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07/12/2003 - 06h21

"Contos" injeta literatura na televisão

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BRUNO YUTAKA SAITO
da Folha de S.Paulo

O cenário é opressor. Sob o fundo negro, envolta por projeções de vídeos, Adriana (Maria Luisa Mendonça) vocifera contra a mãe (também interpretada pela atriz), presa a uma cadeira de rodas. Valores familiares são desafiados, rancores, expostos.

Em cena, ela se contorce e esbugalha os olhos. O contorcionismo não é num palco de teatro, o que causa um estranhamento ainda maior.

Transformado em um monólogo, "A Medalha", de Lygia Fagundes Telles, desafia os limites impostos pela televisão, na série "Contos da Meia-Noite", projeto da TV Cultura em parceria com a Imprensa Oficial do Estado de SP.

Dirigida pelo videoartista Eder Santos, a série, que estréia amanhã, trará cem contos de alguns dos maiores autores brasileiros, de Machado de Assis a Clarice Lispector, interpretados na forma de monólogos por atores como Marília Pêra, Beth Goulart, Antonio Abujamra, Giulia Gam e Matheus Nachtergaele.

Mudança de ritmo

"Contos" causa estranhamento em um primeiro momento, para quem está acostumado aos padrões de rapidez videoclípica que ditam o ritmo da TV.

Com episódios de dez minutos de duração, a série requer do telespectador atenção ao texto e às nuances corporais dos atores. Trata-se da conhecida performance teatral aplicada ao vídeo. "A série tem coisas pesadas, e esse é o desafio. Queria levar poesia à TV", diz Santos.

Em "Uma Vela para Dario", de Dalton Trevisan, por exemplo, o ator e diretor Antonio Abujamra injeta ainda mais tensão ao texto do escritor curitibano. Sob sua fala, é contada a história de Dario, sujeito que passa mal e morre na rua, sob os olhares nada solidários dos transeuntes.

Sob Abujamra, que fica entre três telas, são projetadas imagens de pessoas em trânsito, captadas pela equipe de Santos. "As vantagens da TV é que podemos experimentar um outro tipo de visão. Há a textura do tecido sobre as telas, o foco, a luz, as sombras etc."

Santos acredita que a linguagem densa desses primeiros episódios --já foram gravados 70-- não vai afugentar o público. "Os telespectadores vêem de tudo na TV, há espaço para todos", diz.

"Temos uma cultura contaminada pela linguagem rápida da TV. Quando alguém fala de um filme no cinema, por exemplo, as pessoas elogiam os efeitos especiais, a velocidade, e não a história em si. Falta poesia e ritmo."

Ele conta que "Contos" é gravado em duas etapas. Na primeira, os atores usam o teleprompter (monitor de vídeo com os textos), e lêem os contos na íntegra. "Na segunda, os atores soltam suas loucuras. O Abujamra, como tem experiência de diretor, já edita na hora seus textos, além de ter aquela aura maldita. Maria Luisa deu "olé" na gente, com sua loucura na interpretação."

A identificação com a atriz rendeu uma parceria. O diretor conta que fará junto com Mendonça o curta-metragem "Delicadeza do Amor", sobre "a visão do amor na voz de uma mulher". Já Beth Goulart, que faz "Duelo de Farrapos", de Simões Lopes Neto, propôs a Santos levar o projeto ao teatro.

CONTOS DA MEIA-NOITE. Quando: de seg. a sex., à 0h, na TV Cultura. Nesta semana serão exibidos "Um Apólogo", de Machado de Assis, com Marília Pêra (amanhã); "ZAP", de Moacyr Scliar, com Antonio Abujamra (ter.); "De Cima para Baixo", de Artur Azevedo, com Matheus Nachtergaele (qua.); "A Medalha", de Lygia Fagundes Telles, com Maria Luisa Mendonça (qui.); e "Duelo de Farrapos", de Simões Lopes Neto, com Beth Goulart.
 

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