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18/05/2008 - 02h30

Restrição a tatuagens estimula soluções extremas entre candidatos à PM

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RAPHAEL GOMIDE
da Folha de S.Paulo, no Rio

Aelson tinha três tatuagens, duas em homenagem aos filhos: uma tomava o antebraço direito, com o nome de Yasmim; o rosto de Patrick estava desenhado em seu bíceps. No primeiro dia, pensou em desistir do concurso porque não teria tempo para apagá-las a laser, a R$ 2.000 cada. Estava inconsolável. No Corpo de Fuzileiros Navais, onde servira, nunca teve problema.

"Disseram que não pode aparecer nada, nem com uniforme de educação física. Aí não dá, vou desistir. Não posso gastar R$ 6.000 sem saber se vou entrar. As sessões de laser precisam ter intervalo. O edital é malfeito", reclamou.

Porém, com ataduras e a pele em carne viva, reapareceu no exame psicotécnico. Sorrindo, contou-me que um médico de Caxias cobrara R$ 600 para raspar, com lixa, as tatuagens. Semanas depois, o candidato que o acompanhou ainda tomava antiinflamatórios e antibióticos após raspar duas. "É uma semana sem dormir direito, muita dor." Contou que o ex-fuzileiro fora reprovado no psicotécnico. "Chorou e tudo, ficou 'boladão'. O cara apagou a tatuagem dos filhos."

Em carne viva

Não foi o único. Outro rapaz, com 321 pontos de cirurgia por conta dos desenhos na pele, foi barrado na pesquisa social. Um candidato queimou a tatuagem com um bisturi, deixando um enorme machucado no braço direito, envolvido por uma atadura. "Olha só, fiz há uma semana e quase já levanto o braço", gabava-se, destapando a ferida aberta.

Na seleção, muitos tinham os braços em carne viva ou ostentavam vultosos quelóides. "Depois melhora?", pergunto. "Que nada! É daqui para pior! Foram quatro sessões de laser e duas cirurgias. Gastei R$ 2.000. Na segunda, deram mais de 20 anestesias, mas não pegava porque foi logo após a primeira e estava muito sensível. Desmaiei de dor na mesa de operações. Tirou tanta pele que atingiu o tecido nervoso. Urrava de dor quando ficava arrepiado, lágrima nos olhos. Depois da segunda cirurgia, pensei: 'Não faço mais nada: se não entrar, não entrei.' Se fizer de novo, perco o braço", disse ele, irmão de PMs.

No exame médico, o sangue escorreu quando removeu a bandagem do braço. "O médico perguntou como eu faria o exame físico. Falei que era só ele liberar que eu dava um jeito. Ele liberou."

Depois, o cabo reclamou, para seu desespero. "Tá com cor ainda..." O subtenente, conhecido do irmão, o defendeu. "Tu é médico? Tu é médico? O cara passou na junta médica e você vai reprovar?", questionou.

Apesar do rigor e do edital, um reprovado no concurso de 2005, por causa de quatro tatuagens, entrou e ficou no meu pelotão, após decisão judicial.

 

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