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10/12/2003 - 07h20

Daúde e Virgínia Rodrigues desenvolvem carreiras no "exílio"

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PEDRO ALEXANDRE SANCHES
da Folha de S.Paulo

O exílio, às vezes, mora aqui dentro. Mulheres-sintomas da desagregação do mercado musical no Brasil, as baianas Daúde, 41, e Virgínia Rodrigues, 39, vivem a inusitada experiência de desenvolverem suas carreiras musicais no exílio, mesmo continuando a morar no Brasil.

Hoje, Daúde grava pelo selo britânico Real World, do músico Peter Gabriel. Rodrigues lançou seu terceiro CD só nos Estados Unidos, pela Deutsche Grammophone, a mais respeitada gravadora de música erudita do mundo.

Mulheres-bumerangue, só após o périplo chegarão ao Brasil --a EMI distribuirá Daúde aqui, já neste mês; a Universal tentará recolocar Rodrigues no mercado nacional em março próximo.

Após dois trabalhos pela gravadora independente Natasha, em 95 e 97, Daúde ficou sem contrato. Preparou um CD demo com quatro músicas, que mostrou em todas as gravadoras brasileiras, das grandes às pequenas.

"O que mais ouvi nos últimos dois anos, de todo mundo, é que o mercado está uma merda. Ninguém quer investir nada", conta Daúde, sem meios termos.

"Eu não sou uma merda, não fui eu que criei essa história. Fui investir meu dinheiro no meu trabalho." Concebeu e gravou por conta própria "Neguinha Te Amo", que Peter Gabriel acolheu sem fazer qualquer modificação.

Virgínia, por sua vez, permanece na mesma Natasha, co-dirigida pela empresária Paula Lavigne e orientada pelo padrinho musical Caetano Veloso.

"A gente nunca vendeu Virgínia no Brasil. Não só não vende como não emplaca aqui, infelizmente", afirma Lavigne, também sem meios termos.

Licenciado para a Deutsche Grammophone, o disco "Mares Profundos" já vendeu nos EUA 5.000 exemplares, segundo a outra proprietária da Natasha, Conceição Lopes. Rodrigues tem, entre seus fãs, nomes como Bill Clinton e Harrison Ford.

"Aqui no Brasil o pessoal gosta de música alegre. Virgínia tem voz triste, entristece as músicas", Conceição busca justificar.

Daúde, por seu turno, fala com certa estranheza da assimilação de sua música no exterior.

"As pessoas, mesmo as da gravadora, não têm idéia do que é a música brasileira. Disseram que minha música é viva, quente", afirma, ressaltando que gravou o disco no Brasil, antes de saber que ele acabaria num selo britânico de world music.

"Sou brasileira, tenho que ter meu disco nas lojas do Brasil. Não me sinto exilada, não fiz um disco para gringo, bossa nova, batuque, música de festa. Tenho outra história, negra e positiva", decreta, portando como uma de suas carteiras de identidade a recém-concluída pós-graduação em história da África.

Leia mais
  • Daúde e Virgínia afrontam o exílio delas e de outros
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