Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
07/11/2003 - 08h12

Diegues revela em textos a intimidade de "Deus É Brasileiro"

Publicidade

SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

O diretor Cacá Diegues, 63, conta 71 dias na vida de um filme, em "O Diário de Deus É Brasileiro", que chegou neste mês às livrarias, em edição da Objetiva.

O propósito inicial do cineasta, ao construir um diário de filmagens de seu 16º longa-metragem --"Deus É Brasileiro", que estreou em janeiro deste ano e foi visto por 2,6 milhões de espectadores--, era preencher uma lacuna no mercado editorial no país.

"A literatura de cinema no Brasil tem uma bela tradição acadêmica e ensaística, mas poucos exemplos de textos de realizadores sobre seus próprios filmes, uma literatura testemunhal de experiências práticas", diz Diegues.

"O Diário de Deus É Brasileiro" contorna sem dificuldades o desafio de transportar o leitor para o cotidiano da produção de um filme, na ótica de seu diretor.

Está lá o xadrez emocional e profissional de Diegues com seus atores (os protagonistas Antonio Fagundes, Wagner Moura e Paloma Duarte, sobretudo), como neste exemplo: "Às vezes sinto que Fagundes não está totalmente convencido do que lhe peço, tenho a impressão de que ainda me testa, a seu personagem e ao próprio filme", anotado em 18/10.

Surgem também as questões técnicas das cenas mais difíceis, como as filmagens aquáticas e os sucessivos deslocamentos num filme-de-estrada que percorre milhares de quilômetros, à margem esquerda do São Francisco.

Mas o volume ultrapassa o caráter de diário de filmagens ao incorporar memórias e reflexões atemporais de seu autor. Tem-se o relato do último encontro de Diegues com Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988), depois que uma discussão pública sobre os (des)caminhos do cinema brasileiro provocou um abalo permanente na amizade dos dois cineastas. "Joaquim estava muito fraco, quase não falava mais. Segurei sua mão, e nós ficamos de mãos dadas, em silêncio. Acho que não percebeu que eu chorava."

Para Diegues, extrapolar em seu livro os acontecimentos específicos das filmagens é uma consequência natural de seu modo de se relacionar com os próprios filmes. "Quando faço um filme, ele está impregnado de idéias anteriores a ele, e ele mesmo gera novas idéias em mim. É disso que o livro trata, sem nenhum proselitismo ou vontade de convencer ninguém de nada", afirma.

Tome-se, então, como exemplo de uma convicção particular de Diegues, revelada em seu diário, o seguinte trecho:

"Não precisamos fazer filmes para que os pobres tenham consciência de sua miséria, porque eles já acordam todo dia no seio dela, os filmes "engajados" são, em geral, dirigidos aos que não são pobres e não têm com que se revoltar. Se quisermos fazer filmes para os pobres, solidários com eles, úteis a eles, temos que fazer algo como os comerciais de televisão, propaganda para lhes vender o produto que precisam consumir, alguma coisa que colabore com sua redenção social. A violência, por exemplo".

O DIÁRIO DE DEUS É BRASILEIRO
De:
Cacá Diegues
Editora: Objetiva
Quanto: R$ 44,90 (296 págs.)
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página