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18/11/2003 - 03h14

Festival de Brasília reúne longas de diretores veteranos na disputa

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SILVANA ARANTES
da Folha de S.Paulo

"Por que não nós?" O cineasta Silvio Tendler, 53, rebate com outra pergunta a sondagem sobre os motivos da escalação dos seis longas competidores no 36º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que começa hoje, com a exibição fora de concurso de "Subterrâneos", de José Eduardo Belmonte.

Todas as obras que disputarão as 11 categorias do troféu Candango são assinadas por diretores veteranos e destacados na história do cinema nacional.

A seleção contraria tendência recente da mostra de premiar estreantes --Laís Bodanzky em 2000 ("Bicho de Sete Cabeças"), Luiz Fernando Carvalho e Jorge Alfredo em 2001 ("Lavoura Arcaica" e "Samba Riachão", respectivamente) e Cláudio Assis em 2002 ("Amarelo Manga").

Ao reunir numa mesma disputa Rogério Sganzerla, 57 ("O Signo do Caos"), Julio Bressane, 57 ("Filme de Amor"), Carlos Reichenbach, 58 ("Garotas do ABC"), Sylvio Back, 65 ("Lost Zweig"), e Maurice Capovilla, 67 ("Harmada"), estaria o festival propondo uma reflexão ao país que se gaba de haver proporcionado (com o mecanismo das leis de incentivo à cultura baseadas na renúncia fiscal) a estréia de mais de 50 diretores, desde 1996, no formato do longa-metragem?

Em que condições os jovens realizadores levarão adiante suas carreiras é outra pergunta autorizada pela escolha de "O Signo do Caos" para a abertura da disputa, amanhã. Seu diretor, Rogério Sganzerla, venceu a quarta edição do Festival de Brasília, com "O Bandido da Luz Vermelha", seu filme de estréia, em 1968.

Naquela época, Sganzerla propunha um "cinema brasileiro liberador, revolucionário", com "a sinceridade do documentário" e a capacidade de "ser livre e acadêmico". Hoje, diz haver realizado, com "O Signo do Caos" --que trata dos mecanismos de censura à arte no Brasil--, um "antifilme", em resposta ao mercado dos "superfilmes".

Em tratamento de saúde, Sganzerla deverá ser o único dos diretores ausentes no festival.

Escalado para encerrar a disputa, Maurice Capovilla diz que "o resultado dessa escolha [dos seis concorrentes] dá o que pensar sobre a situação do cinema brasileiro", que considera "de transe e, ao mesmo tempo, de movimento".

"Estamos produzindo quase a mesma quantidade de filmes dos anos 70, com uma qualidade incomparável", diz. "Nos 70, o cinema era feito aos trancos e barrancos. A maioria dos filmes ficava abaixo do juízo crítico possível."

Na situação atual, segundo Capovilla, impera a qualidade "tanto nos filmes ligados ao comércio quanto nos independentes". Mas o aquecimento da produção tem "uma crise" intrínseca. "Quanto mais filmes você produz, mais problemas você tem. Não há salas suficientes", afirma. O Brasil possui cerca de 1.700 salas, concentradas em 9% de seus municípios.

"Harmada" é uma adaptação do livro homônimo de João Gilberto Noll. Na trajetória de um ator, a obra metaforiza o descaso com a arte no Brasil.

Tendler julga "tolo" referir-se a esta edição da mostra como um encontro de veteranos. Ex-diretor do Festival de Brasília (1996), ele afirma que foram selecionados "seis filmes que merecem estar lá" e que, no Brasil, todos os cineastas, jovens e veteranos, "têm produção intermitente, porque estão sujeitos às mesmas dificuldades".

"Glauber o Filme, Labirinto do Brasil" é um documentário em que Tendler procurou registrar "o talento e a ousadia" do cineasta Glauber Rocha (1939-81).

Sylvio Back define seu "Lost Zweig", sobre o escritor austríaco Stefan Zweig (1881-1942), como um filme que, "antes de ser sobre suicídio (sempre um gesto insondável) ou sobre a dor do exílio e a perda da língua pátria, é um hino à compaixão".

Sobre o perfil dos competidores, Back diz acreditar ser "mais uma coincidência do que um termômetro ou tendência. São filmes de produção independente, todos com dificuldade anunciada de lançamento, mas todos, igualmente, espelhando a notória diversidade do cinema brasileiro".

Reichenbach, cujo "Garotas do ABC" trata do trabalho operário na Grande São Paulo, afirma que, apesar de ser comum aos diretores em competição a identidade com o cinema de autor, "há mais distância entre esses cineastas do que supõe nossa filosofia".

O diretor exemplifica o "painel estimulante": "Temos desde um autor que faz da linguagem cinematográfica o grande personagem de seus filmes [Bressane] até um cinema humanístico de investigação social [Capovilla]".

"Filme de Amor", de Bressane, toma de empréstimo os personagens mitológicos das três graças para construir uma investigação sobre a origem do sentimento amoroso.

O diretor do Festival de Brasília, Fernando Adolfo, diz que a seleção dos seis competidores em longa (entre 24 inscritos) "foi uma mera e bela coincidência". Adolfo afirma que a análise dos candidatos "não levou em conta critérios de nome e procedência, mas só o valor estético da obra".
 

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