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24/12/2003 - 08h23

Programa "A Diarista" aborda boa idéia sem chegar lá

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ESTHER HAMBURGER
Especial para a Folha de S.Paulo

Em tempos de crise financeira, à espera de mudanças que viabilizem a retomada de uma TV de qualidade, as emissoras oferecem um final de ano com vários testes, estréias e especiais.

"A Diarista" é um desses balões de ensaio. O programa, sobre as desventuras de Marinete (Cláudia Rodrigues), uma empregada doméstica histérica, originalmente pensado para quadro semanal do "Fantástico", foi ao ar no último domingo, no formato inusual de 30 minutos, às onze da noite.

Com roteiro de Glória Perez e direção de José Alvarenga Jr. ("Os Normais"), "A Diarista" lida com uma das principais instituições brasileiras. De sua posição subalterna na pirâmide social, a doméstica compartilha a intimidade dos patrões. Seu olhar penetra os meandros das relações privadas.

Marinete encarna um tipo avançado de empregada: aquela que não dorme no trabalho. Em busca de alguma autonomia, ela combina o serviço de faxina com o de sacoleira. E circula adoidada.

O ponto de vista de Marinete poderia ser hilário, ou crítico. Mas "A Diarista" não chega lá. O tom, de um realismo cru, de figurino e cenário, segura os raros vôos do roteiro e direção. A interpretação carregada da atriz não colabora. Falta a Marinete um pouco da ironia de Darlene, a manicure de meias listradas, que sonha com a celebridade na novela das oito. Presa do humor convencional do "Zorra Total", Cláudia Rodrigues vomita seus vários monólogos com tanta intensidade que às vezes é difícil entender o texto.

A intervenção indiscreta de Marinete é tanto capaz de causar separações quanto de estimular romances. Tarimbada, vítima do mau humor de patrões frustrados, ou da generosidade de patroas traídas, não se abala. Mantém a defesa de seus interesses.

No Brasil, empregadas domésticas mantêm suas próprias empregadas. A instituição do serviço doméstico está no cerne do equilíbrio social. Sem ela, o país corre o risco de vir abaixo. Sem empregadas, muitas mulheres não poderiam trabalhar fora; muitos homens não segurariam a infra-estrutura básica. O tema é tão estratégico que permanece tabu no universo da ficção nacional. A idéia pode render, se encontrar o formato e o tom adequados.

Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
 

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