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08/11/2003 - 07h45

Obra desvela o "Chacal brasileiro"

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MARCELO PEN
crítico da Folha

Nada de Gabeira nem cabo Anselmo. A julgarmos pelo livro do jornalista Fernando Molica, o personagem mais interessante a emergir da roleta guerrilheira no Brasil foi Antonio Expedito Carvalho Perera. Já se disse que sua vida renderia um filme. Mas o interesse da história de Perera não reside exatamente em seu apoio à luta armada. O que espanta, no caso dele, é o que vem antes e o que ocorre depois disso.

Ex-militante do Partido Democrata Cristão que defendia o "sagrado combate de expurgo do comunismo", o advogado Perera teria depois, já no exílio, travado relações com grupos terroristas árabes e europeus. Para muitos, forneceu armas para Carlos, o Chacal, que o chamou de "líder revolucionário internacionalista". Então, teria virado Paulo Parra, psicólogo brasileiro radicado na Itália, sob cuja identidade viveu cerca de 20 anos.

Para dar conta de um personagem tão complexo, o jornalista dividiu o livro em três momentos. No primeiro, em que temos o Perera anticomunista, o retrato segue a perspectiva do biografado. No segundo, iniciam-se as contradições. O que o induziu a ajudar um dos principais grupos de extrema esquerda brasileiros? O que o fez abrigar em sua casa Carlos Lamarca, talvez o guerrilheiro mais procurado do país?

Perera foi preso e torturado, depois banido para o Chile. Quis ganhar destaque entre os exilados, que não guardam dele lembrança muito favorável. Alguns desconfiam de que foi agente duplo.

Acusado de ligações com o Chacal, Perera desaparece. Inicia-se a terceira parte do livro, onde não há mais um personagem, mas a procura por um. Molica deve provar que Perera e Parra são a mesma pessoa e dizer se Perera está mesmo morto (Parra morreu em 1996). A viúva do psicólogo não admite a hipótese, mas as provas vão sendo obtidas: um teste grafológico, reconhecimentos fotográficos, um fax enviado pelo Chacal.

Evidenciam-se aqui certas fraquezas narrativas. O repórter optou por incluir-se na reportagem, mas o relato da investigação de Molica é bem menos empolgante do que a trajetória de Perera. Mesmo assim, é um livro que merece ser lido: pela controvérsia que cerca o biografado e pela seriedade geral de propósitos do biógrafo.

Avaliação:

O Homem que Morreu Três Vezes
Autor:
Fernando Molica
Editora: Record
Quanto: R$ 38 (335 págs.)
 

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