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18/12/2003
-
07h39
SERGIO SALVIA COELHO
Crítico da Folha de S.Paulo
Ao contrário do que aconteceu nas duas primeiras jornadas da Mostra de Dramaturgia Contemporânea, desta vez a primeira peça não contrasta com a segunda. O que é surpreendente, já que "Então, Felicidades!" é do veterano autor, diretor e cineasta português José Mora Ramos, e "Mal Necessário" é de um jovem dramaturgo paulista quase principiante, Cássio Pires.
Em ambas as peças, diálogos ágeis e situações inusitadas vão girando em falso em torno de um cenário simbólico, de modo algo enigmático, mas sem que se pretenda chegar a nenhuma revelação profunda. É como se fossem duas histórias em quadrinhos sobre conflitos conjugais.
Lírica e glamourosa, "Então, Felicidades!" se parece com os estranhos sonhos do quadrinista italiano Milo Manara: um neurótico casal em segunda lua-de-mel sofre um naufrágio e sobrevive nos escombros de um transatlântico, só a champanhe e caviar. Por seu lado, a fábula de Pires poderia ser uma "graphic novel" de Will Eisner: em um clima de paródia de filme noir, dois agentes patéticos procuram por um documento perdido em meio a um enorme arquivo morto.
Nas duas peças, a intromissão de um terceiro personagem (um pianista mudo na primeira peça; uma enfermeira redentora na segunda) vem interromper essa loucura a dois, sem no entanto fazer que o universo volte a fazer sentido.
Tanto Regina Galdino, que dirige a primeira peça, quanto Marcelo Lazzaratto, diretor da segunda, garantem, antes de tudo, a diversão dos atores, que brincam como crianças no cenário comum, o gigantesco trepa-trepa criado por Daniela Thomas, que a luz de Wagner Freire faz passar de agorafóbico a claustrofóbico.
Deste modo, esta segunda mostra de dramaturgia do Sesi se encerra mostrando claramente a que veio. Não revelou grandes obras-primas, nem procurou estabelecer um painel que esgotasse o que melhor se tem feito em teatro fora eixo Rio-São Paulo. Entre dramaturgos veteranos cheios de jovialidade e jovens já com firmeza no taco, o Teatro Promíscuo exerceu um teatro despretensioso, que cumpre seu papel com desenvoltura .
Assim, do alto de seus 66 anos de juventude e do posto de observação de seu transatlântico meio improvisado, Renato Borghi olha o horizonte e sorri. Parece gostar do que vê chegando. E um grande sopro de ar fresco ganha a platéia também.
Então, Felicidades!
Mal Necessário
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 3146-7405)
Quando: de hoje a dom., às 20h30
Quanto: entrada franca
Ciclo teatral do Sesi chega ao fim com humor e despretensão
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Crítico da Folha de S.Paulo
Ao contrário do que aconteceu nas duas primeiras jornadas da Mostra de Dramaturgia Contemporânea, desta vez a primeira peça não contrasta com a segunda. O que é surpreendente, já que "Então, Felicidades!" é do veterano autor, diretor e cineasta português José Mora Ramos, e "Mal Necessário" é de um jovem dramaturgo paulista quase principiante, Cássio Pires.
Em ambas as peças, diálogos ágeis e situações inusitadas vão girando em falso em torno de um cenário simbólico, de modo algo enigmático, mas sem que se pretenda chegar a nenhuma revelação profunda. É como se fossem duas histórias em quadrinhos sobre conflitos conjugais.
Lírica e glamourosa, "Então, Felicidades!" se parece com os estranhos sonhos do quadrinista italiano Milo Manara: um neurótico casal em segunda lua-de-mel sofre um naufrágio e sobrevive nos escombros de um transatlântico, só a champanhe e caviar. Por seu lado, a fábula de Pires poderia ser uma "graphic novel" de Will Eisner: em um clima de paródia de filme noir, dois agentes patéticos procuram por um documento perdido em meio a um enorme arquivo morto.
Nas duas peças, a intromissão de um terceiro personagem (um pianista mudo na primeira peça; uma enfermeira redentora na segunda) vem interromper essa loucura a dois, sem no entanto fazer que o universo volte a fazer sentido.
Tanto Regina Galdino, que dirige a primeira peça, quanto Marcelo Lazzaratto, diretor da segunda, garantem, antes de tudo, a diversão dos atores, que brincam como crianças no cenário comum, o gigantesco trepa-trepa criado por Daniela Thomas, que a luz de Wagner Freire faz passar de agorafóbico a claustrofóbico.
Deste modo, esta segunda mostra de dramaturgia do Sesi se encerra mostrando claramente a que veio. Não revelou grandes obras-primas, nem procurou estabelecer um painel que esgotasse o que melhor se tem feito em teatro fora eixo Rio-São Paulo. Entre dramaturgos veteranos cheios de jovialidade e jovens já com firmeza no taco, o Teatro Promíscuo exerceu um teatro despretensioso, que cumpre seu papel com desenvoltura .
Assim, do alto de seus 66 anos de juventude e do posto de observação de seu transatlântico meio improvisado, Renato Borghi olha o horizonte e sorri. Parece gostar do que vê chegando. E um grande sopro de ar fresco ganha a platéia também.
Então, Felicidades!
Mal Necessário
Onde: Teatro Popular do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 3146-7405)
Quando: de hoje a dom., às 20h30
Quanto: entrada franca
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