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08/09/2000
-
03h34
HUGO POSSOLO, da Folha de S.Paulo
Se o símbolo do circo é o palhaço, Didi é o grande palhaço brasileiro. No circo eletrônico, ele deita e rola. Diverte com humor ingênuo e popular. Para isso, sempre se colocou no lugar das crianças: "Quando escrevo, é como se botasse calças curtas de novo".
O trapalhão mais conhecido do país faz show de lançamento do CD "Didi & Sua Turma", com roteiro de sua autoria e dirigido por Jorge Fernando, até domingo no Olympia (hoje e amanhã, às 20h; dom., às 17h; r. Clélia, 1.517, SP, tel. 0/xx/11/3675-3999).
Um dos destaques é a participação da Intrépida Trupe, grupo que tem inovado a linguagem circense. Apresenta dois convidados do Cirque du Soleil, que dividem o palco com Luciano Szafir. O modelo aprendeu alguns truques com o mágico Issao Yamamura. Para completar a salada, a Tiazinha Suzana Alves faz participação em um número de platéia.
O disco, já nas lojas (R$ 18, em média), traz arranjos pasteurizados, alguns apelos piegas e coros infantis acelerados. Exceção feita às músicas mais regionais, "Site da Jurema" e "A Feira dos Bichos".
Cantadas por Didi, revelam que é possível ser atual sem apelar para modismos.
Foi com os olhos brilhando igual aos de uma criança que ele chegou ao ensaio. Sem fazer distinção entre Didi ou Renato, engrossa a voz. Faz graças. Sabe que não é cantor. E sabe que é muito engraçado. Alegrou-se ao saber que eu era um palhaço.
E o palhaço aqui, apertado em roupa de repórter, foi falar com o ídolo. Tropeçando, atrapalhado entre papéis e o gravador, a conversa não podia ter um início mais típico de picadeiro. E tudo foi muito rápido. Ele tinha de ensaiar. Eram 13h, e eu tinha espetáculo às 17h, em São Paulo.
Cheguei acreditando que poderia partilhar com ele análises do riso.
Felizmente, a descontração venceu a intenção. Aliás, Didi me repassou uma velha lição: profundidade e poesia do riso residem no que é autêntico e simples.
Folha - Este é o seu primeiro disco solo. Você é cantor?
Renato Aragão - Quando eu era criança, queria ser cantor. Fui cantar no coro da igreja. Comecei a cantar, e metade do pessoal mudou de religião.
Folha - Como você gosta de ser chamado? Comediante? Cômico? Palhaço? Humorista?
Aragão - Tudo junto, mas principalmente de palhaço. A diferença do que faço na TV em relação ao que os palhaços fazem no circo é que não pinto a cara. Infelizmente, não vim do circo. A primeira vez que pisei num circo eu já era dos Trapalhões, da Globo. Só vim a me apresentar dentro de uma lona quando já era famoso. E fiquei muito feliz. Já fazia muita coisa de circo sem nunca ter pisado num picadeiro.
Folha - No Brasil, temos uma tradição de comediantes. No que diferimos, para produzir tantos?
Aragão - O Brasil não deixa de ser um celeiro de comediantes. Especialmente o Ceará, onde vários comediantes estão surgindo. Mas os europeus também acham que seus países produzem muitos comediantes. Acho que cada um ri daquilo que é seu, mas há humor que ultrapassa fronteiras.
Folha - Os seus filmes já chegaram a vários países. Eles têm um alcance universal?
Aragão - Alguns. Porque meu humor é para crianças. A criança não tem fronteiras, não tem preconceitos, limites. Aquilo que a criança ri de mim, ri de um europeu, de um africano. Não sou de dizer piada. Sou de fazê-la. Dependo de movimento, de uma ação. E isso é internacional. Se você ri de um americano levando um tombo, ri de um brasileiro. Tombo é universal.
Folha - Eu já ouvi de um pedagogo que, como palhaço, estou ensinando o erro. Como é que você responderia a isso?
Aragão - Não estamos fazendo aquilo para ensinar o errado. Estamos fazendo para a criança rir. Ela vai à escola todo dia. Todo dia a professora está ensinando o certo para ela. Você acha que a criança, vendo uma vez o erro, vai copiar o errado? A criança sabe separar o certo do errado.
Folha - O humor funciona quando é isento do aspecto moral. É possível fazer um humor moralista?
Aragão - O que não se pode é fazer apologia do mau exemplo. Mas também não podemos ser mascarados, deixar de fazer uma irreverência e não mostrar com o que se pode brincar.
Folha - Na música "Site da Jurema", a única que é composição sua, você usa elementos maliciosos.
Aragão - Se você quer ser puritano, a criança foge. Se dá um pouquinho de pimenta, de sal, é o tempero. Sem extrapolar, é bom fazer uma saliência. Falar bundão ou peido, a criança adora. Isso eu faço. A gente fica no limite. Não falo palavrões nem faço gestos obscenos. Não sei fazer isso.
Folha - Seu espaço na Globo é bem diferente do que você tinha tempos atrás.
Aragão - De certa forma, na Globo eu faço o que quiser. Ou faria. Eles me ofereceram várias opções. Mas como eu vou recomeçar? Aquele período dos Trapalhões foi áureo. Infelizmente, meus companheiros morreram. Para mim, eles são insubstituíveis.
Folha - Como foi o recomeço?
Aragão - Recomecei ao meio-dia de domingo. É um horário cruel. Você sai de um "Globo Esporte", que é outro público, esvazia a sala e tem de formar o público que vai assistir. É como empurrar caminhão de areia na subida. Quando vi que podia segurar isso, me animei a ir a outros horários. Mas não quero ficar reclamando. A emissora já está pensando nisso. Uma mudança tem de partir dela.
Leia mais notícias de Ilustrada na Folha Online
Renato Aragão apresenta em SP show dirigido por Jorge Fernando
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Se o símbolo do circo é o palhaço, Didi é o grande palhaço brasileiro. No circo eletrônico, ele deita e rola. Diverte com humor ingênuo e popular. Para isso, sempre se colocou no lugar das crianças: "Quando escrevo, é como se botasse calças curtas de novo".
O trapalhão mais conhecido do país faz show de lançamento do CD "Didi & Sua Turma", com roteiro de sua autoria e dirigido por Jorge Fernando, até domingo no Olympia (hoje e amanhã, às 20h; dom., às 17h; r. Clélia, 1.517, SP, tel. 0/xx/11/3675-3999).
Um dos destaques é a participação da Intrépida Trupe, grupo que tem inovado a linguagem circense. Apresenta dois convidados do Cirque du Soleil, que dividem o palco com Luciano Szafir. O modelo aprendeu alguns truques com o mágico Issao Yamamura. Para completar a salada, a Tiazinha Suzana Alves faz participação em um número de platéia.
O disco, já nas lojas (R$ 18, em média), traz arranjos pasteurizados, alguns apelos piegas e coros infantis acelerados. Exceção feita às músicas mais regionais, "Site da Jurema" e "A Feira dos Bichos".
Cantadas por Didi, revelam que é possível ser atual sem apelar para modismos.
Foi com os olhos brilhando igual aos de uma criança que ele chegou ao ensaio. Sem fazer distinção entre Didi ou Renato, engrossa a voz. Faz graças. Sabe que não é cantor. E sabe que é muito engraçado. Alegrou-se ao saber que eu era um palhaço.
E o palhaço aqui, apertado em roupa de repórter, foi falar com o ídolo. Tropeçando, atrapalhado entre papéis e o gravador, a conversa não podia ter um início mais típico de picadeiro. E tudo foi muito rápido. Ele tinha de ensaiar. Eram 13h, e eu tinha espetáculo às 17h, em São Paulo.
Cheguei acreditando que poderia partilhar com ele análises do riso.
Felizmente, a descontração venceu a intenção. Aliás, Didi me repassou uma velha lição: profundidade e poesia do riso residem no que é autêntico e simples.
Folha - Este é o seu primeiro disco solo. Você é cantor?
Renato Aragão - Quando eu era criança, queria ser cantor. Fui cantar no coro da igreja. Comecei a cantar, e metade do pessoal mudou de religião.
Folha - Como você gosta de ser chamado? Comediante? Cômico? Palhaço? Humorista?
Aragão - Tudo junto, mas principalmente de palhaço. A diferença do que faço na TV em relação ao que os palhaços fazem no circo é que não pinto a cara. Infelizmente, não vim do circo. A primeira vez que pisei num circo eu já era dos Trapalhões, da Globo. Só vim a me apresentar dentro de uma lona quando já era famoso. E fiquei muito feliz. Já fazia muita coisa de circo sem nunca ter pisado num picadeiro.
Folha - No Brasil, temos uma tradição de comediantes. No que diferimos, para produzir tantos?
Aragão - O Brasil não deixa de ser um celeiro de comediantes. Especialmente o Ceará, onde vários comediantes estão surgindo. Mas os europeus também acham que seus países produzem muitos comediantes. Acho que cada um ri daquilo que é seu, mas há humor que ultrapassa fronteiras.
Folha - Os seus filmes já chegaram a vários países. Eles têm um alcance universal?
Aragão - Alguns. Porque meu humor é para crianças. A criança não tem fronteiras, não tem preconceitos, limites. Aquilo que a criança ri de mim, ri de um europeu, de um africano. Não sou de dizer piada. Sou de fazê-la. Dependo de movimento, de uma ação. E isso é internacional. Se você ri de um americano levando um tombo, ri de um brasileiro. Tombo é universal.
Folha - Eu já ouvi de um pedagogo que, como palhaço, estou ensinando o erro. Como é que você responderia a isso?
Aragão - Não estamos fazendo aquilo para ensinar o errado. Estamos fazendo para a criança rir. Ela vai à escola todo dia. Todo dia a professora está ensinando o certo para ela. Você acha que a criança, vendo uma vez o erro, vai copiar o errado? A criança sabe separar o certo do errado.
Folha - O humor funciona quando é isento do aspecto moral. É possível fazer um humor moralista?
Aragão - O que não se pode é fazer apologia do mau exemplo. Mas também não podemos ser mascarados, deixar de fazer uma irreverência e não mostrar com o que se pode brincar.
Folha - Na música "Site da Jurema", a única que é composição sua, você usa elementos maliciosos.
Aragão - Se você quer ser puritano, a criança foge. Se dá um pouquinho de pimenta, de sal, é o tempero. Sem extrapolar, é bom fazer uma saliência. Falar bundão ou peido, a criança adora. Isso eu faço. A gente fica no limite. Não falo palavrões nem faço gestos obscenos. Não sei fazer isso.
Folha - Seu espaço na Globo é bem diferente do que você tinha tempos atrás.
Aragão - De certa forma, na Globo eu faço o que quiser. Ou faria. Eles me ofereceram várias opções. Mas como eu vou recomeçar? Aquele período dos Trapalhões foi áureo. Infelizmente, meus companheiros morreram. Para mim, eles são insubstituíveis.
Folha - Como foi o recomeço?
Aragão - Recomecei ao meio-dia de domingo. É um horário cruel. Você sai de um "Globo Esporte", que é outro público, esvazia a sala e tem de formar o público que vai assistir. É como empurrar caminhão de areia na subida. Quando vi que podia segurar isso, me animei a ir a outros horários. Mas não quero ficar reclamando. A emissora já está pensando nisso. Uma mudança tem de partir dela.
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