nos conceitos audiovisuais.

O homem em questão é o francês Michel Gondry, 38, que ganha retrospectiva no Resfest 2003, que acontece em dezembro em SP.

Michel quem? Você provavelmente nunca deve ter ouvido falar nele, mas com certeza já deve ter visto suas produções esquisitíssimas, que desafiam a lógica e os conceitos mais elementares da física. É dele, por exemplo, o clipe de "Human Behaviour" (93), da cantora Björk, em que a islandesa passeia por uma floresta onírica de contos (e pesadelos) infantis, tomada por efeitos de animação gráfica e bonecos --como um urso de pelúcia gigante. Ou então, o recente "Fell in Love with a Girl", em que a dupla White Stripes é recriada em pecinhas de Lego.

"Não sei se provoquei uma revolução. Para mim, clipes não são apenas um material promocional para vender um disco, mas sim uma continuação do processo criativo do artista, uma expansão da mente", diz o diretor.

Novas técnicas

Foi com Gondry que os clipes saíram de padrões como "câmera centralizada no artista fazendo playback" e passaram a investir em outras linguagens e tecnologias, prontos para "inspirar" inúmeros diretores, da publicidade ao cinema. Só para citar um exemplo, é dele o efeito "bullet time" --a tal "paradinha no ar"--, criado em 1996 para um comercial da Smirnoff. "Claro que me irrito com isso. Quase sempre acham que fui eu quem copiei determinada técnica, quando na verdade fui eu o criador."

Mas dificilmente clipes dão a um diretor o devido reconhecimento --são vistos mais como reclames publicitários do que como arte. "É uma situação errada, porque o cinema logo vai atrás dos conceitos dos clipes, que atualmente representam o que há de mais moderno e inovador. Tem muitos cineastas que vêm do mesmo background que o meu."

A obra de Gondry é uma espécie de retomada do estado de pureza original do cinema se lembrarmos que essa arte é, em princípio, uma sequência de ilusões para contar uma história. Nos vídeos para "Let Forever Be" (Chemical Brothers), "Come into My World" (Kylie Minogue) ou "The Hardest Button to Button" (White Stripes), Gondry usa alta tecnologia com "cara" de trucagens centenárias, que remetem a técnicas como o uso de espelhos para emular imagens caleidoscópicas e seriais, ou stop-motion --recurso usado em animação de bonecos, aqui aplicada em pessoas--, entre outros. Em comum, conceitos de histórias dentro de histórias.

O Resfest, festival dedicado às novas mídias e tecnologias, e o DVD "The Work of Director Michel Gondry" (lançado nos EUA), que abrange seus principais trabalhos, começam a colocar a relevância de Gondry em devido foco.

O francês faz parte da mesma turma de Spike Jonze e Charlie Kaufman (respectivamente diretor e roteirista de "Quero Ser John Malkovich", 1999), mas ainda não achou seu lugar ao sol no cinema.

Após sua estréia, a comédia "Human Nature" (2001), com Tim Robbins, inédita no Brasil, ele tenta a sorte novamente com "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" (O Eterno Brilho do Sol na Mente sem Mancha), estrelado por Jim Carrey e com roteiro de Kaufman, em fase de finalização.

"É uma comédia muito geométrica, sobre um cara que quer apagar sua namorada da memória. Você vê o "apagamento" cena por cena, mas no meio do processo ele muda de idéia", tenta explicar Gondry. Mas explicação e lógica, nesse mundo, são artefatos desnecessários, inconvenientes até.
 

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