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21/11/2003 - 08h21

Franco Zeffirelli ameniza últimos dias de Maria Callas

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JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo

Franco Zeffirelli, 80, repartiu sua carreira entre o cinema e a direção cênica de óperas. Em 1948, ele, pela primeira vez, trabalhou com a soprano greco-americana Maria Callas (1923-1977). Inevitável que fossem amigos.

Mas não foi bem por isso que ele se credenciou para dirigir "Callas Forever". O filme, que estréia hoje em São Paulo, foi rodado 15 anos depois da morte da cantora. Sua vida mundana --mulher de Onassis, que a abandonou por Jacqueline Kennedy-- já murchara como imagem no mundo mesquinho das celebridades.

Sua lembrança já estava integralmente devolvida aos apreciadores do repertório lírico. Callas, a grande diva do século 20, já poderia ser tratada por suas tristezas, manias e frustrações.

O grande drama pessoal de Callas não foram os ingredientes de sua vida sentimental. Foi, bem mais que isso, a perda precoce da voz. A musa mais festejada nos palcos da Europa e dos EUA precisou deixar de cantar bem antes de chegar aos 40 anos.

A Callas real se fechou em seu apartamento parisiense. Empanturrou-se de pílulas, isolou-se socialmente durante anos e morreu sob a suspeita de suicídio cometido numa crise de depressão.

Os últimos meses da Callas de Zeffirelli são mais amenos. O diretor italiano inventa que a soprano aceitou filmar "Carmen", de Bizet, mas sem cantar. Ela dublaria a única gravação que fez naquele papel (1964, sob a regência de Georges Prêtre). O drama da voz perdida seria contornado.

Mas não de todo. Ao tentar escapar daquilo que ela qualifica em certo momento de "farsa", Callas, interpretada pela atriz francesa Fanny Ardant, pede nas últimas cenas do filme que o produtor Larry Kelly (o ator britânico Jeremy Irons) destrua aquela "Carmen" de mentirinha. Ele o fará.

Zeffirelli tem inúmeros méritos. O primeiro consiste em desprezar como irrelevantes o período da vida de Callas que ele com propriedade considerou, em entrevista ao jornal "Daily Telegraph", como "puro excremento VIP".

O segundo dos méritos está no uso comedido de uma de suas mais fortes idiossincrasias cinematográficas: a justaposição excessiva de ingredientes cênicos, que saturam as imagens como se elas fossem uma pintura barroca. Fora breves recaídas, a Maria Callas de Zeffirelli é "clean".

Há por fim a própria música que permeia o filme como um doce e bem escolhido narcótico. Puccini ("Madame Butterfly", "Gianni Schicchi") foi para Zeffirelli uma opção de gosto, em lugar, por exemplo, de Bellini, compositor de "Norma", o papel pesadão da Callas real por excelência.

A Callas de Zeffirelli é também incomparavelmente mais bela que o foi a soprano de verdade. Fanny Ardant é uma deusa que chegou aos 53 anos --a mesma idade com a qual a soprano viveu seus últimos meses-- com o frescor quase adolescente. Não está decaída pelo fumo ou pelo álcool, pelas dietas e pela exposição excessiva da pele ao sol do mar Egeu, onde o magnata Aristóteles Onassis tinha sua ilha particular.

Avaliação:

Callas Forever (Idem)
Direção: Franco Zeffirelli
Produção: Itália/França/Espanha/Reino Unido/Romênia, 2002
Com: Fanny Ardant, Jeremy Irons
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Espaço Unibanco 3, Market Place Cinemark e circuito
 

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