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19/12/2003 - 05h08

Novo álbum da dupla Outkast desestrutura o hip hop

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LÚCIO RIBEIRO
colunista da Folha

Quando a revista norte-americana "Spin" elegeu o insólito novo álbum do grupo de hip hop Outkast como um dos principais discos do ano e escreveu que ele era o "Sandinista" do gênero, a vontade foi de rir.

Rir de nervoso. "Speakerboxxx/ Love Below", álbum duplo da dupla de Atlanta, tem, sim, o efeito bombástico de ruptura que teve o famoso álbum triplo da banda inglesa The Clash, que esfacelou o punk em sua essência e o costurou com os mais diversos estilos, primeiro chocando e depois dando à música jovem uma nova direção.

"Speakerboxxx/Love Below", que a BMG lança no Brasil, é na verdade a junção de dois álbuns solos, "Speakerboxx" e "Love Below", o primeiro feito inteirinho e individualmente pelo irado gangsta Big Boi (Antwan Patton), e o segundo, pelo gênio "pensador" Andre 3000 (Andre Benjamin).

O disco dois-em-um teve uma performance devastadora assim que saiu às lojas nos EUA, no final de setembro.

Grammy

O CD que chegava era o sucessor do disco "Stankonia", grammyiado álbum que bagunçou a cena hip hop e eletrificou o gueto em 2002.

Dre e Big Boi pegaram toda a expectativa criada por um novo trabalho da dupla e devolveram em troca um absurdo CD duplo de rap lotado de psicodelia, soul, rock indie e free jazz. E poesia.

"Speakerboxxx/Love Below" entrou em primeiro na "Billboard", bateu a marca de um milhão de cópias vendidas em três semanas (é um disco duplo, veja bem) e botou o grupo na liderança das indicações ao próximo Grammy, com seis menções, e deu ao mundo o explosivo hit "Hey Ya!".

Mas chacoalhar o hip hop, estourar em vendas, bombar no Grammy, chapar nas paradas e compor um dos singles de 2003 não é o suficiente para acabar com o mau humor de Andre 3000, como você pode conferir em rara entrevista cedida à Folha por telefone, de Los Angeles.

Folha - O Outkast talvez seja o principal nome do hip hop americano, mas você vem dizendo que esse mesmo hip hop está morto. O que acontece?

Andre 3000 -
Eu também gostaria de saber o que acontece. Eu me sinto desestimulado para fazer hip hop hoje. Eu não vejo mais graça no movimento desde 96, 97. O hip hop não tem mais para onde ir, acredito. Existem grandes músicas, grandes caras produzindo. O problema é que não dá mais para acreditar nele. É tudo muito falso. Não dá para acreditar em uma arte movida pelo dinheiro. Pelo menos eu não acredito mais.

Folha - Quando o "Speakerboxxx/Love Below" foi lançado, as críticas do disco foram excessivamente elogiosas, mesmo por gente que assumia que não tinha "entendido" o disco. O que você achou das coisas que foram faladas sobre o álbum?

Andre 3000 -
Eu não sei como responder essa questão, "man". A crítica mais gratificante que eu li sobre o CD, pelo menos na parte em que sou responsável ("Love Below"), foi de um cara que falou que eu quero parecer o Prince. Não sei se ele acha isso bom ou ruim, mas eu quero mesmo parecer o Prince.

Folha - Foi esse desapontamento contra o hip hop que o fez decidir não fazer shows para mostrar ao vivo as músicas de "Speakerboxxx/ Love Below"?

Andre 3000 -
É isso. O álbum está nas lojas e é isso. Agora quero ir atrás de coisas novas. Preciso encontrar novas motivações, resgatar aquele amor que eu tinha em compor. Big Boi vai excursionar com o novo CD. Ele adora contato com o público.

Folha - Qual é a idéia por trás de "Speakerboxxx/Love Below"? Por que ele foi feito separadamente?

Andre 3000 -
"Love Below" ia ser originalmente um disco solo que eu ia lançar. Estávamos dando um tempo do Outkast e fazendo cada um seu trabalho. Na hora em que nos reunimos para ver o que íamos fazer como Outkast, para apresentarmos para a gravadora, eu mostrei o "Love Below" e disse que essa era a minha parte. Falei para o Big Boi fazer um dele, para lançarmos como álbum duplo. Ele gostou da idéia e fez o "Speakerboxxx".

Folha - Isso sinaliza que o Outkast acabou, vai acabar ou agora é uma banda de duas partes?

Andre 3000 -
O Outkast será sempre uma banda de dois. É que há momentos que nós nos separamos, porque temos trabalhos paralelos importantes para fazer.

Folha - Um chegou a dar palpite no trabalho do outro, ter alguma participação? Afinal, o Outkast é uma banda de dois...

Andre 3000 -
Os discos foram feitos praticamente ao mesmo tempo. Quer dizer, o "Love Below" não estava completo quando eu o apresentei. Não tinha os vocais, eu mexi em algumas coisas. Big Boi fez "Speakerboxxx" muito rápido. Claro, eu dei minhas opiniões sobre alguns andamentos no disco dele, ele fez o mesmo no meu. Inclusive eu produzi algumas músicas no "Speakerboxxx".

A princípio, quando fiz o "Love Below", ele serviria de trilha sonora para um filme em vídeo que eu estava dirigindo. Vou retomar esse projeto agora, um dos motivos também porque eu não quero sair em turnê. E agora acabamos de acertar uma produção para a HBO, um filme que vai se chamar "Speakerboxxx".

Folha - Você gostou do resultado final do disco do Big Boi?

Andre 3000 -
Claro, achei fantástico. Ele conseguiu dar um passo a frente no que vínhamos fazendo. "Speakerboxxx" tem um balanço de enlouquecer.

Folha - Se você não se satisfaz mais com o hip hop, tem algum tipo de música que o agrada?

Andre 3000 -
Eu gosto de muitas coisas. De tecno a punk. Adoraria saber tocar guitarra. Gosto dessas bandas jovens como os Strokes. Recentemente fui a um show deles e levei meu DJ, que nunca tinha visto uma apresentação de rock na vida. Ele amou os Strokes. Uma das coisas que eu me vejo fazendo, no futuro, é subir no palco com uma banda cheia de músicos.

Folha - Você já teve algum contato com algum tipo de música brasileira como o funk ou o rap?

Andre 3000 -
Ouvi funk brasileiro uma vez. O Brasil é o tipo do país em que imagino que deva haver muito funk. Sobre o rap, nunca ouvi nada a respeito. É bom?
 

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