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18/11/2003 - 08h40

Panorama tece Tomie Ohtake espiritual

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FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo

Qual é a posição de Tomie Ohtake na arte brasileira? Às vésperas de completar 90 anos, o que acontece na próxima sexta, a artista ganha como homenagem uma mostra com curadoria de Paulo Herkenhoff, que optou por ressaltar o "viés metafísico" de sua obra com "Tomie Ohtake na Trama Espiritual Brasileira", que é inaugurada hoje, no ITO, instituto que leva o nome da artista.

O primeiro crítico a apontar o "calor espiritual" da pintura de Ohtake foi Mario Pedrosa (1900-1981), em texto sobre a artista publicado em 1961. Herkenhoff desdobrou essa idéia em 150 trabalhos de 45 artistas, traçando um panorama da questão metafísica na arte brasileira, que inicia-se com obras de Aleijadinho e Frei Domingos da Conceição e Silva e chegam até a produção contemporânea de Adriana Varejão e Jac Leirner, tendo sempre obras de Ohtake como contraponto.

"Há dois anos, quando foi inaugurado o ITO, a Tomie foi objeto de uma ótima retrospectiva, organizada pelo Agnaldo Farias. Por isso, decidimos fazer uma homenagem que englobasse outros artistas com uma poética próxima à dela", diz Herkenhoff.

Dividida em sete módulos, a mostra segue ora por interpretações mais literais desse caráter metafísico, ora por leituras mais amplas e aproximativas. A primeira sala da exposição é, sem dúvida, a mais literal, já que está organizada em forma de capela, com uma imensa imagem de Cristo, de Frei Domingos, no centro, com bancos, como em qualquer igreja.

Com isso, Herkenhoff aponta também o caráter fundador do barroco na produção artística nacional e agrupa, no mesmo conjunto, artistas como Varejão, que deliberadamente se apropria da linguagem barroca, ou de Leonilson, com "Leo Não Consegue Mudar o Mundo", vista como "uma leitura do sagrado segundo uma visão confessional", segundo o curador. Está ainda nesse segmento uma tela de Tarsila do Amaral, na qual se vê as influências da religiosidade mineira nas obras da modernista, e obras de Guignard e Dudi Maia Rosa.

Já na segunda sala da exposição, o diálogo de Ohtake passa a ser com outros modernistas, como Manuel Santiago que, em obras da década de 20, é considerado por Herkenhoff o primeiro artista abstrato do país, ligado à teosofia, corrente que também exerceu influência em Kandinsky e Mondrian, além de exibir trabalhos de Flávio de Carvalho e Ismael Nery, "o mais enlouquecido dos cristãos", segundo o curador.

A mostra segue em duas salas, organizadas a partir de elementos que o curador encontrou na casa de Ohtake: objetos indígenas e africanos. Com isso, a obra da artista é vista como manifestação paralela à religiosidade dos xamãs da cultura ianomâmi, seja por meio de obras dos próprios índios, seja pelas fotografias inéditas de Cláudia Andujar. A sala dedicada à cultura africana tem como destaque obras de Emanoel Araújo, Pierre Verger e Rubem Valentim, entre outros.

Apesar de não ser uma retrospectiva, Herkenhoff dispôs obras ao longo da mostra que marcam as etapas da carreira de Ohtake, desde suas primeiras pinturas figurativas, nos anos 50, nas quais se vê influências de Volpi, na fase figurativa da artista, passando pelo diálogo com as diversas gerações de japoneses e seus descendentes, que constituem uma significativa parcela da produção nacional, até novas obras da artista, entre elas uma escultura de cinco toneladas, que precisou de dez horas para ser instalada.

A exposição faz ainda uma relação da obra da artista com a produção de seus filhos, os arquitetos Ruy e Ricardo, por meio de maquetes de edifícios pelo primeiro e projetos gráficos do segundo, além de maquetes de Oscar Niemeyer, amigo de Ohtake.

Com tal percurso, Ohtake é vista como fundamental na produção artística nacional. Como diz Herkenhoff: "A Tomie não está no centro do processo histórico, mas ela se tornou parte da cultura do país, que já não existe sem ela".

TOMIE OHTAKE NA TRAMA ESPIRITUAL BRASILEIRA - Mostra comemorativa dos 90 anos de Ohtake
Curadoria: Paulo Herkenhoff
Quando: abertura, hoje, 20h (para convidados); de ter. a dom., das 11h às 20h. Até 11/1
Onde: Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, entrada pela r. Coropés, SP, tel. 6844-1900)
Quanto: entrada franca
 

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