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06/01/2004 - 04h29

Dicionário viaja ao passado dos sefaradis

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MÁRVIO DOS ANJOS
da Folha de S.Paulo

Os brasileiros ganharam recentemente uma luxuosa ferramenta para conhecer suas origens. O "Dicionário Sefaradi de Sobrenomes", compilado por Guilherme Faiguenboim, Paulo Valadares e Anna Rosa Campagnano, traça as rotas que 17 mil sobrenomes de sefarditas (judeus da península Ibérica) e judeus cristianizados percorreram no mundo.

O dicionário bilíngue é fruto de uma pesquisa que começou em 1995. "No início, calculamos que a obra reuniria no máximo mil nomes sefaradis. Em 2002, esse número já ultrapassara os 16 mil, isso após termos eliminado cerca de 25 mil nomes que apresentavam erros ortográficos ou por não serem realmente sefaradis", afirma Guilherme Faiguenboim, genealogista que cuidou da parte etimológica, na introdução do dicionário. "De cada três nomes coletados, só restou um ao final."

Faiguenboim contou à Folha, por telefone, que o trabalho iniciou-se com todos os três fazendo de tudo um pouco. "Depois, nós entendemos que o melhor seria dividir as tarefas. Anna Rosa [Campagnano] foi encarregada do levantamento de fontes, o Paulo [Valadares] comprovava a exatidão e a seriedade das fontes e inseria as informações no computador. Depois eu as sistematizava em forma de dicionário", diz.

O trabalho foi inspirado no "Dictionary of Jewish Surnames from the Russian Empire" (Dicionário de Sobrenomes Judeus do Império Russo), de Alexander Beider, que pela primeira vez deu um caráter científico ao estudo, em 1993. Era dedicado apenas aos sobrenomes dos chamados ashkenazim, os judeus residentes no Leste Europeu.

Além disso, outro grande incentivo foi o genuíno interesse de brasileiros sobre as origens de seus nomes de família, fato constatado pela Sociedade Genealógica Judaica do Brasil, da qual Faiguenboim é membro fundador.

"Desde sua fundação, em 1994, a sociedade tem feito pesquisas publicadas em seu jornal 'Gerações/Brasil', e passou a receber cartas e e-mails de brasileiros não-judeus sobre suas origens sefaradis", escreve Faiguenboim.

Muitos desses nomes são absurdamente comuns no Brasil, como Silva, Souza, Cardoso e Oliveira. Embora alguns, como os derivados de nomes de animais e árvores, não sejam exatamente uma novidade, é bem possível que o dicionário revele origens desconhecidas a portadores de alguns sobrenomes de cristãos-novos.

Descobertas que podem provocar reações inesperadas, como a relatada pelo diplomata brasileiro Márcio Souza no prefácio do dicionário. Conversando sobre a origem do sobrenome Bentes --do qual descende-- com um primo de seu pai, Souza ouviu dele que o nome seria de uma família de confederados do sul dos Estados Unidos, que teriam se refugiado no Baixo Amazonas após a Guerra de Secessão. Após explicar-lhe que a origem era judaica, Souza conta que o primo levantou-se da mesa. "E rompeu comigo para sempre", conclui.

Apesar disso, Faiguenboim explica que nem todo portador de sobrenome incluído no dicionário deve se considerar judeu. "Mas, se a pessoa se reconhece como judia, o nome dele obrigatoriamente estará ali."

Divisão

O "Dicionário Sefaradi de Sobrenomes" se divide em três partes. A primeira é uma introdução histórica, escrita por Reuven Faingold, doutor em história pela Universidade Hebraica de Jerusalém, que explica a trajetória dos sefaradis da Antiguidade até a expulsão da Península Ibérica. Na Espanha, a expulsão (e a pena de morte, em caso de desobediência) se deu por ordem dos reis católicos Fernando e Isabel, em 1492, como punição aos costumes judaizantes dos cristãos-novos.

Em Portugal, essa expulsão, que começou em 1497, se estendeu por anos e anos e, enquanto não se concretizava, foi entremeada por tentativas de catequização e ataques sangrentos a cidadãos judeus, culminando com uma inquisição instaurada em 1536.

A segunda parte, escrita pelo historiador Paulo Valadares, trata da dispersão sefaradi, dos éditos de expulsão até o século 20. As introduções históricas mostram a importância dos judeus na cultura e na economia ibéricas. "Eles se consideravam ibéricos, estavam lá havia 15 séculos até serem expulsos", afirma Faiguenboim.

A terceira é o dicionário propriamente dito, precedido por uma explicação sobre a origem dos nomes. Em cada verbete, pode-se saber onde foram achadas as primeiras referências à família e o trajeto do nome pelo mundo e até personalidades dessa família.

DICIONÁRIO SEFARADI DE SOBRENOMES
Organização:
Guilherme Faiguenboim, Ana Rosa Campagnano e Paulo Valadares
Lançamento: Fraiha
Patrocinador: Sistema Anglo de Ensino
Quanto: R$ 150 (528 págs.)

Leia mais
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