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07/11/2003 - 08h50

Indie Hip Hop dá espaço à "nova escola"

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ALEXANDRE MATIAS
free-lance para a Folha

Sábado e domingo assistem a um desfile de uma boa porção da "nova escola" do hip hop nacional. Longe do fantasma do gangsta rap (hoje tão anacrônico quanto os programas policiais das seis da tarde), a nova geração traz MCs e DJs cujas rimas e bases disparam metáforas contundentes e grooves mais ousados que a lenta e manjada cadência de baixos G-Funk. A reunião acontece no Sesc Santo André, no evento Indie Hip Hop, que traz a dupla californiana Blackalicious, além dos grupos Mamelo Sound System, Rhima Rhara, Instituto e do rapper Xis.

"É um dos motivos pelos quais estou indo para aí", explica Gift of Gab, nome de guerra de Tim Parker, vocalista do Blackalicious, em entrevista por telefone. "Sei que é fácil no mundo inteiro encontrar discos americanos, mas é muito difícil encontrar discos estrangeiros nos Estados Unidos. Mesmo saber de notícias fora daqui. Por isso, viagens para outros países são, na maioria das vezes, formas de obter informação. O X provavelmente sabe mais do que eu", afirma, referindo-se ao produtor da banda, Chief Xcel: "Ele faz questão de conhecer músicas do mundo inteiro e conhece um bocado de música brasileira".

O grupo de San Francisco lançou o festejado "Blazing Arrow" em 2002, integrando a sensacional fase de renovação do rap que acontece nos Estados Unidos. Os novos nomes vão desde insuspeitos manjados pelo mainstream, como Eminem, 50 Cent e as produções da dupla Neptunes (que vão de Ja Rule a Britney Spears), até os extremos sônicos de gravadoras como Def Jux (El-P, RJD2, Cannibal Ox) e Anticon (Dose One, Why?, cLOUDDEAD).

"É realmente uma ótima fase, em vários níveis diferentes", enfatiza o MC norte-americano. "Há tanta boa música sendo feita hoje, nomes como Talib Kweli, os Roots, Naz, Atmosphere, o Jurassic 5... Mesmo o 50 Cent, que está estourado, é ótimo. Há rap de ótima qualidade sendo produzido nos últimos anos", conclui.

Entre os extremos do mainstream e do underground, está a turma da Califórnia --e no centro da cena da Bay Area de San Francisco, está o coletivo Quannun, formado pelo DJ Shadow e pelos grupos Latyrx e Blackalicious. Essa cena californiana vem firmando conexão com o hip hop nacional há algum tempo: bambas como o multiinstrumentista Madlib, a dupla de DJs Babu e J-Rocc (parte dos Beat Junkies) e o MC Lyrics Born (metade do Latyrx) já passaram por São Paulo.

Born veio para o Brasil num evento semelhante a este Indie Hip Hop, que aconteceu no final de 2002. Ali estava plantada a idéia de um festival que reunisse os novos nomes da cena de hip hop brasileira. A nova escola também é caracterizada pelos chamados coletivos, agremiações de DJs, MCs, b-boys e grafiteiros (entre outras funções, como designers e webmasters) que atacam sozinhos, em duplas ou em conjunto, de acordo com a situação. Grupos de trabalho que privilegiam o processo ao produto e que celebram o aspecto comunitário dos primeiros dias do hip hop, resgatando parcerias e conexões que o hip hop dos anos 90 havia tornado impraticáveis, graças à cara de mau do gangsta.

"O Indie Hip Hop foi pensado justamente para mostrar a nova escola, essa nova safra que surge com outras propostas, outras idéias, tanto aqui quanto no Rio", explica Rodrigo Brandão, vocalista do Mamelo Sound System e um dos idealizadores do evento. Além dos nomes que se apresentam no festival, Brandão ainda lista outros artistas dessa nova geração: "Gente como o SP Funk, o Projeto Manada, o Consequência, o Max B.O., o DJ Nutz, o Pentágono, os Inumanos, o Black Alien, todos eles poderiam estar tranquilamente no festival".

Confiante no sucesso do evento, Brandão já imagina uma segunda edição, no ano que vem, para "mostrar grupos que estão sendo formados neste exato momento". Como atração de fora, cogita nomes como o produtor Prefuse 73, DJ Shadow e a apresentação The Revenge of the Robots, que reúne parte do elenco da gravadora Def Jux. "Mas isso é mais vontade do que realidade", afirma.
 

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