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24/11/2003 - 09h40

Elza Soares e Maria Alcina se reinventam ao lado da cena eletrônica

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

Orgânicas, elétricas, agora eletrônicas. Sob orientação de artistas da nova cena eletrônica de São Paulo, a carioca Elza Soares, 73, e a mineira Maria Alcina, 54, vivem momento de, novamente, revirar ao avesso suas musicalidades.

As experiências têm origens contíguas. Ambas participaram, em julho passado, do festival Com:Tradição, concebido pelo produtor paulistano Alex Antunes como um evento em que artistas ainda pouco conhecidos criariam o novo reverenciando pilares da tradição brasileira.

Elza se apresentou com a entidade eletrônica Mugomango, cujo mentor, Arthur Joly, 26, agora responde pela produção de seu disco "Vivo Feliz". Consolidada no mercado independente, Elza bancou o trabalho com Joly e Marcelo Ozorio, 27, condutores do selo artesanal Reco-Head.

Alcina, por sua vez, relançou-se no Com:Tradição numa impactante apresentação com o grupo Bojo, cujos integrantes oscilam entre 32 e 40 anos de idade.

Agora, "Agora" registra em disco o encontro entre o quarteto eletrônico vanguardista e a cantora que surgiu em 73 cantando "Fio Maravilha", de Jorge Ben, e compondo uma cena de rock-MPB andrógino com os Secos & Molhados de Ney Matogrosso.

O disco sai pelo selo Outros Discos, distribuído (como o CD de Elza) pela Tratore, que tem como sócio Maurício Bussab, 40, um dos fundadores do Bojo.

Alcina sintetiza o significado de veteranas como ela e Elza cederem aos encantos de músicos e sonoridades jovens. "Quando surgiu a idéia do Com:Tradição, os meninos disseram que iam me mandar uns CDs deles antes, para eu não me assustar. Respondi: "Por favor, me surpreendam, quero que alguém me chacoalhe"."

Para Elza, a empreitada nem soou como novidade. "Sempre fiz isso, sempre gostei de estar com Lobão, Titãs, Cazuza. É dando que se recebe, a arte é isso."

Mesmo inserida em contexto que já conhece bem, Elza se considera "atrevida" por adicionar ao rótulo de sambista funk eletrônico, drum'n'bass e hip hop. Nas duas últimas modalidades, conta com a colaboração de outro jovem, Anderson Lugão, 27, ator, compositor e seu atual marido.

O conceito "com:tradição" está presente nos dois trabalhos. Elza remodela Zé Keti e Paulo Vanzolini, mas subverte o mangue beat de Fred Zeroquatro e o pop de Nando Reis. Alcina canta Ary Barroso, Paulo da Portela e Secos & Molhados, mas abraça o jovem Wado e inéditas do Bojo.

Os moços mal entendem o porquê de se associarem com o passado da MPB. "As circunstâncias nos guiaram. Elza estava sem gravadora. Eu tinha a minha, tenho um estudiozinho, podia produzir", conta Joly. "Modernizar o passado era mesmo o projeto", diz Anderson, que pescou a hoje balada eletrônica "Eu Gosto da Minha Terra" no repertório de Carmen Miranda.

De passagem, Elza defende o casamento com Anderson: "Nunca vi gay velho casado com gay velho. Estão sempre com mocinho, dizem que é "sobrinho" e ninguém fala nada. Por que eu não posso?".

Em território vizinho, o Bojo diz não temer a identificação que Alcina costuma conquistar em meios gays. "Sou suspeito para falar, mas o Bojo é uma banda GLS total", brinca o DJ Fe Pinatti, 39.

Por último, é hora de as damas relatarem a experiência de acomodarem suas vozes aos recursos eletrônicos de seus rapazes.

"É aceitação total, porque minha voz já é eletrônica. É o gogó eletrônico", brinca Elza, fazendo em seguida a voz vibrar no artifício metálico já conhecido. Alcina se inflama: "A música eletrônica entra na gente, chacoalha. A nega está ficando um pouquinho acesa. Estou sozinha atualmente, escreve aí, já estou ficando excitada".

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