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09/01/2004
-
23h56
ROGÉRIO SGANZERLA
especial para a Folha
Só o cinema pode ser uma janela enriquecedora sob o mundo, sobretudo se tiver uma função científica, criativa e útil sem ser puramente didática. Todos os maus filmes já foram feitos (faltam os inacabados) e não existe história que já não tenha sido contada sobre a questão cultural.
Um grande artista é convidado pelo presidente e agora mesmo o que acontece? Comparece imediatamente a birra de certa burocracia acadêmica que diminui a questão (aparentemente insolúvel entre nós; sem continuidade) que vai do lírico ao cômico, do didático ao satírico, atingindo parâmetros pessoais, claro.
Quanto aos artistas, sofrem todo tipo de dificuldades. Apenas uma minoria deita e rola; e sobre aqueles recai sempre a exigência burocrática e a intermediação, acabando por constituir o apoio oficial em disfunção. Ao contrário dos que se sentem melindrados por aquele abraço.
Espero de Gil uma planificação efetiva da questão criativa feita por olhos e ouvidos livres, assegurando ao cinema a garantia de sua verdadeira natureza musical; cinema é ciência, técnica: ritmo e movimento, gesto e continuidade. No caso, a tela diz tudo-cinema, pois é um ofício quase artesanal que permite realizar tudo.
Mesmo o que parece impossível: projetos à altura da nossa realidade social, realizando verdadeiras comédias sobre a fome, sem dever nada a ninguém e conferindo aparência aos mais quiméricos sonhos. Para tanto, planeja a produção... Não só melodrama e novelão. Isso não sou eu quem diz, mas George Méliès, há um século, quando faziam tudo com nada, usando imaginação a serviço da criatividade.
E hoje? Todos os maus filmes já foram feitos. Há enorme desperdício e déficit cultural no modus operandi de certas comissões, por exemplo, que não valorizam projetos, mas legislam em causa própria.
Ao contrário dos modelos da moda, é preciso valorizar a figura do realizador independente sobretudo do diretor capazes de auferir divisas culturais e econômicas. Poucos saberão oxigenar a geléia irreal tão bem como Gil com a eficiência de seu canto. Tarefa espinhosa, mas necessária: voltar às raízes sem provincianismos, máfias e exclusões. Necessário reeducar nossas panelas globais (nosso cinema é quase uma ode ao esquecimento, é preciso mudar muito) todos seremos testemunhas.
Texto de Rogério Sganzerla para a Folha, escrito em 2002, após a indicação de Gilberto Gil ao Ministério da Cultura
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Só o cinema pode ser uma janela enriquecedora sob o mundo, sobretudo se tiver uma função científica, criativa e útil sem ser puramente didática. Todos os maus filmes já foram feitos (faltam os inacabados) e não existe história que já não tenha sido contada sobre a questão cultural.
Um grande artista é convidado pelo presidente e agora mesmo o que acontece? Comparece imediatamente a birra de certa burocracia acadêmica que diminui a questão (aparentemente insolúvel entre nós; sem continuidade) que vai do lírico ao cômico, do didático ao satírico, atingindo parâmetros pessoais, claro.
Quanto aos artistas, sofrem todo tipo de dificuldades. Apenas uma minoria deita e rola; e sobre aqueles recai sempre a exigência burocrática e a intermediação, acabando por constituir o apoio oficial em disfunção. Ao contrário dos que se sentem melindrados por aquele abraço.
Espero de Gil uma planificação efetiva da questão criativa feita por olhos e ouvidos livres, assegurando ao cinema a garantia de sua verdadeira natureza musical; cinema é ciência, técnica: ritmo e movimento, gesto e continuidade. No caso, a tela diz tudo-cinema, pois é um ofício quase artesanal que permite realizar tudo.
Mesmo o que parece impossível: projetos à altura da nossa realidade social, realizando verdadeiras comédias sobre a fome, sem dever nada a ninguém e conferindo aparência aos mais quiméricos sonhos. Para tanto, planeja a produção... Não só melodrama e novelão. Isso não sou eu quem diz, mas George Méliès, há um século, quando faziam tudo com nada, usando imaginação a serviço da criatividade.
E hoje? Todos os maus filmes já foram feitos. Há enorme desperdício e déficit cultural no modus operandi de certas comissões, por exemplo, que não valorizam projetos, mas legislam em causa própria.
Ao contrário dos modelos da moda, é preciso valorizar a figura do realizador independente sobretudo do diretor capazes de auferir divisas culturais e econômicas. Poucos saberão oxigenar a geléia irreal tão bem como Gil com a eficiência de seu canto. Tarefa espinhosa, mas necessária: voltar às raízes sem provincianismos, máfias e exclusões. Necessário reeducar nossas panelas globais (nosso cinema é quase uma ode ao esquecimento, é preciso mudar muito) todos seremos testemunhas.
Texto de Rogério Sganzerla para a Folha, escrito em 2002, após a indicação de Gilberto Gil ao Ministério da Cultura
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