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03/12/2003
-
08h02
ESTHER HAMBURGER
especial para a Folha
Documentários sobre a vida animal abundam na TV nos mais variados horários e emissoras --dos canais da TV paga à Globo. Em certo sentido o sucesso desses programas pode ser interpretado como expressão de uma demanda avessa à profusão do sensacionalismo.
Enlatados, "frios", convencionais na sua forma narrativa, esses filmes encarnam muitos dos atributos da TV educativa, não comercial e "chata", supostamente enterrada por modelos mais atentos às expectativas da audiência.
Contra todos os prognósticos, filmes dedicados ao cotidiano de espécies animais específicas, pouco conhecidas, habitantes de regiões remotas sobreviveram e se multiplicaram.
Os diversos canais a cabo especializados em natureza, difusores de programação gerada e processada em matrizes estrangeiras são nichos naturais para esses programas.
Esses canais correm em faixa própria. Mas o espaço que consolidaram no mercado aumenta. O Discovery Channel lança coleções de documentários em DVD.
O Animal Planet anunciou recentemente, em grande estilo, o início de uma série sobre os mamíferos.
Mas o gênero ganha espaço também na TV aberta. A Cultura mantém uma faixa fixa, no horário nobre, dedicada à programação do National Geographic.
A emissora exibe também outros títulos, como "Planeta Terra" (dom., 13h e 23h), ou "Expedições" (dom., 19h30), uma das poucas produções independentes nacionais no gênero natureza.
A evidência maior da popularidade do tema é a exibição semanal no "Fantástico" (Globo, dom., 20h30) de seriados dedicados à vida animal, do fundo do mar à onça-do-mato.
Surpreende que o interesse público não tenha estimulado alguma renovação no gênero. A fórmula pouco mudou desde o início da década de 70, quando o advento de poderosas lentes permitiram que cinegrafistas estrategicamente posicionados registrassem os primeiros close-ups de pássaros em pleno vôo.
Imagens privilegiadas de animais surpreendidos em seu habitat natural, por câmeras ocultas, são em geral "explicadas" por narradores, cuja voz sobreposta procura aproximar o comportamento "selvagem" dos códigos humanos.
Nos melhores momentos, a beleza do vôo das aves ou do movimento de determinado cardume é realçada por uma trilha sonora grandiosa. Aqui os filmes de natureza parecem alcançar o que o espectador busca neles. Esse desejo de beleza, não encontrável nas cidades dos homens, pede vôos maiores na representação da natureza.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
Análise: Vida animal ganha espaço na televisão
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especial para a Folha
Documentários sobre a vida animal abundam na TV nos mais variados horários e emissoras --dos canais da TV paga à Globo. Em certo sentido o sucesso desses programas pode ser interpretado como expressão de uma demanda avessa à profusão do sensacionalismo.
Enlatados, "frios", convencionais na sua forma narrativa, esses filmes encarnam muitos dos atributos da TV educativa, não comercial e "chata", supostamente enterrada por modelos mais atentos às expectativas da audiência.
Contra todos os prognósticos, filmes dedicados ao cotidiano de espécies animais específicas, pouco conhecidas, habitantes de regiões remotas sobreviveram e se multiplicaram.
Os diversos canais a cabo especializados em natureza, difusores de programação gerada e processada em matrizes estrangeiras são nichos naturais para esses programas.
Esses canais correm em faixa própria. Mas o espaço que consolidaram no mercado aumenta. O Discovery Channel lança coleções de documentários em DVD.
O Animal Planet anunciou recentemente, em grande estilo, o início de uma série sobre os mamíferos.
Mas o gênero ganha espaço também na TV aberta. A Cultura mantém uma faixa fixa, no horário nobre, dedicada à programação do National Geographic.
A emissora exibe também outros títulos, como "Planeta Terra" (dom., 13h e 23h), ou "Expedições" (dom., 19h30), uma das poucas produções independentes nacionais no gênero natureza.
A evidência maior da popularidade do tema é a exibição semanal no "Fantástico" (Globo, dom., 20h30) de seriados dedicados à vida animal, do fundo do mar à onça-do-mato.
Surpreende que o interesse público não tenha estimulado alguma renovação no gênero. A fórmula pouco mudou desde o início da década de 70, quando o advento de poderosas lentes permitiram que cinegrafistas estrategicamente posicionados registrassem os primeiros close-ups de pássaros em pleno vôo.
Imagens privilegiadas de animais surpreendidos em seu habitat natural, por câmeras ocultas, são em geral "explicadas" por narradores, cuja voz sobreposta procura aproximar o comportamento "selvagem" dos códigos humanos.
Nos melhores momentos, a beleza do vôo das aves ou do movimento de determinado cardume é realçada por uma trilha sonora grandiosa. Aqui os filmes de natureza parecem alcançar o que o espectador busca neles. Esse desejo de beleza, não encontrável nas cidades dos homens, pede vôos maiores na representação da natureza.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
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