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05/12/2003
-
05h29
XICO SÁ
crítico da Folha
Sua vida daria uma penca de romances. Épicos, sempre. Os homens escolhem, prateleiras imaginárias, um gênero no qual gostariam de ter suas vidas narradas. Apolônio de Carvalho, hoje aos 91 anos, deve ter feito uma escolha ainda mais específica: épico de lutas e guerras contra a mediocridade. Até mesmo uma máquina especializada em construir narrativas biográficas teria dificuldades em superar a grandeza épica desse passional.
"Vale a Pena Sonhar - A Trajetória de um Libertário", documentário de Stela Grisotti e Rudi Böhm, conta a militância longa-vida do oficial de artilharia brasileiro que esteve em grandes pelejas contra a barbárie no século passado. No início, Apolônio combateu a ditadura getulista, nos anos 30. Preso em 1935, é personagem das "Memórias do Cárcere", de Graciliano Ramos.
Solto, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e seguiu para a Espanha, onde combateu a República Popular, a legião franquista. "Fui sempre mais visionário do que militante", diz Apolônio.
O documentário é repleto de ricas imagens de arquivos da Guerra Civil Espanhola e dos campos de concentração, na França, aos quais os republicanos, entre eles o brasileiro, foram submetidos pelo franquismo.
Depois viria, armado nas trincheiras, o engajamento na Resistência Francesa contra o nazismo. Aí conheceu a sua mulher, Renée, com quem teve René-Louis e Raul, também militantes da esquerda brasileira. Sobre a mulher, conta dos seus "beliscões" pedagógicos, para que abrisse o olho em relação aos abusos do regime comunista da ex-URSS. Ótima passagem.
Na volta ao Brasil da era JK, os anos menos turbulentos da vida, de 1957 a 60. Daí por diante, a peleja contra o regime militar, prisão, exílio, a volta. No começo dos 80, assinou a ficha número 1 de filiação ao PT. Tanto na fase estrangeira como na militância no Brasil, o filme exibe uma boa pesquisa de imagens. A narração serena, nunca maçante, ajuda a envolver.
Avaliação:
Vale a Pena Sonhar
Quando: amanhã, às 21h, na TV Cultura
Biografia mostra legítimo épico brasileiro
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crítico da Folha
Sua vida daria uma penca de romances. Épicos, sempre. Os homens escolhem, prateleiras imaginárias, um gênero no qual gostariam de ter suas vidas narradas. Apolônio de Carvalho, hoje aos 91 anos, deve ter feito uma escolha ainda mais específica: épico de lutas e guerras contra a mediocridade. Até mesmo uma máquina especializada em construir narrativas biográficas teria dificuldades em superar a grandeza épica desse passional.
"Vale a Pena Sonhar - A Trajetória de um Libertário", documentário de Stela Grisotti e Rudi Böhm, conta a militância longa-vida do oficial de artilharia brasileiro que esteve em grandes pelejas contra a barbárie no século passado. No início, Apolônio combateu a ditadura getulista, nos anos 30. Preso em 1935, é personagem das "Memórias do Cárcere", de Graciliano Ramos.
Solto, filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro e seguiu para a Espanha, onde combateu a República Popular, a legião franquista. "Fui sempre mais visionário do que militante", diz Apolônio.
O documentário é repleto de ricas imagens de arquivos da Guerra Civil Espanhola e dos campos de concentração, na França, aos quais os republicanos, entre eles o brasileiro, foram submetidos pelo franquismo.
Depois viria, armado nas trincheiras, o engajamento na Resistência Francesa contra o nazismo. Aí conheceu a sua mulher, Renée, com quem teve René-Louis e Raul, também militantes da esquerda brasileira. Sobre a mulher, conta dos seus "beliscões" pedagógicos, para que abrisse o olho em relação aos abusos do regime comunista da ex-URSS. Ótima passagem.
Na volta ao Brasil da era JK, os anos menos turbulentos da vida, de 1957 a 60. Daí por diante, a peleja contra o regime militar, prisão, exílio, a volta. No começo dos 80, assinou a ficha número 1 de filiação ao PT. Tanto na fase estrangeira como na militância no Brasil, o filme exibe uma boa pesquisa de imagens. A narração serena, nunca maçante, ajuda a envolver.
Avaliação:
Vale a Pena Sonhar
Quando: amanhã, às 21h, na TV Cultura
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