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09/11/2003 - 09h07

Sucesso de Maria Rita desperta gravadoras para vozes femininas

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

O advento de Maria Rita reposiciona algumas pedras no dominó musical das gravadoras brasileiras. Por um lado, a euforia em torno de Maria Rita ameaça deslocar a supremacia de mais de uma década de Marisa Monte. Por outro, o mercado se adapta a uma realidade em que as vozes femininas voltam a ter competitividade.

Nesse contexto, a Sony, rival da Warner de Maria Rita e da EMI de Marisa, revaloriza a mato-grossense Vanessa da Mata, 27, que a gravadora havia feito estrear em 2002, sem nenhum alarde.

Agora, o produtor Nelson Motta, 59, assume o posto de orientador de Vanessa --como fizera, em 88, com Marisa Monte.

Motta seduziu o novelista Gilberto Braga a incluir Vanessa na trilha de "Celebridade" --com "Nossa Canção" (do repertório anos 60 de Roberto Carlos), gravada especialmente para isso.

Aproveitando essa maré, a Sony relança após 11 meses o CD de estréia da cantora e compositora, incluindo como bônus "Nossa Canção" e um remix de Ramilson Maia para "Não me Deixe Só".

Essa última, de versos como "Não me deixe só/ eu tenho medo do escuro/ eu tenho medo do inseguro/ dos fantasmas da minha voz", Vanessa compôs pensando que Maria Rita a gravasse --o que não aconteceu.

O vice-presidente da Sony, Alexandre Schiavo, rejeita nexos entre o sucesso de Maria Rita e a reativação de Vanessa. "Lançamos Vanessa muito antes. O mercado todo sabe que a Sony sempre esteve procurando uma nova cantora." "Acho o trabalho da Warner com Maria Rita muito bom, mas, se vamos comparar, não caberia para Vanessa. Nunca paramos de investir nela, mas passo a passo. Maria Rita não tem nenhuma influência nisso", completa.

Nelson Motta também particulariza seu interesse por Vanessa. "Sempre trabalhei só com intérpretes. É minha primeira vez com uma compositora", diz.

Guardando no currículo associações com Elis Regina (1945-82, cuja carreira ajudou a redefinir), Gal Costa, Elba Ramalho, Leila Pinheiro, Sandra de Sá e Daniela Mercury, Motta prevê uma carreira "brilhante" para Maria Rita, mas diz que com ela ainda não teve vontade de trabalhar. "Depois de ter trabalhado com Elis...", interrompe-se nas reticências.

Ele sabe que a comparação entre Vanessa e Marisa também pode ressurgir. "Ela inevitavelmente vai sofrer um pouco esse questionamento, que tecnicamente é absurdo. O timbre pode até lembrar, mas é porque as duas pertencem à escola de Gal Costa."

Ele delimita diferenças: no início Marisa, hoje também compositora, queria ser só cantora de palco, enquanto Vanessa faz trabalho autoral, de letra e música. "Marisa é uma patricinha, no bom sentido. É de classe média alta, fala várias línguas. Vanessa se fez sozinha, vem lá do Araguaia."

Nos bastidores, há algo mais em comum entre elas. Ao estrear em disco, Vanessa foi empresariada pelo escritório de Marisa, dirigido por Leonardo Netto, que iniciou carreira com... Nelson Motta.

"Na verdade, Vanessa foi empresariada por Suely Aguiar, que trabalha dentro do meu escritório. Cheguei a dar uma força, porque ela é uma menina talentosíssima, sabe o que quer", diz Netto.

Suely explica o porquê da cisão precoce, após poucos meses: "Comecei a produzir Adriana Calcanhotto, não tinha tempo para cuidar dela. Com dor no coração, tive que lhe dizer que ia parar".

Peça valorizada com atraso no novo xadrez das vozes femininas, Vanessa não vê favorecimento injusto de Maria Rita, por herança genética. "Estou completamente empolgada com o sucesso dela. É sinal de que, já que estamos ofuscados pelo 'bundalelê', ainda resta esperança. Graças a ela, se pode apostar em outras pessoas", diz.

Ensaiando o primeiro show com Motta, ela também sabe do significado simbólico da parceria. "Não vou ser cínica nem política, dizer que não tenho expectativa em relação a isso. É claro que existe. Mas faço terapia, não fico sem dormir por isso", diz ela, que luta pela profissão desde os 14 anos, quando "fugiu" da casa dos pais fingindo que ia ser médica.

Vanessa diz não temer que a interlocução com Motta e outros veteranos puxe-a para padrões musicais mais conservadores e menos jovens do que ela. "A vestimenta eu vou dando de meu jeito, não sou artista de deixar nada na mão das outras pessoas, não."

Avisa que não aceita o codinome de "nova Marisa Monte". "Acho um engano. Se olhar, somos completamente a antítese uma da outra. Ela tem formação lírica. Eu venho lá do mato, de uma família simples."

E o de "nova Gal Costa", aceitaria? "Rapaz... Isso seria tudo... Mas não é. Gal é Gal, vamos respeitar." Sua atual empresária é Fafá Magna, ex-produtora de Gal.

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