Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
26/11/2003 - 07h10

Análise: Religião toma conta do horário nobre

Publicidade

ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha

O proselitismo religioso tomou conta do horário nobre em emissoras de TV aberta como a Bandeirantes, a CNT e a Gazeta. Na Record, a pregação está confinada aos horários da madrugada.

A transmissão quase que simultânea de shows de conversão e exorcismo em vários canais assombra.

"Encostos"

Na faixa denominada "Igreja Universal", no CNT, um corpo feminino contorcido responde com uma voz rouca aterrorizante às perguntas do apresentador-médium vestido de branco.

Em tom ameaçador, não muito diferente da falsa entrevista com "membros" da facção criminosa PCC no "Domingo Legal", de Gugu Liberato, um suposto demônio que teria se apossado do corpo da mulher declara pretensões assassinas.

Além do efeito sonoro que impede o reconhecimento da voz, um providencial quadriculado eletrônico oculta as feições da suposta criminosa em potencial.

Assim protegida, ela --ou a força que dela se apodera-- descreve o plano, com detalhes da arma a ser empregada.

A performance termina com final feliz, o corpo dela liberado da força demoníaca. Ao mesmo tempo que condena e estigmatiza, a narrativa reconhece e legitima a barbárie.

No programa, a inveja geraria "encostos" que levariam à instabilidade econômica, afetiva, à doença e à violência.

Esforço didático

Alguns apresentadores mais ousados, como o missionário R.R. Soares, na Bandeirantes, aliam esforço didático ao pedido de recompensa.

Nesses programas não escorre sangue. Não há imagens de revólver ou de corpos despedaçados. Eles afirmam um conteúdo moral que se quer "do bem", mas ele só existe em função do reconhecimento de seu oposto: as forças esotéricas "do mal".

Haveria uma espécie de violência conceitual capaz de explicar o injustificável. Os termos beiram o patético.

Só faltava alguém discutir que "encosto" sobrenatural teria se apoderado dos assassinos do casal de namorados Liana Friedenbach e Felipe Caffé.

Disputa

A Record vem se apoiando na tradição: investiu em jornalismo, comemorou o legado dos festivais de MPB da década de 60, se aventura na seara da teleficção de produção independente e em canais internacionais.

A rede disputa com o SBT o segundo lugar no ranking das maiores audiências, com uma grade cujos principais horários exibem programação laica.

É nas redes menores que o discurso heterodoxo fundamentalista-civilizador, se é que tal par de opostos é possível, encontra terreno fértil.

Essas emissoras admitem a produção independente --de cunho religioso--, negócio aparentemente mais lucrativo do que a publicidade.

Padre Marcelo inaugurou a versão mística da parceria entre a televisão e o cinema. Agora se anuncia para breve o lançamento de "Em Nome de Jesus", com Jece Valadão, ator que nos idos dos anos 60 produziu filmes como "Os Cafajestes".
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página