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02/01/2004 - 09h07

House ganha status de "gente grande" no Brasil

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CLAUDIA ASSEF
free-lance para a Folha de S.Paulo, do Rio

O inglês Luke Solomon terminou seu set na festa Freak Boat, último top evento de house de 2003, com um sorrisão no rosto. No olhar, tinha um aparente ar de deslumbramento.

O gringo se apresentara diante de 200 pessoas, num set que durou quase três horas. Detalhe: em plena segundona, a festa aconteceu num iate convertido em clube (com pista, bar e até área de chill-out) que, durante seis horas, navegou pela baía de Guanabara, no Rio, com um visual de cartão-postal emoldurando tudo.

Além de Solomon, dois nomes fundamentais da nova house brasileira tocaram no barco, Renato Ratier, 31, DJ e dono do clube D-Edge, e Jonas Rocha, 29.

A Freak Boat fechou com louvor --e muitas palmas na hora do pôr-do-sol-- o ano da virada da house no Brasil. O gênero criado no final dos anos 70 nos EUA ganhou finalmente em 2003 status de "gente grande" na cena de dance music do país.

Nesta que foi sua segunda passagem pelo Brasil --ambas em 2003--, Solomon concluiu que a cena de house daqui está entre as mais divertidas do planeta. "A pista brasileira vibra como poucas, e os DJs são realmente de alto nível", disse logo depois de sair dos toca-discos, ainda enxugando o rosto esturricado pelo sol.

Vindo de quem vem, a frase é um baita elogio. Além de ser um top DJ, Solomon comanda, com Derrick Carter, espécie de deus americano do movimento, o selo Classic, celeiro de talentos como Greens Keepers, Blaze, DJ Sneak, Brett Johnson, Rob Mello...

A paixonite de Solomon pela cena houseira do Brasil contagiou seu sócio. Animado com a possibilidade de tocar num país cuja cena é "jovem e vigorosa", Carter topou finalmente se apresentar aqui. O evento promete ser um dos filés de 2004 e está acertado para o próximo Skol Beats.

Se tivesse vindo ao Brasil em 2001/2002, certamente a empolgação de Solomon teria sido bem menor. É injusto dizer que o Brasil não tinha ótimos DJs de house --estão aí há bastante tempo talentos como Luiz Pareto, Gil Barbara, Marcão Morcerf, Anderson Soares, Maurício UM, Gabo, Robinho, Felipe Venancio, Markinhos Meskita, Mimi... Mas lugar para tocar que é bom, vai-e-vem de DJs estrangeiros, grandes festas fixas... isso não tinha mesmo.

Claro que o novo fôlego da cena de house não brotou de um copinho com algodão molhado. Alguns fatores foram fundamentais para que a plantinha houseira crescesse forte:

FATOR RIO

Em 2000, os DJs Jonas Rocha e Gustavo Tatá criaram no Rio a festa Deluxe, que virou ponto de encontro de DJs e houseiros da cidade. A noite encorajou outros DJs a apostarem na house. "O astral do Rio tem tudo a ver com a house", diz Jonas Rocha. A partir dali, uma leva de DJs cariocas (Gustavo MM, Guilherminho, Mimi, Markinhos Meskita, RM2 e os próprios Rocha e Tatá) começou a circular tocando em festas pelo país. Hoje, a festa Playground, que acontece no 00, na Gávea, é um hit que une patricinhas, globais e o povo da música eletrônica da cidade.

FATOR RATIER

Também em 2000, o então DJ iniciante Renato Ratier montou um clube em sua cidade natal, Campo Grande. O D-Edge trazia uma festa semanal de house, numa cidade tradicionalmente divida entre o sertanejo e um pequeno clã de tecno pesado. Ratier começou a "importar" DJs de house de outras cidades, além de abrir espaço para talentos locais como André X e Renan. Ao inaugurar uma filial do clube em São Paulo, no início de 2003, Ratier se tornou um "fator" dentro da cena. Com ele próprio tocando (e bem) na noite Freak Chic, ao lado dos residentes Morcerf e Pareto, Ratier trouxe uma opção para os órfãos da house em São Paulo. Pela primeira vez um clube investiu na vinda de houseiros gringos. Em 2003, a média foi uma atração por mês --passaram por lá DJs de primeira linha, como Heather, Solomon, James Curd, Kenny Hawkes, Diz Washington...

FATOR BOOTLEG

Em 2003, nenhum outro estilo musical foi tão inclusivo quanto a house. O hip hop esteve em alta? A house abraçou o gênero, dando origem à hip house. O rock fez a cabeça de muitos? OK, projetos como Audiobullys incorporaram guitarras às batidas houseiras. E, se o jazz é tão lindo, por que não fundir com a house? Foi o que fizeram os Greens Keepers.

E o electro, claro, não ficou de fora. Está aí o Metro Area que não me deixa mentir. E já que a mistura é para lá de bem-vinda na house, caiu como uma luva a moda dos bootlegs (junção de duas faixas conhecidas criando uma terceira música). E dá-lhe versões malucas de hits antigos, músicas famosas viradas do avesso, remixes e mais remixes. O pop (de Justin Timberlake a Missy Elliott) trouxe sorrisos às pistas eletrônicas em 2003. E que delícia que foi voltar a ouvir "o baile todo" cantando os refrães, não?

FATOR BH

Robinho é o cara. Apesar de ter começado na mesma época do conterrâneo Anderson Noise, o DJ preferiu ficar em cidade natal. Hoje comanda a 69, festona de house no clube Josefine, às sextas. Outro nome que desponta forte na cena de house de BH é o do DJ Felipe Forattini, responsável pela ótima noite itinerante Remédio.

FATOR FESTAS GUERREIRAS

Mesmo quando só se falava em tecno e d'n'b no país, alguns DJs resolveram botar fichas na house. Assim, nasceram festas como a Colors, dos irmãos Wander A e Wagner J, que começou pequenininha num bar e hoje é sucesso no Supperclub. Outra que entrou para a história recente da house foi a React, organizada pelo DJ Mimi. A festa acontecia em plena rua --de graça-- em São Miguel Paulista e chegou a reunir milhares de pessoas.
 

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